sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A falta de cinemas na Gafanha da Nazaré

Ao ler o artigo do meu amigo Fernando Martins (FM) sobre o lançamento do CD de Jacinta e o facto de não existir na Gafanha da Nazaré um espaço onde se possa ver cinema trouxe-me à memória vários episódios que devem pôr FM e os seus leitores de sobreaviso.

Nos meus tempos de Coimbra existiam na cidade quatro salas de cinema e todas elas concorriam entre si e raro era o fim-de-semana em que as salas não estavam esgotadas. Isto, é claro, porque não existia a televisão e mesmo no início tudo decorria com normalidade.

Em Aveiro havia quatro salas também sempre com boa frequência e em Ílhavo havia um cinema que, segundo os naturais da época, dava para as despesas, além de cinema no Illiabum Club.

O mundo não pára e, em Coimbra, neste momento, das quatro salas, só existe uma, além, é claro, das salas dos Centros Comerciais, que pertencem a grupos privados internacionais. O mesmo acontece em Aveiro, e em Ílhavo acabaram, à excepção de, recentemente, existir cinema no CCI, com filmes que estão actualmente no circuito comercial.

Mas, segundo FM, devia ser a iniciativa privada a dinamizar um cinema na Gafanha da Nazaré. Desculpa, amigo, mas é pura demagogia e isto porque, quem é o empresário que investe para perder dinheiro? Ou será que passados uns dias estaria a pedir subsídio à Câmara, porque estava a prestar um serviço público como algumas instituições privadas têm feito?

Aveiro com dois espaços onde existem várias salas, com sessões em que não há ninguém nas salas. Em Ílhavo, e segundo a minha observação, em média são 10 a 20 espectadores por sessão e, volto a repetir, em filmes actuais.

Estas observações fazem-me lembrar um responsável partidário do Concelho que um dia me diz: Não vou e não aconselho ninguém a ir a manifestações sejam quais forem, que, de alguma forma, possam aumentar a estatística de realizações do actual executivo camarário. E, FM, não é que é mesmo verdade!

Sou visitante do Museu de Ílhavo, da Biblioteca e do CCI. Pois bem, há gente de Ílhavo que eu conheço que, nestes 12 anos, nunca foi a estes espaço de cultura, mesmo quando há grandes manifestações culturais, acontecendo muitas vezes estar mais gente de fora do que residentes na cidade.

Como podem os privados ganhar dinheiro com a cultura?

Aproveito para te sugerir que publicites no teu blogue os filmes que decorrem no CCI. É uma forma de contribuíres, ou melhor, de continuares a contribuir para a cultura desta região que, por vezes, é tão maltratada pelos seus “naturais”.

C. Duarte

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A minha resposta

Meu caro Carlos Duarte

Não queiras, por favor, retirar-me a capacidade e o direito de sonhar e de acreditar que os privados também podem e devem investir na cultura, sem pensarem sempre no (malfadado) lucro. Estás a pensar, se calhar, nos pobres privados que mal ganham para comer. Há por aí empresários com muita capacidade, que bem podiam tornar-se nuns mecenas. Mas se não houver, paciência… Pode ser que um dia isso possa acontecer. Sobretudo se por algum passar um raio luminoso e inspirador de valores mais altos, para além da conta no banco.

O cinema é uma extraordinária fonte de cultura, considerada até a sétima arte. Nessa linha, por exemplo, seria interessante que o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré passasse a oferecer cinema de qualidade algumas vezes por mês.

Afinal, as muitas salas de cinema dos centros comerciais, onde tenho ido, ainda não fecharam, apesar de terem sessões com apenas meia dúzia de pessoas. E se assim é, temos de crer que é possível haver cinema para quem quiser, com regularidade. Aliás, disseste que a concorrência, em Coimbra, ajudou a encher salas aos fins-de-semana. Em Ílhavo, como não havia concorrência e a sala não era grande coisa, teve logicamente de fechar.

Acredito que toda a actividade, cultural ou outra, pode sobreviver com projectos concebidos e desenvolvidos com apoio de especialistas, à altura de criarem estruturas rendíveis. Não sou eu nem tu, certamente, que vamos pensar em projectos económico-culturais, mas não posso deixar de imaginar que outros o possam fazer. O cinema de hoje não precisa de salas grandes e de despesas incomportáveis, penso eu. E podiam, com sentido de oportunidade, ser aproveitados espaços polivalentes e funcionais, abertos a várias vertentes artísticas e com promotores à altura. Como está a acontecer com bastantes Centros Culturais do país. Tal como em Ílhavo. E neste caso, ainda não ouvi a nossa autarquia a queixar-se com falta de clientes da cultura. O cinema, sozinho, não será economicamente atraente para os empresários. Mas não seria viável associar um conjunto de artes compatíveis, de forma a que o prejuízo de umas fosse coberto pelo lucro de outras?

Sobre a participação do povo nos espectáculos, concordo que não está muito bem. Há gente que prefere ficar pelos cafés e em casa a ver a triste televisão que temos; há gente que gosta mais de frequentar bares, à noite, para beber uns copos (direito, lógico, que lhes assiste), do que ir ao cinema. Há quem prefira ler e escrever, pintar ou ouvir música. Neste momento, por sinal, estou a ouvir a Antena Dois… É quase meia-noite. Mas se o cinema ainda mantém o seu mistério e a sua actualidade, que a todos fascinam, então podemos e devemos sonhar, coisa que não faz mal a ninguém. Eu, pelo menos, continuarei a sonhar, porque o sonho, tenho a certeza, comanda a vida, como diz o poeta.

Quanto às divulgações que faço, daquilo que considero importante, cá continuarei, apesar de não ter muito tempo para isso. Se calhar, talvez devesse sair um pouco mais de casa, para ir ao cinema. Pode ser que amanhã o faça, se houver filme que me cative. Em Aveiro, claro, porque na cidade da Gafanha da Nazaré não há salas de cinema.

Um abraço, sem demagogias

Fernando Martins



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