sábado, 19 de setembro de 2009

Um livro-filho de Senos da Fonseca


No momento dos autógrafos
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Saudades de mim menino

 
Ai barcas, ai barcas
Tão triste é vosso negror,
Por onde ides navegar?
Que espreita
O olho que levais na proa?
Ai amores, ai amores
Da ria amada.
Ai amores do verde pino…
Ai saudades de mim, menino
Levai-me em vosso vagar.

(S.F.)
Costa-Nova-do-Prado
 200 Anos de História e Tradição

 
Costa-Nova-do-Prado – 200 Anos de História e Tradição é o mais recente livro de Senos da Fonseca. Trata-se de um livro-filho, como salientou Zita Leal, que fez a apresentação da obra, hoje à tarde, na Calçada Arrais Ançã, naquela praia.
É na Costa Nova que Senos da Fonseca recupera dos seus trabalhos e inquietações, deixando-se inebriar pelo “azul único” reflectido na ria e pelo “farfalho da marola branca que lhe bate à porta”.
Reconhece que a ria, tal como ele, “anda inquietada”, mas tem vida dentro de si própria, alimentando garantias de que continuará a viver, para que nós e os outros que hão-de vir possamos “admirar esta paisagem”.
O autor adiantou que foi aqui que “as pessoas tomaram consciência de que era necessário procurar outros locais, por esse litoral fora”, sendo certo que os ílhavos foram sempre diferentes das pessoas das comunidades onde se inseriram. Na Nazaré, na Cova [Figueira da Foz], em Peniche e em Olhão ainda se fala da “cultura ilhavense que não se deixou subverter” pelas culturas que encontrou.
Ao olhar para a identidade dos ilhavenses, conotada com hábitos e formas de estar na vida trazidos pela burguesia, o autor recordou figuras gradas da cultura e da política que na Costa Nova visitaram José Estêvão e mais tarde seu filho Luís de Magalhães, levando os jornais a falar desta terra com enlevo.
Evocou a “geração de ouro”, dos finais do século XIX e princípios do século XX, com figuras de expressão nacional, “que Ílhavo tenta esquecer a todo o custo”. “É isso que me dói”, afirmou Senos da Fonseca, garantindo que por essa razão, entre outras, escreveu este livro, incitado pelo Clube de Vela da Costa Nova, para quem havia alinhavado uns textos e juntado umas fotografias, para comemorar os 25 anos da sua existência.
E explicou: “Esquecemos Alexandre da Conceição, no meio de uma pedra em Viseu; nunca mais lá fomos buscá-lo, ele que foi um dos maiores poetas do século XIX; esquecemos Trindade Salgueiro, com as suas duas facetas: era um senhor da Igreja, havendo muito poucos que atingiram o seu nível; e esteve ligado a um Tenreiro do antigo regime.”
Denunciou que há figuras ilhavenses que têm sido assumidas por Aveiro, como Mário Sacramento e Rocha Madail, e disse que, “amanhã, Cândido Teles também será um aveirense”. Esquecidos  têm sido Fernando Magano e João Carlos, este com obras “num pardieiro qualquer”.
Euclides Vaz, um dos maiores escultores do nosso país, talvez  por ter a sua ética política em sintonia “com um partido que continua a ser incómodo para alguns, nem uma ruela tem em Ílhavo”, ele que foi “um monstro sagrado da escultura portuguesa”.
Não temos vergonha de ignorar Filinto Elísio, filho de Maria Manuel e de Manuel Simões, que eram de Ílhavo e foram para Lisboa. “Até à sua época, só havia dois grandes escritores que o tinham suplantado: Camões e António Vieira.”
Enquanto Zita Leal foi apresentando a obra, realçando o que mais a tinha impressionado, João Manuel da Madalena interpretou algumas canções e Jorge Neves disse poemas. A Rádio Faneca (de que falarei um dia destes), ao vivo, levou-nos a reviver os tempos, de meados do século passado até 1998, em que apresentava música e publicidade, com discos pedidos à mistura, em Ilhavo, aos domingos, e na Costa Nova, na época balnear.
O produto da venda do livro reverterá, na íntegra, para o CASCI, instituição fundada por Maria José Fonseca, que faleceu em Novembro de 2007. O seu cargo foi então ocupado por  seu irmão, João Senos da Fonseca, autor da obra apresentada.
Sobre o livro, que ainda não li, hei-de escrever em breve.

Fernando Martins

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