Com estes projectos aprendemos
a ver a vida com outros olhos
Visitámos o Centro Social de Santo António, em Quiaios, onde funciona a Colónia de Férias da Cáritas Diocesana de Coimbra, numa tarde dos fins de Agosto, com sol e uma pequena brisa que vinha do mar. Alguns jovens confraternizavam em zona de recreio do edifício amplo, emoldurado pelo pinhal e campos de jogos que a aquela instituição, com múltiplas valências, preparou para as mais diversas actividades, destinadas a todas as faixas etárias. De Maio a fins de Setembro, toda esta estrutura está voltada para encontros de formação. As Colónias de Férias, para crianças, adolescente, jovens e pessoas com deficiência são organizadas, normalmente, para as férias oficiais do Verão, da Páscoa e do Carnaval.
Jacira Ascensão, educadora social e funcionária da Cáritas Diocesana há mais de 30 anos, que nos acolheu com muita simpatia, informou logo que este Centro Social funciona ainda todo o ano, com diversas acções, destinadas a toda a gente, das paróquias e não só.
Cursos, miniférias, actividades para grupos corais, crismandos e catequese, entre outras, dão vida a esta casa, onde, noutros tempos, decorreram cursos de formação profissional.
As iniciativas tanto podem ser da própria Cáritas, como da diocese, das paróquias e de outras instituições. Ainda há escolas de vários graus de ensino (universidades e secundárias, em especial) que promovem actividades de âmbito cultural, social e até religioso, neste caso ligadas às aulas de Educação Moral e Religiosa Católica.
Filipe, de Montemor-o-Velho, 16 anos, estudante, está na Colónia de Férias (CL) da Cáritas porque a sua mãe o “inscreveu” e veio de “livre vontade”. Aqui conheceu outros rapazes e raparigas, participa em “actividades culturais, passeia, vai para a praia” e também “gosta dos ares do mar que são diferentes dos da sua terá”. Fez muitos amigos e participou em “orientação pedestre”, mas prefere o “bodyboard”, que aprendeu e está a treinar neste Verão. Está agora “à espera de ver o museu do mar”, em Buarcos, “que deve ser interessante”, adiantou.
O Micael também é de Montemor, tem 16 anos, e anda a preparar-se para fazer o 8.º ano, “mas ganha dinheiro a fazer um estágio” profissional. Ainda não sabe que profissão vai ter, mas tem “feito muitos amigos nestas férias”, enquanto procura divertir-se.
Ana, de Tentúgal, gosta dos pastéis da sua terra, mas não sabe fazê-los. “Quem os faz é a minha mãe”, diz. Esta a segunda vez que vem para a CF. “Quando cá estive pela primeira vez, gostei tanto, que fiz tudo para voltar”, referiu.
Gosta de participar em todas as acções, mas fica mais entusiasmada com o “Assalto ao Castelo”, feito à noite. O jogo tem dois grupos: um protege a princesa e o outro ataca para ficar com o castelo e para libertar a princesa. “Prefere atacar porque é mais fácil”, garante. E referiu: “Nesta CF há muita alegria, ouvimos música, cantamos, dançamos, lemos e colaboramos em tarefas variadas.”
Questionada sobre a receptividade dos que passam uma semana em Quiaios, Jacira afirma que, por norma, “os que vêm a primeira vez querem repetir a experiência”. Porquê? Porque “estamos junto ao mar, integrados numa zona florestal, longe de barulhos, perto do centro da freguesia e da Figueira da Foz”. E acrescentou: “Como temos a preocupação de cultivar o gosto pelo ambiente, é possível visitar as Lagoas, pela tranquilidade que elas transmitem e pela beleza que os nenúfares, quando estão abertos, nos oferecem; os amantes da natureza não podem dispensar a paz que ali se respira.
Jacira Ascensão explica ao SOLIDARIEDADE o dia-a-dia no centro. Nesta CF participam dois grupos: um ligado ao projecto Fura Ondas, que envolve os concelhos de Montemor-o-Velho, Condeixa e Soure, e outro da CERCIPOM (de Pombal). Na linha, sublinhou a nossa entrevistada, de “todos iguais; todos diferentes”.
Com Jacira trabalham quatro pessoas, tendo em conta que cada grupo tem os seus próprios monitores. Contudo, também há voluntários nestes projectos de férias, “jovens com mais de 18 anos, que se dispõem a passar uma semana para acompanharem as crianças ou adolescentes. E esclarece: “Sã jovens que já conhecemos e que convidamos, certos de que este serviço é, para todos, muito gratificante; a semana passada, uma moça dizia-me que sentia dúvidas sobre a sua vocação profissional e que neste trabalho, no contacto com as crianças, concluiu que era isto mesmo que queria fazer na vida. Eu própria vi a entrega dela, a dedicação, a capacidade de amar e de estar…”
Ainda acrescentou: “Quando agradecemos aos voluntários as ajudas que nos prestam, muitas vezes a resposta deles é esta: nós é que agradecemos; foi uma forma de parar e nem imagina como isto foi importante para nós; aprendemos a crescer e a ver a vida com outros olhos.”
O Centro Social de Santo António acolhe, cada semana, durante as férias de Verão, 50 crianças e jovens, escalonados por idades, entre os 8 e os 16 anos. São oriundos de várias paróquias de Coimbra, sendo a maioria dos equipamentos da Cáritas Diocesana. Pertencem a todos os quadrantes sociais, mas “necessitados dos ares do mar e de ambientes e situações de formação específicos”. Aqui, cultivam a disciplina e a socialização, enquanto executam tarefas domésticas, convivem e se divertem de forma sadia.
Sobre a experiência de integrar nas CF pessoas com deficiência, Jacira frisou: “A princípio, tivemos algumas dúvidas em aceitar o desafio, com receio de que as coisas não corressem bem, com miúdos cheios de vida e outros em cadeiras de roda, a quem é preciso dar o comer na boca, mas afinal tudo tem corrido lindamente.” E sublinhou: “Claro que tivemos de preparar os jovens, no sentido de os levar a aceitar o outro, tal como ele é. Que nós não somos todos iguais e que é bonito confirmar a riqueza que muitos deles nos transmitem, interpelando-nos sobre a nossa forma de estar na vida. Daí nasceram actividades em conjunto, com os mais autónomos, e isto tudo nos ajuda a crescer em muitos sentidos.”
Questionada sobre se não se sente cansada no fim da temporada, Jacira respondeu-nos, com um sorriso, ”às vezes ao fim do dia! De qualquer forma, para mim, cada dia que começa é um dia, e sinto isso desde que cheguei a este Centro. Hoje estou fresquinha, com a mesma vontade com que aqui cheguei para começar a trabalhar nestes projectos”.
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Fernando Martins