NAVIOS REQUISITADOS
NA I GRANDE GUERRA 1914-1918
Caríssimo/a:
Já aqui falámos do arrastão ELITE, da Parceria Geral de Pescarias, que tinha sido adquirido para a pesca do bacalhau na Terra Nova em 1909. Apesar de participar nas campanhas de 1909 e 1910, não provou bem por razões várias: máquina grande mas pouco potente para puxar as redes; elevado consumo de carvão; a técnica da pesca com a rede estava na mão do mestre de redes; um francês contratado não colaborava com o capitão do arrastão; o pessoal não estava preparado para este tipo de pesca. O navio foi retirado da pesca do bacalhau.
Entretanto deflagrou a I Grande Guerra...
Todos sabemos que «é prática corrente a maioria das Marinhas, mesmo as mais dotadas de meios, em períodos de crise e em casos de hostilidades declaradas, socorrerem-se de navios de comércio, de pesca e até de recreio, para aumentarem os seus efectivos navais pois em tempo de guerra os navios militares nunca são demais».
Como a Alemanha declarou guerra a Portugal, em 9 de Março de 1916, algumas dezenas de navios (26 de comércio, 13 de pesca e 2 de recreio) foram requisitados, artilhados e incorporados na nossa Armada.
O arrastão “ELITE”, (o primeiro arrastão Português destinado à pesca do bacalhau) foi requisitado em 13 de Junho de 1916, passando a ser o N.R.P. “AUGUSTO DE CASTILHO” que teve vários encontros com submarinos alemães:
Em 23 de Março de 1918, navegando do Funchal para Lisboa, comandado pelo Primeiro Tenente Augusto de Almeida Teixeira, comboiando o paquete “LOANDA”, abriu fogo a cerca de 500 metros sobre um submarino inimigo que mergulhou prontamente.
Em 21 de Agosto de 1918, navegando ao largo do Cabo Raso, comandado pelo Primeiro Tenente Fernando de Oliveira Pinto, atacou com tiros de artilharia um submarino alemão de grandes dimensões que desapareceu rapidamente.
No dia 14 de Outubro de 1918, navegando do porto do Funchal para o de Ponta Delgada, comandado pelo Primeiro Tenente José Botelho de Carvalho Araújo, escoltando o paquete “SAN MIGUEL”, da Empresa Insulana de Navegação, o qual, por sua vez, era comandado pelo Capitão da Marinha Mercante Caetano Moniz de Vasconcelos e transportava 206 passageiros e muitas toneladas de carga diversa.
Às primeiras horas da manhã foram os dois navios Portugueses avistados pelo submarino alemão U-139 que tentou atingir o paquete o que só não conseguiu porque o “AUGUSTO DE CASTILHO” se interpôs entre o atacante e o atacado.
No combate desigual, que se seguiu e que incrivelmente se prolongou por mais de duas horas, perdeu a vida o heróico Comandante Carvalho Araújo e mais seis elementos da sua guarnição de 42 homens.
Ora, a nossa geração muito falou da heroicidade do Comandante Carvalho Araújo e alguns ainda se lembrarão duma poesia de Adolfo de Simões Müller (na página 272 da antologia «Portugal Gigante»):
Comboiava o «S. Miguel»
A caminho dos Açores
Um barquinho português
Que fora de pescadores.
Quando os nossos iam quase
Seguros do seu destino,
Surgiu de repente ao longe
Um enorme submarino.
...
Travou-se um longo combate,
Como outro nunca se deu:
Era assim como um gigante
A lutar contra um pigmeu!
Dentro em pouco o nosso barco
Era um monte de madeira,
Tendo dentro um coração
E no topo uma bandeira.
...
Carvalho Araújo expira,
Dizendo com altivez:
- «Morro..» (e mal se ouviu o resto)
«... Como morre um Português!»
O seu corpo lá ficou
Tendo as ondas por coval,
Aquelas ondas que foram
O berço de Portugal...
...
Além do patrulha de alto mar “AUGUSTO DE CASTILHO” perdeu-se nesse período também o caça-minas “ROBERTO IVENS”, anteriormente arrastão da pesca do alto.
Manuel