1. A campanha já vai alta, mas os níveis de reflexão efectiva sobre a Europa continuam muito baixos. A preferência pela intriga também já é elemento característico, como companhia dos vários processos eleitorais. Não se pense que é só em Portugal que ocorre este desvio; a Itália debate-se com a crítica a Berlusconi, a França debruça-se sobre Sarkosy. E parece que quanto mais os cidadãos estão “longe” da Europa ou a entendem só como dadora de subsídios, tanto mais o debate vai arrefecendo uma desejada reflexão ampla e aberta sobre a Europa para o século XXI. É natural que as grandes questões nacionais acabem por ser essa Europa mais perto em que a maturidade cívica tem dificuldades em reconhecer as virtudes e está logo pronta no apontar os defeitos.
2. Mas as lideranças teriam outra obrigação despertadora para os máximos possíveis de ligações entre os cidadãos e os lugares e poderes de decisão. Ao fosso que existe (e que acaba por ser lógico) entre Bruxelas e as comunidades locais e regionais, a elite política parece rendida à insignificância do debate sobre a Europa. Os problemas nacionais, também na conjuntura de crise, acabam por afogar as tentativas de uma reflexão de cidadania europeia. Talvez na actualidade terá sentido perguntar se «é mesmo possível debater a Europa?» Mesmo os que criticam o défice democrático da não realização de referendos sobre questões deste velho continente, a verdade é que o tempo e o modo de suas actuações parecem fazer desta época mais uma oportunidade eleitoral perdida.
3. Já bastava a distância geográfica dos centros de decisão europeia, já seria difícil ao nosso país de limitada intervenção cívica, quanto mais com a generalidade de um género crispado de campanha… Os apelos à não abstenção são esse último apelo a vencer as indiferenças que vão reinando, para mais em acto eleitoral de que não se vê o benefício imediato… Campanha terá de significar mais pedagogia... Cidadania? A faca e o queijo vão ficar na mesma?
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Alexandre Cruz