Favor
Olhando-me ao espelho, devagar,
Vejo as marcas que o tempo foi deixando
Nas rugas que me cercam o olhar brando
Lavado por um pranto por chorar.
Vejo-me de alma aberta, par em par,
E ressaltam desse ar tão venerando,
Alegrias compradas, contrabando,
Quem, por feliz, se quer fazer passar.
Vida, que és repetido recomeço,
Concede-me um favor que não mereço,
E eu te entrego o meu ser hipotecado.
Tomando a esperança por esteio,
Neste mudar de vida o mais que anseio
É viver sem os erros do passado.
Domingos Cardoso