sábado, 4 de abril de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 125

BACALHAU EM DATAS - 15

A PESCA LORMENTE
Caríssimo/a: Pois bem, mais uma vez vamos pedir um “postal ilustrado” ao bom amigo Capitão Valdemar, abrindo, na página 40, o seu livro «Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar» e lemos: «Foi só em finais do século XVIII, mais concretamente em 1789 - ano da Revolução Francesa-, que um capitão francês, de Dieppe, teve a ideia de pôr em prática, mas de forma ampliada, um processo de pesca há muito utilizado pelos pescadores da Mancha (eu diria mesmo utilizado em muitas outras partes do mundo) conhecido pelo nome "linhas lormentes". Resolveu este capitão ligar várias linhas umas às outras, tendo assim uma linha mestra de tamanho considerável; desta linha saíam como raízes subsidiárias, uma série de linhas mais finas, com o comprimento aproximado de uma braça, a terminar numa "mãozinha" onde empatava o anzol. Eram os chamados "estralhos", separados entre si cerca de dois metros, para evitar que se ensarilhassem uns nos outros. Estas linhas de grande comprimento – em número de duas, uma em cada bordo – eram depois estendidas com a ajuda das chalupas, embarcações pesadas e de grande porte. Eram lançadas ao fim da tarde e levantadas ao amanhecer, ficando uma ponta presa a bordo e a outra no fundo, ligada a uma poita de pedra, de onde partia uma outra linha rumo à superfície, a terminar numa bóia de sinalização. O sucesso conseguido com esta experiência foi tal, que esse navio fez nesse ano duas viagens em tempo recorde, completamente carregado. Escusado será dizer que no ano seguinte muitos outros navios vieram já preparados de França para a nova modalidade, com o assentimento entusiasta dos pescadores, que viam no novo método a possibilidade de aumentar consideravelmente os seus ganhos. Claro que o sistema tinha os seus riscos. A manobra diária com embarcações pesadas e de difícil manuseamento, o pouco cuidado que punham no seu trabalho, o facilitar até à imprudência o lançamento das linhas já com mar demasiado agreste, levou a que muitos incidentes começassem a surgir, sendo considerável o número de perdas de vida. E, perante esta situação que todos os anos se repetia, as autoridades viram-se obrigadas a proibir este novo género de pesca. Mas ninguém acatou a ordem. A miragem do lucro, como sempre acontece, sobrepôs-se a tudo, e em pouco tempo, esta nova modalidade com linhas de fundo tinha-se generalizado, sendo praticada por toda a gente. Durante quase noventa anos, a pesca com linhas de fundo manteve-se com poucas alterações de base, verificando-se no entanto um grande progresso na qualidade dos materiais empregados, que ano após ano nunca deixaram de melhorar. A grande revolução nos métodos de pesca empregados ocorreu em 1875, ano em que se fez o primeiro ensaio com "dories", embarcações ligeiras de fundo chato, utilizadas há muito pelos pescadores americanos. As pesadas chalupas de difícil e perigosa manobra, quer no arrear, quer no içar para bordo, viram assim terminado o seu ciclo de utilização diário. Entre os franceses, cada dory era tripulado por dois homens, visto serem ligeiramente maiores que os dories usados pelos portugueses, estes ocupados por um só homem. A pesca era agora feita pelos pescadores isolados nas suas pequenas embarcações, senhores e donos do seu trabalho e do seu destino, ficando o navio fundeado no mesmo sítio durante vários dias, enquanto a abundância de pesca o justificasse. Logo que começasse a fraquejar, a decair, o capitão suspendia a âncora e iam de emposta, termo este que em gíria piscatória significa mudar de poiso, em busca de melhor. A "pesca errante" tinha desaparecido. Esta nova modalidade, conhecida sob vários nomes - linhas dormentes, linhas de fundo ou pesca de trol-, a pouco e pouco posta de parte pelos pescadores franceses, até desaparecer totalmente, viria a desenvolver-se entre nós de uma forma notável. O seu apogeu verificou-se ao longo da década dos anos 50, com a construção de muitas unidades modernas em aço, de grande capacidade de carga e maquinaria propulsora a condizer. E já no dobrar da curva para a segunda metade do século XX, mantinha ainda uma pujança tal, que lhe permitia rivalizar em qualidade e número de navios com a nova frota dos arrastões em expansão, com a qual viria a coexistir até ao último quartel do século. Verificamos assim que enquanto a pesca na costa, praticada pelos franceses, pouco variou ao longo de quatro séculos, a pesca nos bancos teve alguma evolução: foi primeiro "errante", com o navio à deriva, ao sabor das vagas ou do vento; depois, com as "linhas dormentes", largadas com o auxílio das chalupas; e mais tarde com os dories, o navio fundeado, preso a um grosso cabo de sisal ou cânhamo a servir de amarra. Esta visão da frota portuguesa da pesca à linha – a saudosa "White Fleet" - pôde ser contemplada até ao último quartel do século XX, quer na Terra Nova, quer na Gronelândia, altura em que desapareceu.» Imagens que durante séculos encheram o nosso imaginário e foram realidade na vida dos nossos lobos do mar! Manuel

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue