
:
Na Revista LER, de Março, António Barreto aborda a questão dos livros e da leitura. Assim:
António Barreto não poupa nas palavras quando fala de uma das principais bandeiras do governo de José Sócrates: o computador Magalhães. «Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal», considera o sociólogo e presidente da nova Fundação Francisco Manuel dos Santos, em entrevista à revista LER, nas bancas a partir de amanhã. «Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram “cultura livresca”. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa – e noutras partes do mundo – é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.»
Temas da longa conversa com Carlos Vaz Marques foram também as suas primeiras leituras, a «tentação do romance», os novos projectos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, as temporadas em Oxford (onde lê ficção «para a desbunda»), a relação com Portugal a partir da década de 60 («tive alturas em que Portugal me interessava e vivia frustrado por não poder voltar e houve momentos em que era exactamente o contrário e eu não queria nem ouvir falar de Portugal. Cheguei mesmo a pôr a hipótese de me naturalizar suíço») e a radiografia da escola portuguesa: «Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista linguística dos textos, seja pela ideia de que escola tem de ser mais a acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.»