ASSOCIO MUITO O MEU PAI A S. JOSÉ
Celebra-se hoje o Dia do Pai. Também a Igreja celebra S. José. Associo muito o meu pai a S. José. Ambos trabalhadores com responsabilidades familiares. Ambos humildes e dados a um certo e normal silêncio. Ambos conscientes dos seus deveres sociais e religiosos. Ambos crentes num Deus Criador. Ambos disponíveis para enfrentarem dificuldades. Ambos com grande capacidade de sacrifício. E ambos sabiam amar muito.
O meu pai faleceu há bastantes anos. Foi nos idos de 75 do século passado. Inesperadamente. De forma apressada e sem hipótese de cura. Nunca o tinha visto doente. Nunca se queixava de qualquer incómodo que nos levasse a pensar num possível enfarte. Era um homem saudável e até brincava com as nossas fraquezas. Mas a primeira doença que teve foi fatal.
O meu pai foi desde menino um homem de mar, mas não foi um pai ausente. A mãe, que dele nos falava todos os dias, enaltecia os seus sacrifícios e a sua bondade, tornando-o presente em todos os momentos das nossas vidas.
A partida para o mar era muito dolorosa. Quando o dia se aproximava, o silêncio instalava-se em casa. Olhávamos uns para os outros sem palavras. E na hora de nos deixar por uns meses, o embaraço entre todos acentuava-se. Recordo, como se fosse hoje, esse dia triste. Nos meus ouvidos ainda moram os momentos da despedida. Com beijos e palavras de consolação que ele nos oferecia. Eu nunca conseguia articular qualquer frase. Fui nessa altura, como hoje, de emoções que me bloqueavam e bloqueiam a fala.
Assistia, à porta de casa, à partida do autocarro que recolhia pela freguesia os tripulantes. E retenho nos tímpanos, com compreensível vivacidade, o roncar do motor da camioneta. Mesmo depois dela desaparecer dos meus horizontes físicos, aquele som permanecia comigo. Até hoje. Mas no regresso voltava a alegria. Havia prendas canadianas para todos. Abraços, beijos, perguntas, muitas perguntas, e a certeza de que o pai ficaria uns tempos em casa. Punha-se a conversa em dia. Não faltava a visita ao Prior Guerra.
O meu pai oferecia-lhe um pacote de tabaco, daquele que era distribuído pelos pescadores. O Prior Guerra fumava muito e fazia os cigarros com as mortalhas, embrulhando-os, cuidadosamente, para ficarem bem cilíndricos e apertados. Quando o meu pai chegava da visita, dizia: - O senhor Prior agradeceu-me o tabaco e aproveitou para conversarmos um bocado; e no fim até me disse que eu já estava confessado.
Recordo que meu pai costumava sentar-se nas traseiras da casa, em horas de descanso ou de pura contemplação. Eu brincava com o meu único irmão, o Armando, que já foi para junto dele. Tinham o mesmo nome e eram conhecidos pelo mesmo apelido de família: Grilo. Nessas brincadeiras mostrávamos as nossas habilidades, perante o sorriso permanente do pai. De vez em quando lá vinha uma gargalhada que reflectia a sua felicidade de nos ver e de estar connosco. Quando algum se magoava, com um ou outro gesto menos calculado, o meu pai levantava-se pressuroso para lhe acudir. E a brincadeira, sob a alegria do meu pai, continuava. Até à exaustão. E ele então dizia: - Chega por hoje!
O meu pai faleceu há bastantes anos. Foi nos idos de 75 do século passado. Inesperadamente. De forma apressada e sem hipótese de cura. Nunca o tinha visto doente. Nunca se queixava de qualquer incómodo que nos levasse a pensar num possível enfarte. Era um homem saudável e até brincava com as nossas fraquezas. Mas a primeira doença que teve foi fatal.
O meu pai foi desde menino um homem de mar, mas não foi um pai ausente. A mãe, que dele nos falava todos os dias, enaltecia os seus sacrifícios e a sua bondade, tornando-o presente em todos os momentos das nossas vidas.
A partida para o mar era muito dolorosa. Quando o dia se aproximava, o silêncio instalava-se em casa. Olhávamos uns para os outros sem palavras. E na hora de nos deixar por uns meses, o embaraço entre todos acentuava-se. Recordo, como se fosse hoje, esse dia triste. Nos meus ouvidos ainda moram os momentos da despedida. Com beijos e palavras de consolação que ele nos oferecia. Eu nunca conseguia articular qualquer frase. Fui nessa altura, como hoje, de emoções que me bloqueavam e bloqueiam a fala.
Assistia, à porta de casa, à partida do autocarro que recolhia pela freguesia os tripulantes. E retenho nos tímpanos, com compreensível vivacidade, o roncar do motor da camioneta. Mesmo depois dela desaparecer dos meus horizontes físicos, aquele som permanecia comigo. Até hoje. Mas no regresso voltava a alegria. Havia prendas canadianas para todos. Abraços, beijos, perguntas, muitas perguntas, e a certeza de que o pai ficaria uns tempos em casa. Punha-se a conversa em dia. Não faltava a visita ao Prior Guerra.
O meu pai oferecia-lhe um pacote de tabaco, daquele que era distribuído pelos pescadores. O Prior Guerra fumava muito e fazia os cigarros com as mortalhas, embrulhando-os, cuidadosamente, para ficarem bem cilíndricos e apertados. Quando o meu pai chegava da visita, dizia: - O senhor Prior agradeceu-me o tabaco e aproveitou para conversarmos um bocado; e no fim até me disse que eu já estava confessado.
Recordo que meu pai costumava sentar-se nas traseiras da casa, em horas de descanso ou de pura contemplação. Eu brincava com o meu único irmão, o Armando, que já foi para junto dele. Tinham o mesmo nome e eram conhecidos pelo mesmo apelido de família: Grilo. Nessas brincadeiras mostrávamos as nossas habilidades, perante o sorriso permanente do pai. De vez em quando lá vinha uma gargalhada que reflectia a sua felicidade de nos ver e de estar connosco. Quando algum se magoava, com um ou outro gesto menos calculado, o meu pai levantava-se pressuroso para lhe acudir. E a brincadeira, sob a alegria do meu pai, continuava. Até à exaustão. E ele então dizia: - Chega por hoje!
Fernando Martins