1. Os arautos da desgraça continuam a agitar a bandeira da bancarrota, da ingovernabilidade de Portugal, do fim da Nação. A multissecular Pátria portuguesa até parece que caiu ou está para cair nas ruas da amargura, sem políticos à altura de aguentar a barca no cimo das ondas. A barca, pelos vistos, está a meter água por todos os lados.
Clama-se por justiça, mas ela não surge, ou surge tardiamente; clama-se por verdade, mas os mentirosos amarfanham a sociedade; clama-se por uma educação sadia, mas não faltam os promíscuos em cada esquina; clama-se por paz, mas não falta quem alimente guerras. E por aí adiante…
O nepotismo, o compadrio, as negociatas, a mentira, o ódio, a injustiça, o desespero, o desemprego, a miséria, a falta de sentido para a vida e a ausência de horizontes dignos de um futuro de progresso solidário parece que estão a implantar-se entre nós. Mas tudo isto será razão para admitir o fim de Portugal como Estado e como Nação? Julgo que não. O nosso País e os portugueses já enfrentaram inúmeras desgraças, mas continuam a existir. Mais uma crise não será motivo para desânimos. Havemos de sair dela. Temos de conseguir caminhar em frente, rumo a um futuro mais risonho.
2. Celebra-se hoje o Dia do Consagrado na Igreja Católica. Homens e mulheres que, por amor a Deus, deixam o mundo, com todas as suas seduções, para viverem em exclusivo a causa de uma sociedade mais fraterna, onde a paz seja uma aposta de todos os momentos.
Penso que a acção dos consagrados e das consagradas, no dia-a-dia de um labor ao serviço do mundo, onde a espiritualidade nunca perde o seu lugar, carece de ser mais conhecida e mais amada. Porque não é fácil deixar família, amigos e propostas profissionais aliciantes para viver o desafio de construir o Reino de Deus neste tempo de tantas contradições.
Sei que muitos sentem na carne e na alma o desgaste da solidão, a incompreensão da sua entrega generosa, a arrogância dos instalados nos prazeres fúteis. Mas também sei que aos consagrados e consagradas nunca faltará, nas encruzilhadas de outras vidas, a alegria do encontro diário com Jesus Cristo, que é caminho, verdade e vida.
Fernando Martins