quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Voltei à escola

A Escola, afinal, está melhor do que eu pensava


Por amável convite do professor Vítor Bártolo, da Escola da Cambeia, na Gafanha da Nazaré, ontem voltei à escola. Não foi a primeira vez desde que me aposentei, mas não posso deixar de referir esta visita no contexto da blogosfera. Pelo prazer que me deu. 


O professor Vítor solicitou-me, há dias, que fosse falar aos seus alunos do 3.º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico, ao jeito do avô que conta histórias da sua infância. Os alunos, na área do conhecimento do meio, andavam a estudar motivos históricos referentes à terra, e era importante ouvirem um “avô”.
Ao contrário do que se diz sobre a Escola, por muitos de nós acusada de ter caído num caos, de que urge levantar-se, para bem de todos, encontrei na turma que me recebeu uma realidade completamente diferente. Sala aquecida e bem iluminada, crianças cuidadas no vestir e no estar na sala, com capacidade para ouvir e dialogar, interessadas no tema, curiosas no gostar de saber. 
Entrei numa sala onde tudo estava em ordem, com meninas e meninos risonhos e delicados, na forma como receberam o “avô”. Ponto importante, este, para eu logo começar a estabelecer a comparação entre esta escola (bonita, airosa, arejada, limpa, decorada e com meios técnicos para o trabalho) e a que eu frequentei (pobre, casa velha, fria, com vento e chuva a entrar por todos os cantos, com alunos sentados no chão, muitos descalços, com lousas em vez de cadernos). 
Falei da pobreza de há mais de 60 anos, dos professores com as quatro classes, dos exames. E contei histórias, porventura algumas descabidas, cada uma a partir das perguntas com que as crianças me desafiavam a memória. 
Uma hora de conversa, de diálogo quase permanente. E quando terminei, quando o professor Vítor aconselhou os alunos a saírem da sala para desentorpecerem os membros e arejarem o espírito, os alunos cercaram-me para me falarem dos trabalhos que já tinham feito sobre a Gafanha da Nazaré, a partir de alguns textos do meu blogue e de outras fontes. Vi que estudaram o Farol, o Forte, o Cruzeiro, o Cortejo dos Reis, entre os mais diversos assuntos. E cada um quis sublinhar o que tinha desenhado e pintado na capa para arquivo dos trabalhos feitos. 
Confesso que falei ao “sabor da maré”, sem me preocupar com as exigências psicopedagógicas, algumas das quais já se me varreram da memória há muito. Falei como costumo falar aos meus netos. Por gentileza e amizade, o professor Vítor agradeceu-me a visita. Eu é que lhe estou grato.

Fernando Martins

4 comentários:

  1. Escola é poesia em movimento.


    http://poemasdaguarda.blogspot.com/

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  2. Gostei do seu texto...

    É bem verdade que as nossas escolas de um modo geral, estão incomparavelmente melhores que no passado e não é necessário recuar assim tanto no tempo. Aliás isso nota-se em tantos aspectos da vida. Hoje a sociedade é mais exigente e difícil de satisfazer. Muita gente só vê os aspectos negativos mas, felizmente, evoluímos muito.

    Os professores, nem que não durmam, continuam a dedicar-se àquilo que gostam de fazer. Até os que já se reformaram gostam de estar com as crianças e os jovens - são mesmo o melhor da escola. É, no entanto, inegável um certo desencanto e um acumular de cansaço, resultante da muita burocracia que… continua a aumentar e de algumas desconsiderações.

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  3. Mt bem... Sorte tem os Netos do Sr. Professor.... que podem ouvi-lo a toda a hora e quando querem. Tendo um Avô assim, provavelmente poderão construir melhor o seu futuro! :)

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  4. Corroboro! Não me importava nada de estar no lugar de um dos seus netos! São uns "sortudos"! Que desfrutem do avozinho, emquanto puderem! É uma mais-valia sem limites!
    DA

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