A HISTÓRIA
Caríssima/o:
Estou a ver o nosso 'herói', cabelo desalinhado, em-pertigado, nariz arrebitado, a responder à pergunta que o examinador lhe apresentou:
- Meu menino, sabe dizer-me o que é a Península Ibérica?
E ele olhou de soslaio e desconfiado para aquele “menino, sabe dizer-me...”; quase perdeu a resposta... Não fora a solidez dos 'seus conhecimentos de História' e estaria desorientado. Levantou mais o nariz, olhou para o “senhor doutor” e começou a desbobinar:
- A Península Ibérica é formada por Portugal e Espanha. Os primeiros povos da Península foram os Iberos; depois os Celtas...
Ninguém nem nenhuma máquina silenciadora teria a capacidade de interromper a imensa lengalenga que se estenderia até Sua Excelência o Senhor Presidente da República, Senhor General Óscar Carmona... Parece mesmo que o examinador e todo o Excelentíssimo Júri estava a gostar e a deliciar-se. Até que:
- Pronto, estou satisfeito...
Travões a fundo e uma derrapagem que ele atacava D. Dinis, um dos seus reis preferidos.
- Meu menino, vejo que sabe bem o que traz o livro. Agora diga-me...
Então não havia de saber de cor o livro de História?!
O Professor mandava-os sempre para aquele quarto, onde se sentavam no chão, cada um no seu canto, e aí cantarolavam palavra a palavra até papaguearem as vírgulas e os acentos. Quando a cantilena diminuía de intensidade, sinal de que o estudo chegara ao fim, logo um recado os chamava para a sabatina!...
Estava ele distraído com estes pensamentos e já não se lembrava da pergunta... e agora? Valeu-lhe a perspicácia do 'senhor doutor' que, como quem lhe põe a mão no ombro e o afaga, concluiu:
- Gostei de o ouvir... Quando frequentar o Liceu teremos tempo de conversar e de esclarecer umas coisitas!
Agora é que foi o bom e o bonito: então ele punha em dúvida o seu Professor?
E a custo deixou o lugar de examinando, ao ouvir chamar o 'seguinte', pois apetecia-lhe dizer ao mundo que ...
Revelando esta pequena estória, certas conclusões são evidentes: estudávamos História Pátria; sabíamos e respondíamos pronta e oralmente às perguntas que nos faziam, sem pestanejar. Não nos pedissem interpretações ou conexões, a nossa História era a dos factos e das pessoas gradas. Certamente, do Estado Novo... E tínhamos dez anos de idade!
Não me peçam um juízo de valor comparativo e muito menos conclusivo: há 60 anos era assim. Agora ... não sei como é!
Manuel
Acrescento: A história também se faz na vida e com a vida... Não posso deixar de renovar aqui o abraço que, na festa do S. Paio, dei aos irmãos Oliveiros e Francisco Russo e ao Manuel Ribau Teixeira e esposa Manuela... Também nesse mesmo dia, mas na singela homenagem ao nosso Prior Domingos, renovei velhas amizades: os Padres Miguel e Tomás, o Diácono Joaquim Simões, a Fernanda, a Maria Ema, a Ausenda e marido, e tantos e tantas que não nos revíamos há um bom par de anos... Afinal as festas também são importantes!