A fuga do passeio espacial
1. Desde os tempos da guerra fria (entre os Estados Unidos da América e a União Russa) que a conquista do espaço representa a maior afirmação da humanidade. A chegada americana à Lua, em 1969, ficaria para sempre registada como esse sinal político confirmado de se ser superpotência no panorama mundial. Ninguém duvida do interesse para a investigação científica dessas viagens espaciais. Mas, sejamos realistas: elas, mesmo no seu potencial científico, são bem mais realizadas numa estratégia de ânsia de poder do que numa lógica de investigação como serviço generoso à humanidade. É assim!
2. Quase que existe nestas lides das potências uma “moda” criada que prefere bem mais o atirar-se à fuga para o espaço do que o mobilizar-se para a resolução dos problemas essenciais na terra. É bem mais fácil responder e afirmar-se com tecnologia, mesmo que seja espacial, que com sentido de Humanidade. O que foram os anos 60 para EUA e Rússia, são agora os tempos da China. Depois dos Jogos Olímpicos «excepcionais» o homem chinês quase imitou Armstrong ao saudar no seu passo «o mundo inteiro», agitando a bandeira chinesa. O novo herói é Zhai Zhigang que caminhou 15 minutos no espaço (27-09-2008).
3. Também se comenta que a viagem, designada de missão Shenzhou VII, ocorreu alguns dias antes do aniversário dos 50 anos da americana NASA e pouco antes do 1 de Outubro, dia feriado nacional na China em que é celebrada a «grandeza» imperial. Nestes contextos e na gestão da afirmação, pouco parece importar o leite contaminado ou as condições, tantas vezes desumanas, em que é alavancada a gigante potência do século XXI. Por vezes anuncia-se o fim das ideologias que deram lugar exclusivo ao económico. Não é verdade, embora talvez estejamos mais que nunca diante daquele triste lema em que «o mal de uns é a sorte dos outros.» Jogo China versus EUA.