terça-feira, 26 de agosto de 2008

FÉRIAS: Notas do Meu Diário

"Venenos de Deus, remédios do Diabo"

Hoje concluí a leitura de um livro de férias. “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”, de Mia Couto, ofereceu-me o imaginário deste grande escritor moçambicano, um dos maiores da Língua Portuguesa, que já conheço há muito de outras obras. Este livro é um romance carregado de poesia, com retratos do seu país, que ele tão bem sublinha. 
Não sei que mais admirar neste escritor. Se o enredo cheio de mistérios, se a filosofia que sai da boca das personagens, se a descrição das reais ou imaginárias paisagens, se o mistério tecido à volta das estórias com que nos envolve, se a criação ou recriação de palavras e expressões, se, afinal, tudo isto e mais o que nem consigo exprimir. 
Sei que gosto de Mia Couto, porque me prende aos livros, me obriga, em cada frase, a sonhar com paragens e paisagens onde dificilmente chegarei, a não ser pelos quadros que tão expressivamente ele pintou. “A idade é uma repentina doença: surge quando menos se espera, uma simples desilusão, um desacato com a esperança. Somos donos do Tempo apenas quando o Tempo se esquece de nós.” Frases como esta fazem-me pensar e até filosofar, comigo próprio e com quem me rodeia, nos calmosos dias deste Verão. 
Em cada página e mesmo em cada fala das personagens deste livro encontro motivos para sonhar com viagens para além do real. Ao ler “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”, vieram até mim vidas da era colonial, agarradas a um passado de interesses sombrios, algumas marcadas por tradições e saberes ancestrais, que o escritor, biólogo e jornalista muito bem projecta para os dias de hoje. 
Os mistérios da família dos Sozinhos nesta obra se fixaram, através de uma escrita cuidada e poética, para que o leitor vá procurando e descobrindo, paulatinamente, até à última frase, os segredos que Vila Cacimba esconde há tanto tempo.


12 de Agosto
Fernando Martins

2 comentários:

  1. Coincidências!!!!
    É o meu escritor actual em Língua Portuguesa..como ele reinventa a nossa Língua é brilhante..o uso de termos com tanto significado que só ele usa.
    Quando tiver tempo leia "Mar me Quer" o meu favorito...
    "....."Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer."

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  2. Obrigado, Maria, pela sugestão...
    Fica em agenda...
    Como viste, também o aprecio muito...
    Só tenho pena de não poder ler tudo quanto gostaria! Mas vou lendo, como sempre.
    O escritor gafanhão, Ascêncio de Freitas, que viveu em Moçambique umas três décadas, também segue a linha do Mia Couto, "inventando" palavras. Não sei qual deles começou com este estilo.

    Cumprimentos amigos

    Fernando Martins

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