A ALIMENTAÇÃO
Caríssima/o:
Vontade de rir nos invade quando falamos sobre as nossas comidas desses recuados tempos de meados do século passado. [Concordemos ou não estamos em plena recuperação de juventude, atravessando eufóricos a terceira idade! Quem é que não rasgou a face quando um conhecido nos bate nas costas e diz prazenteiro “olha como fulano está velho... acabado!”... sabemos onde ele está a bater!...]
Cum diacho, já meia dúzia de linhas e ainda não falámos na malga de sopas de café do almoço antes de irmos para a Escola; esclareça-se sopas de boroa!
Ao meio-dia, ia-se a casa pelo jantar: um prato de caldo com um olho de azeite, couves e batatas; quando o rei-fazia-anos um naco de toucinho, melhor, de carne branca. Muitas vezes, íamos com sorte com o resto da ceia da véspera: umas batatitas com couves e um pedacito de peixe que escapou escondido em alguma folha verde.
Nova corrida, que o botão ou o pião nos esperavam...
O “problema” apareceu quando a Escola foi mudada para a Marinha Velha, para a Escola do Ti Lopes: era muito longe e não dava tempo para vir jantar a casa; levávamos a boroa e a sardinha que sobrou da véspera embrulhadas num papel de jornal.
Como facilmente se adivinha fome era coisa que não se via, porque na altura se afirmava que era negra! Muitas vezes a enganávamos com mais uma golada de água.
Temos de concordar que durante os exames a coisa mudava muito: sandes de marmelada e pirolito, pois então!
Já do lado chamam que são horas da merenda e que fiz grande confusão com as refeições... Pelo sim pelo não, vou ao meu suplemento alimentar para manter a linha.
Manuel