A FORÇA CONFIANTE DOS POBRES
“Se as pessoas tivessem em conta a palavra de Cristo: amar os inimigos, não havia atitudes de rejeição nem de discriminação como estas de que falamos.”
Quem o afirma é um sexólogo psiquiatra com programa diário na rádio portuguesa. A conversa que mantinha com a sua interlocutora versava a situação de crianças infectadas pelo vírus que provoca o HIV e, na sua fase mais avançada, a SIDA.
Manter o silêncio a respeito de tais crianças para fazerem a sua vida normal, sobretudo na escola? Deixar correr o “presumido” perigo de contágio, colocando as outras crianças em risco? Dar a conhecer essa situação, ainda que discretamente, e aceitar o “alvoroço” dos pais temendo o pior para os seus filhos?
A conversa ia animada, matizando aqui, esclarecendo além, ilustrando umas vezes, denunciando outras. A conclusão, com sabor a sentença, chega quando são descritas as atitudes das pessoas face a quem é vítima daquela situação e de tantas outras que debilitam e arruínam a saúde, a honra, a honestidade, a posse e o uso de bens, a identidade cultural, as convicções e as práticas religiosas. A sentença veio clara e sonante – após uma série de advertências aos radiouvintes para que não achassem estranho o que ia ser dito: Amar como Jesus amou até os próprios inimigos.
Sinceramente fiquei perplexo. Não pelo acerto da afirmação, mas por vir de quem veio, conhecido que é pela sua “distância” em matéria religiosa e “alergia” a assuntos que dizem respeito à Igreja e à mensagem que anuncia. A minha perplexidade foi momentânea, vencida pela recordação de tantas frases bonitas e dignas do amor humano onde brilha uma centelha divina.
E ocorre-me Einstein na sua célebre afirmação: “ Vivemos no mundo quando amamos. Só uma vida vivida para os outros merece ser vivida”. E Saint Exupéry: “O amor é a única realidade que cresce quando se partilha”. E Papini: “O amor é como o fogo: se não se comunica, apaga”. E Unamuno: “O amor é compassivo; quem mais ama, mais se compadece”.
Estes e outros autores descobrem, saboreiam e apregoam o amor como radical modo de ser humano. O ódio é a expressão máxima de desumanidade e constitui o maior perigo para a vida em sociedade. O cortejo das suas vítimas, ainda que se observe apenas o início do novo Milénio, é incontável e a malvadez do seu requinte é indescritível.
O amor de Jesus dá sentido a tudo o que faz e diz, silencia e suporta. A sua paixão dura a vida inteira e tem um único propósito: Que todas as pessoas consintam em ser irmãs umas das outras porque filhas do mesmo Deus que é Pai e aceitem gerir os bens da terra de modo que não falte o necessário a cada uma nem se estrague coisa alguma na casa de outra. Que os seres humanos consintam na grandeza da sua vocação e realizem fielmente a sua missão para glória de Deus Pai é o que dá força e determinação a Jesus Cristo. Sempre, mas sobretudo no período final da sua vida terrena, aquele que a Igreja celebra na Semana Santa Pascal.
Na paixão de Jesus de Nazaré, brilha o contraste de opostos irreconciliáveis: amor e ódio, compaixão e injúria, presença e afastamento, poder e debilidade, ostentação e pobreza, desprezo infamante e proximidade radical.
Chegada a manhã da ressurreição, verifica-se que a razão está do lado de Jesus. A sua opção é confirmada para sempre por Deus Pai. O futuro – para além da morte física – está definitivamente aberto. À sua luz, tudo tem outro valor, aquele que Jesus foi desvendando nas suas atitudes terrenas.
O Deus que se manifesta em Jesus não está vinculado à força, ao poder, ao êxito. Mantém e renova a aliança com o seu povo. Assume a condição humana, as leis físicas e morais; é vítima de conspiração dos dirigentes e da traição de um amigo; sujeita-se a um processo de desacreditação da sua honra, morre no maior abandono e silêncio.
Por isso, os empobrecidos da terra e os espoliados da dignidade se revêem em Jesus e encontram na sua atitude corajosa a força indestrutível para o calvário da vida, para a agonia de todas as horas, para o peso de tantas cruzes.
Em Jesus, o amor sem medida faz-se respeito a todos: a Judas, a Pedro, aos discípulos ensonados, à trupe que o prende, ao sinédrio que o julga, a Pilatos que o condena, ao povo “volátil” que, ora o aclama festivamente, ora pede a sua crucifixão, aos soldados que o guardam e insultam, a Deus Pai que parece tardar em dar resposta aos seus pedidos.
A resposta chega em tempo oportuno. A cruz seca cede o lugar à cruz florida. É a ressurreição que culmina a Páscoa. Do mais profundo do opróbrio humano, Jesus é elevado à glorificação, abrindo um caminho de futuro a todos os que vivem a sua mensagem e se orientam pelos valores do seu Espírito.
Georgino Rocha
“Se as pessoas tivessem em conta a palavra de Cristo: amar os inimigos, não havia atitudes de rejeição nem de discriminação como estas de que falamos.”
Quem o afirma é um sexólogo psiquiatra com programa diário na rádio portuguesa. A conversa que mantinha com a sua interlocutora versava a situação de crianças infectadas pelo vírus que provoca o HIV e, na sua fase mais avançada, a SIDA.
Manter o silêncio a respeito de tais crianças para fazerem a sua vida normal, sobretudo na escola? Deixar correr o “presumido” perigo de contágio, colocando as outras crianças em risco? Dar a conhecer essa situação, ainda que discretamente, e aceitar o “alvoroço” dos pais temendo o pior para os seus filhos?
A conversa ia animada, matizando aqui, esclarecendo além, ilustrando umas vezes, denunciando outras. A conclusão, com sabor a sentença, chega quando são descritas as atitudes das pessoas face a quem é vítima daquela situação e de tantas outras que debilitam e arruínam a saúde, a honra, a honestidade, a posse e o uso de bens, a identidade cultural, as convicções e as práticas religiosas. A sentença veio clara e sonante – após uma série de advertências aos radiouvintes para que não achassem estranho o que ia ser dito: Amar como Jesus amou até os próprios inimigos.
Sinceramente fiquei perplexo. Não pelo acerto da afirmação, mas por vir de quem veio, conhecido que é pela sua “distância” em matéria religiosa e “alergia” a assuntos que dizem respeito à Igreja e à mensagem que anuncia. A minha perplexidade foi momentânea, vencida pela recordação de tantas frases bonitas e dignas do amor humano onde brilha uma centelha divina.
E ocorre-me Einstein na sua célebre afirmação: “ Vivemos no mundo quando amamos. Só uma vida vivida para os outros merece ser vivida”. E Saint Exupéry: “O amor é a única realidade que cresce quando se partilha”. E Papini: “O amor é como o fogo: se não se comunica, apaga”. E Unamuno: “O amor é compassivo; quem mais ama, mais se compadece”.
Estes e outros autores descobrem, saboreiam e apregoam o amor como radical modo de ser humano. O ódio é a expressão máxima de desumanidade e constitui o maior perigo para a vida em sociedade. O cortejo das suas vítimas, ainda que se observe apenas o início do novo Milénio, é incontável e a malvadez do seu requinte é indescritível.
O amor de Jesus dá sentido a tudo o que faz e diz, silencia e suporta. A sua paixão dura a vida inteira e tem um único propósito: Que todas as pessoas consintam em ser irmãs umas das outras porque filhas do mesmo Deus que é Pai e aceitem gerir os bens da terra de modo que não falte o necessário a cada uma nem se estrague coisa alguma na casa de outra. Que os seres humanos consintam na grandeza da sua vocação e realizem fielmente a sua missão para glória de Deus Pai é o que dá força e determinação a Jesus Cristo. Sempre, mas sobretudo no período final da sua vida terrena, aquele que a Igreja celebra na Semana Santa Pascal.
Na paixão de Jesus de Nazaré, brilha o contraste de opostos irreconciliáveis: amor e ódio, compaixão e injúria, presença e afastamento, poder e debilidade, ostentação e pobreza, desprezo infamante e proximidade radical.
Chegada a manhã da ressurreição, verifica-se que a razão está do lado de Jesus. A sua opção é confirmada para sempre por Deus Pai. O futuro – para além da morte física – está definitivamente aberto. À sua luz, tudo tem outro valor, aquele que Jesus foi desvendando nas suas atitudes terrenas.
O Deus que se manifesta em Jesus não está vinculado à força, ao poder, ao êxito. Mantém e renova a aliança com o seu povo. Assume a condição humana, as leis físicas e morais; é vítima de conspiração dos dirigentes e da traição de um amigo; sujeita-se a um processo de desacreditação da sua honra, morre no maior abandono e silêncio.
Por isso, os empobrecidos da terra e os espoliados da dignidade se revêem em Jesus e encontram na sua atitude corajosa a força indestrutível para o calvário da vida, para a agonia de todas as horas, para o peso de tantas cruzes.
Em Jesus, o amor sem medida faz-se respeito a todos: a Judas, a Pedro, aos discípulos ensonados, à trupe que o prende, ao sinédrio que o julga, a Pilatos que o condena, ao povo “volátil” que, ora o aclama festivamente, ora pede a sua crucifixão, aos soldados que o guardam e insultam, a Deus Pai que parece tardar em dar resposta aos seus pedidos.
A resposta chega em tempo oportuno. A cruz seca cede o lugar à cruz florida. É a ressurreição que culmina a Páscoa. Do mais profundo do opróbrio humano, Jesus é elevado à glorificação, abrindo um caminho de futuro a todos os que vivem a sua mensagem e se orientam pelos valores do seu Espírito.
Georgino Rocha
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Foto: Einstein