A propósito das pensões de reforma miseráveis, que muitos compatriotas nossos recebem mês a mês, já nem sei o que hei-de dizer, tal é o sentimento de revolta que me domina. O Presidente da República, Cavaco Silva, lembrou, na sua Mensagem de Ano Novo, que é inconcebível a relação entre o que recebem certos gestores e alguns trabalhadores de muitas empresas. O mesmo se pode dizer das pensões de reforma: uns com milhares e milhares de euros por mês, outros com duas ou três centenas de euros. Entretanto, o Governo decretou alguns aumentos, ao mesmo tempo que decidiu pagar os retroactivos em dívida, cabendo, por mês, a cada um, 68 cêntimos. Agora, pressionado, e bem, pela oposição, resolveu pagar tudo duma só vez. Não estava para falar no assunto, mas não posso conter a indignação. Sei que o Governo não pode fazer filhós d’água, mas a sociedade, nomeadamente os políticos, tem de repensar a questão dos salários e das pensões de reforma.
Há dias, soube que uma idosa, que sofre imenso, não pôde ir para a Fisioterapia por falta de dinheiro para pagar a parte que lhe cabe. A sua pensão é tão baixa que nem para os mediamentos dá. E tem de sofrer.
Um comentador político, António Vitorino, disse que é verdade que os gestores ganham muito, mas, mesmo que lhe reduzam os vencimentos e as regalias, nada se resolveria. Tudo ficaria na mesma. É verdade, concordo eu. Mas ao menos ganharíamos em dignidade. O que choca e escandaliza é essa diferença abissal entre uns portugueses e outros. Todos filhos da mesma Pátria. Todos com família para sustentar. Todos com direito a viver os últimos anos de vida sem precisarem de esmolas.
Se não há dinheiro para aumentar os simples trabalhadores e reformados por que motivo há sempre para os grandes salários e para as grandes reformas?
FM