quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Medo, desconfiança e alegria de viver



Caem-nos cada dia no computador mensagens de pessoas amigas, com pedido de que enviemos a outras, a prevenir contra a aceitação de chamadas telefónicas de certo teor, que podem levar os incautos à sua própria ruína. O mesmo acontece em relação ao correio electrónico, infestado por interesses injustos e malévolos, de dentro e de fora, que, anunciando maravilhas escondem desgraças. Entra-se assim no que é nosso, neste mundo aberto e de todos como é o da comunicação, com intuitos de destruir ou de a outros beneficiar, pouco ou nada podendo nós fazer pata impedir, contrariar ou responsabilizar outrem pelos prejuízos sofridos.
Viver pressupõe e exige um clima de confiança, de serenidade, de paz, dentro de nós e à nossa volta. Tudo o que perturba, sem que se lhe veja a ponta, incomoda, desestabiliza, cria fantasmas, multiplica desconfianças.
Há quem goste de navegar nas águas do “quanto pior, melhor” e quem aprecie muito a política da terra queimada, que também nisso vão os seus interesses.Sempre que para uns a vida entusiasma menos, para outros ela torna-se espaço apetecível para um trabalho, onde a luz só incomoda.
Porque procuram as pessoas sem escrúpulos, que por aí vão abundando, os idosos indefesos e a viver sós, para poderem assaltar, roubar e, muitas vezes, ferir e até matar, não levando deles mais que o seu modesto pé-de-meia, bem poupado à custa de sacrifícios dispensáveis, mas na expectativa de momentos mais aflitivos? Gente como esta é sempre fácil de enganar com promessas que fazem sonhar em dias melhores. Onde se juntam os abutres? Onde há morte. A vida, com a dor e o peso que lhe tiram o sentido e a alegria de viver, já é morte.
A solução não está na abundância de polícias, porque, num contexto que se generaliza, a sua presença será mais dissuasora que correctora. Está numa séria educação de base e no apoio claro a todos os educadores, na protecção à família, primeiro e mais determinante espaço humanizador, na eliminação corajosa dos focos de contaminação, na luta contra as desigualdades sociais provocadoras e irritantes, na aceitação pública de todos, pessoas e instituições, que defendem, propõem e testemunham valores morais e religiosos que ajudam a subir os horizontes e fortalecer as vontades, na procura nunca abandonada de meios que favoreçam a paz, a segurança, a reconciliação e a confiança mútua, bem como a correcção exemplar dos prevaricadores.
Andam muitos responsáveis políticos ocupados e afadigados com os aspectos económicos e financeiros do país e com a imagem do mesmo para o exterior. Nada disso é de somenos importância. Porém, a riqueza de um país são as pessoas e a cultura que lhes deu e dá referências enraizadas, capazes de transmitir sentido à vida, participação de todos no que a todos diz respeito, capacidade de relação e convivência com todos, mesmo que sejam de outras culturas e raças e agora coabitam connosco.
Destruída a cultura que nos ajudou e ajuda a ser o que somos, nada resultará e não ficarão senão frutos espúrios, vazios de bem e perturbadores da paz e da harmonia que não dispensamos, e gente incaracterística a que os nossos valores de sempre nada dizem.
Tem-se brincado de mais com as nossas raízes, como se fossem bens e coisas de somenos. Os resultados vão-se sentindo, num país que parece alguns terem optado por ser mais babilónia que espaço lavado e despoluído de uma sã convivência plural.


António Marcelino

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