Deus faz-se humano e quer acolher-nos. Pretende encontrar-se connosco e ser nosso amigo e companheiro. Vence todas as barreiras para se fazer próximo e dar a conhecer este seu desejo. Quer ajudar-nos a ser humanos, abrindo-nos horizontes de realização plena. Quer indicar-nos o caminho a percorrer, os valores a cultivar, as opções a fazer, as atitudes e os gestos a vivenciar. Quer envolver-se na história humana, potenciando capacidades e ajudando a superar limitações. Quer ser verdadeiramente o Emanuel, o Deus connosco.
É este o sentido profundo do Advento que marca o início do Ano Litúrgico. É uma espécie de tempo novo em que o modo de ser e de agir de Deus se vai dando a conhecer progressivamente. E também a maneira como reage a humanidade.
A história bíblica constitui um rico documentário desta relação mútua. Deus mantém-se sempre fiel. O povo nem sempre e faz outras opções. Surgem então os profetas que recordam o propósito divino, as promessas feitas, a aliança celebrada. E anunciam que o Emanuel vai nascer. É necessário estar atento e vigilante, preparar-se para o acolher, pronto e disponível lhe corresponder.
Jesus é este Emanuel. O seu nascimento é o Natal cristão. A atitude mais correcta é a vigilância do espírito, fruto de uma consciência lúcida e de um coração sensível. A resposta mais acessível e coerente é o cultivo da liberdade para, sem medos nem inibições, o acolhermos com alegria e verdade.
A atitude vigilante supõe e exige forças dinâmicas que nos fazem viver um humanismo de qualidade: a esperança, a sobriedade, o trabalho, a responsabilidade, a oração que constitui como que a seiva de todas as outras.
A esperança tem como alicerce a promessa feita e Deus não falha. A sua vinda é certa. O envolvimento no seu projecto depende de nós. A sobriedade faz-nos ser donos de nós mesmos e partilhar generosamente os bens com os necessitados. O trabalho desenvolve capacidades indispensáveis à nossa realização e à dos outros. A responsabilidade leva-nos a dar a melhor resposta aos desafios que nos chegam, quer provenham das situações humanas, quer da urgência de testemunhar de modo credível o Evangelho.
Estas forças dinâmicas, além de tornarem mais humana a nossa vida, dão um contributo valioso à humanização da sociedade. O natal da nova humanidade está a surgir e pode ser apressado. Precisa do esforço de todos, especialmente do contributo de pessoas enraizadas na fé, alegres na esperança e empreendedoras no amor gratuito.
Georgino Rocha