ESTRANHOS MONGES
Mesmo os que não sabem onde fica a Birmânia ou Rangum, se questionam sobre o batalhão de monges fora dos seus mosteiros a serem o alvo principal duma telhuda junta militar que quer correr um país a ferro e a fogo.
Temos de admitir que a esta distância, que não é pouca, não é fácil entender os mecanismos dos jogos militares, manifestantes, agrupamentos jovens e monges, sob o olhar prepotente e assustado de ditadores que tudo mandam mas que andam com medo de tudo perder.
Mas - pergunta-se de novo - no meio de tudo isto, que fazem os monges budistas? Primeiro, não há um budismo apenas, mesmo na Birmânia. Há uma concepção individualista que privilegia a passagem para o nirvana fazendo dos obstáculos ondas de transição. E há uma escola mais empenhada na justiça e na liberdade – lembre-se a corrente Dalai Lama e do seu empenhamento político pela independência do Tibete.
Há um terceiro elemento: uma legitima-ção com a aproximação popular, que faz do budismo um companheiro do povo nas suas expressões espirituais e nos seus empenhamentos comunitários.
A esta distância geográfica, cultural e religiosa, pouco entendemos das notícias que nos chegam dum país humilhado por uma ditadura militar em confronto com uma escola de espiritualidade que nem tem referência a Deus como a generalidade das religiões que conhecemos. No seu aparente distanciamento da realidade para maior libertação interior em relação aos mecanismos do poder, do dinheiro, do consumismo hedonista, os monges da Birmânia vivem nos seus mosteiros com as esmolas do povo, são uma percentagem significativa da população (praticamente não há família que não tenha um filho num mosteiro). Vieram para a rua na hora de defender a liberdade e os direitos dos mais indefesos. Puseram-se na linha da frente de contestação aos militares sem a mais pequena ambição de poder. Com a sua perspectiva de reencarnação não desprezam a vida terrena na esperança do que viverão no futuro. Dir-se-ia que há muitos aspectos coincidentes com um cristianismo encarnado, activo, interveniente, que tanto apela à perfeição pessoal, como à intervenção social na implantação da justiça e no respeito por todos e cada um.
Estamos realmente muito distantes. Não nos revemos nas concepções dos quatrocentos mil monges que povoam os mosteiros da Birmânia. Mas sentimo-nos irmanados em muitos valores humanos que defendem. E não podemos deixar de aprender a forma como ligam contemplação e acção, meditação e compromisso, espiritualidade e empenhamento social. Ou talvez estejamos menos distantes do que nos parece.
Mesmo os que não sabem onde fica a Birmânia ou Rangum, se questionam sobre o batalhão de monges fora dos seus mosteiros a serem o alvo principal duma telhuda junta militar que quer correr um país a ferro e a fogo.
Temos de admitir que a esta distância, que não é pouca, não é fácil entender os mecanismos dos jogos militares, manifestantes, agrupamentos jovens e monges, sob o olhar prepotente e assustado de ditadores que tudo mandam mas que andam com medo de tudo perder.
Mas - pergunta-se de novo - no meio de tudo isto, que fazem os monges budistas? Primeiro, não há um budismo apenas, mesmo na Birmânia. Há uma concepção individualista que privilegia a passagem para o nirvana fazendo dos obstáculos ondas de transição. E há uma escola mais empenhada na justiça e na liberdade – lembre-se a corrente Dalai Lama e do seu empenhamento político pela independência do Tibete.
Há um terceiro elemento: uma legitima-ção com a aproximação popular, que faz do budismo um companheiro do povo nas suas expressões espirituais e nos seus empenhamentos comunitários.
A esta distância geográfica, cultural e religiosa, pouco entendemos das notícias que nos chegam dum país humilhado por uma ditadura militar em confronto com uma escola de espiritualidade que nem tem referência a Deus como a generalidade das religiões que conhecemos. No seu aparente distanciamento da realidade para maior libertação interior em relação aos mecanismos do poder, do dinheiro, do consumismo hedonista, os monges da Birmânia vivem nos seus mosteiros com as esmolas do povo, são uma percentagem significativa da população (praticamente não há família que não tenha um filho num mosteiro). Vieram para a rua na hora de defender a liberdade e os direitos dos mais indefesos. Puseram-se na linha da frente de contestação aos militares sem a mais pequena ambição de poder. Com a sua perspectiva de reencarnação não desprezam a vida terrena na esperança do que viverão no futuro. Dir-se-ia que há muitos aspectos coincidentes com um cristianismo encarnado, activo, interveniente, que tanto apela à perfeição pessoal, como à intervenção social na implantação da justiça e no respeito por todos e cada um.
Estamos realmente muito distantes. Não nos revemos nas concepções dos quatrocentos mil monges que povoam os mosteiros da Birmânia. Mas sentimo-nos irmanados em muitos valores humanos que defendem. E não podemos deixar de aprender a forma como ligam contemplação e acção, meditação e compromisso, espiritualidade e empenhamento social. Ou talvez estejamos menos distantes do que nos parece.
António Rego