O PERIGO SOCIAL DOS INIMIGOS DA DEMOCRACIA
É público que um grupo radical de neonazis profanou algumas campas num cemitério israelita, em Lisboa. A notícia veio na comunicação social e o PÚBLICO de hoje diz que alguns políticos e religiosos repudiaram, no local, em visita de desagravo, o que aconteceu. O Padre Peter Stilwell, em representação do Patriarcado, sublinhou com ênfase que “Este foi um gesto que invocou um demónio que dorme no coração da Europa”, alertando-nos, assim, para uma realidade mais palpável do que muita gente pensa.
Eu próprio tenho sentido isso muitas vezes, e as notícias de grupos racistas e xenófobos, que agem nos grandes centros, sobretudo em Lisboa, mostram à saciedade que algo vai mal na formação das novas gerações. Penso que as famílias, as escolas e outras instituições não estarão bem acordadas para esta realidade, relegando, para segundo plano, os alertas devidos, no sentido de bloquearem, logo à nascença, ideias tão reprováveis.
Daí que pessoas com créditos firmados no campo da formação política, filosófica e ideológica, como José Pacheco Pereira, se atrevam a condenar a prisão de um líder radical da extrema-direita, Mário Machado, acusado de incitar ao ódio racial. Diz aquele comentador que tal comportamento, em países genuinamente liberais, “não é crime, nem sequer delito de opinião”. E acrescenta que a longa prisão preventiva de Mário Machado configura uma situação “estranha”, apontando para “razões puramente políticas, o que é inadmissível numa democracia”.
Confesso que tenho algumas dificuldades em aceitar esta posição de Pacheco Pereira, tanto mais que se sabe do perigo social que representa um indivíduo que lidera um grupo neonazi e xenófobo, com provas dadas no campo da violência, contra pessoas de raça negra, judeus e estrangeiros. Uma sociedade democrática não fica obrigada, a meu ver, a dar liberdade plena a quem quer destruir os valores da própria democracia, sob pena de hipotecarmos o direito ao respeito por toda a gente.
FM