UM POEMA DE SOPHIA
NA CERIMÓNIA DA DEDICAÇÃO
DO TEMPLO, LIDO PELO BISPO DE LEIRIA-FÁTIMA, D. ANTÓNIO MARTO
A CASA DE DEUS
A casa de Deus está assente no chão
Os seus alicerces mergulham na terra
A casa de Deus está na terra onde os homens estão
Sujeita como os homens à lei da gravidade
Porém como a alma dos homens trespassada
Pelo mistério e a palavra da leveza
Os homens a constroem com materiais
Que vão buscar à terra
Pedra vidro metal cimento cal
Com suas mãos e pensamento a constroem
Mãos certeiras de pedreiro
Mãos hábeis de carpinteiro
Mão exacta do pintor
Cálculo do engenheiro
Desenho e cálculo do arquitecto
Com matéria e luz e espaço a constroem
Com atenção e engenho e esforço e paixão a constroem
Esta casa é feita de matéria para habitação do espírito
Como o corpo do homem é feito de matéria e manifesta o espírito
A casa é construída no tempo
Mas aqui os homens se reúnem em nome do Eterno
Em nome da promessa antiquíssima feita por Deus a Abraão
A Moisés a David e a todos os profetas
Em nome da vida que dada por nós nos é dada
É uma casa que se situa na imanência
Atenta à beleza e à diversidade da imanência
Erguida no mundo que nos foi dado
Para nossa habitação nossa invenção nosso conhecimento
Os homens constroem na terra
Situada no tempo
Para habitação da eternidade
Aqui procuramos pensar reconhecer
Sem máscara ilusão ou disfarce
E procuramos manter nosso espírito atento
Liso como a página em branco
Aqui para além da morte da lacuna da perca e do desastre
Celebramos a Páscoa
Aqui celebramos a claridade
Porque Deus nos criou para a alegria
Páscoa de 1990
(In Igreja de Santa Maria,
Marco de Canaveses; poema oferecido por Sophia à igreja;
in «Correntes D'Escritas», nº.2, Fevereiro, 2003)
Marco de Canaveses; poema oferecido por Sophia à igreja;
in «Correntes D'Escritas», nº.2, Fevereiro, 2003)