O PODER DE SCOLARI
Mário Soares um dia disse que era patriota sem ser nacionalista. A distinção é tão simples quanto necessária e luminosa. Ser patriota sem ser nacionalista é como alguém reconhecer que os seus pais são os melhores do mundo, sem excluir que outros pais também o sejam para outros filhos. Disse pais, não país. Mas “pátria” vem de “pater”, pai.
Depois veio Scolari, e fez o que nenhum político conseguiu, em parte, penso eu, porque estava do outro lado do Atlântico antes de 1974. Quando cá chegou, pôde invocar os símbolos da nação sem ver pairar sobre si próprio os fantasmas da ditadura. Pôs o país a vestir-se de verde e vermelho (apesar de serem “cores que não combinam bem”, como dizia a minha professora primária) e reconciliou-nos com o Hino e Bandeira.
O que ele fez na passada quarta-feira, a agressão ao jogador sérvio, mesmo que só tentada, mancha qualquer currículo, embora a memória colectiva seja cada vez mais curta e o povo português esteja disposto a perdoá-lo em troca da qualificação e de uma boa figura na Áustria em 2008.
De qualquer forma, gostava de adiantar um elemento em defesa de Scolari. Poucos dias após o Euro 2004, num bairro lisboeta, vi quatro ou cinco crianças de origem africana a cantar o Hino Nacional enquanto brincavam. Pareceu-me evidente: “O poder da selecção na era Scolari”.
J.P.F.
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