quarta-feira, 6 de junho de 2007

Um artigo de Alexandre Cruz

Os (con)trastes da realidade global
1. Na era da informação global que vivemos, somos bombardeados continuamente com informação de alguma da muita realidade que se constrói cada momento. Para o melhor e para o prior, a inevitabilidade feita obrigação de convivermos com as notícias diárias mostra-nos o abismo existente entre a grandeza heróica da humanidade que vive e cria maravilhas e a miséria cruel e desumana que se julgava impossível. A amálgama noticiosa gerida em preciosos segundos espelha, por si mesma, os gritantes contrastes do mundo da realidade. Quando depois de uma notícia sobre o futebol dos milhões vem uma outra que mostra a pior miséria de Darfur, que sentir? Ou quando depois das vedetas da canção vem a reportagem das crianças raptadas, exploradas e tratadas como…, que pensar e como viver? 2. As próprias estradas da informação electrónica estão cheias dos já famosos números trágicos que, entre tantas imagens sensibilizantes e chocantes colocam de um lado as crianças americanas obesas de gordos hambúrgueres e, do outro, as famintas crianças da Somália que nos comovem com seu inocente e suplicante olhar. Que fazer, quando a vida diária tem de seguir o seu percurso normal? Será que, no hábito de tanto ver, vamos perdendo a sensibilidade e abdicando do compromisso diário em fazer o melhor possível? A era, a que chamamos da informação global, está aí a mostrar-nos tudo; sem meias palavras nem meias imagens, vamo-nos habituando a ver tudo, mesmo os maiores contrastes (e trastes) de um mundo que, a partir de cada pessoa e cada instituição, com tanto proclamado “conhecimento” teria de ser bem melhor. 3. Como sublinha o sociólogo Alain Touraine (na sua interessante obra Iguais e Diferentes. Poderemos viver juntos? Piaget, 1998), no âmbito desta influência que gera opinião pública mundial, «os meios de comunicação ocupam um espaço crescente na nossa vida e, dentre eles, a televisão conquistou um lugar central porque põe mais directamente em relação a vivência mais privada com a realidade mais global, a emoção face ao sofrimento ou à alegria de um ser humano com as técnicas científicas mais avançadas.» Todos, consciente ou inconscientemente, estamos a ser moldados com os valores e limites do poder das comunicações; com a força e velocidade da “imagem”, que vai substituindo a serenidade e o conteúdo da “mensagem”, somos menos livres que o que pensamos, e a forma de fazer sobreviver a “liberdade” exigirá uma síntese existencial de quem faz “opção” clara pelo Ideal, pelo Valor, pela Qualidade de Ser. 4. Nesta novo contexto em que todo o Mundo entra pela Pessoa, pela Família, pela Escola, pela Instituição que se não se agiliza perde-se excessivamente no seu peso formal, trata-se, como diz Touraine, de uma nova «relação directa que elimina as mediações entre o indivíduo e a humanidade e corre o risco, ao descontextualizar as mensagens, de participar activamente no movimento geral de dissocialização. A emoção que todos sentimos das imagens de guerra, de desporto ou de acção humanitária, não se transforma em motivações e em tomadas de posição. Não somos muito mais comprometidos quando vemos os dramas do mundo que quando vemos a violência no cinema ou na televisão.» 5. Será que de tanta abundância no Ver (as graças e desgraças do mundo) vamos ficando existencialmente indiferentes? Até onde nos levará este mundo que entra por nós dentro e nos deixa demasiadamente pequenos para tantos desafios inadiáveis? Quando o espírito de decisão política se revestirá mais de um sentido de humanidade generoso para ser possível a salvação do planeta? Que dirão os números desumanos dos contrastes ao G8? Convivem pacificamente com o seu lauto e supérfluo banquete enquanto vêm as imagens da magreza que muitas vezes eles próprios por conveniência geoeconómica fazem persistir? Neste tempo global os grandes decisores políticos mundiais fazem persistir o escândalo gritante da desumanidade, esta que produz a desigualdade crescente…e nem ainda sequer a vontade política ecológica triunfa para haver futuro sustentável. Mas estamos também nós dispostos a mudar os hábitos? Andaremos distraídos, esquecendo que ao permitir o semear de ventos as tempestades serão a nossa própria dramática colheita?! 6. Soa a passividade indiferente o manter de equilíbrios estratégicos e diplomáticos enquanto a fome de pão e a sede de água e de dignidade humana (a par do problema ambiental) dizimam milhões de pessoas como nós, facto que interpela cabalmente os países mais ricos (à custa dos pobres) e as instâncias universais da ONU e os seus/nossos (já perdidos?) Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Sendo verdade que muitíssimo caminho louvável já está percorrido, o certo é que a visão dependerá grandemente dos óculos que se queira pôr: aos grandes olhos superficiais de um diplomata ocidental, que todos os dias tem pão e água, vamos andando e adiando; aos magros olhos de que sofre na pela a tragédia, vamos sobrevivendo até a desespero final, onde já não há força para gritar até porque ninguém ouve. 7. Um NOVO REALISMO, diante destes contrastes alarmantes, precisa-se; todo este mundo que hoje entra pelas Pessoas, Escolas, Famílias e Trabalho dentro merecerá ser acolhido, estudado e vivido na busca clara e inequívoca de todos envolver na procura rigorosa de um ideal comum; a este chamaríamos uma EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA. É essencial cada criança habituar-se e cada pessoa saber do valor apreciável de uma gota de água do outro lado do mundo (que está ali) para dar valor a cada copo de água fresca e crescer numa consciência de humanidade que saiba partilhar! Sim, qual o Valor da água? É pelas coisas simples que vamos!...

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