POVOAMENTO DA GAFANHA
Caríssimo:
Continuemos no reino da magia e da imaginação, mas incluamos uma forte dose de estudo e de investigação. Que resultará?
Ainda na companhia do padre João Vieira Resende e lendo a sua Monografia, 2.a edição, na página 47, verificamos que tira as seguintes conclusões:
“1.º que o povoamento da Gafanha começou seguramente cerca do ano de 1677, época relativamente muito recente, mas mais remota do que muita gente julgava;
2.º que, embora se não saiba de cultivadores existentes na Gafanha antes de 1677,prova-se no entanto que as suas terras já produziram pão, o que nos indica ter havido cultivadores anteriormente e, portanto, que o seu povoamento provável teria começado antes de 1677;
3.º que esse povoamento foi feito, pode dizer-se, quase exclusivamente pelos povos vindos da freguesia de Vagos e, mais, que eles ainda continuaram a povoar até uma época muito próxima;
4.º que os povos de outras freguesias só muito tarde e muito frouxamente contribuíram para o povoamento;
5.º que a infiltração destes povos na Gafanha, a princípio morosa e depois quase tumultuária, se explica e justifica documentalmente por necessidades de expansão e de cultura;
6.º que só frouxamente se pode dar foros de verdadeira à tradiçaõ de que seriam quatro criminosos os fundadores da Gafanha.”
Pois bem, em 1995, o nosso conterrâneo dr. Manuel C. Fidalgo, no livro «Açores – Ensaios de Sociologia», a páginas 479-480, dá-nos a sua opinião nestes termos:
“...[O]s róis de tripulantes dos barcos de bacalhau, matriculados no Porto de Aveiro, na primeira metade do século XVI, já apontam nomes de pescadores naturais dos lugares que hoje constituem esta freguesia e vila [a cidade da Gafanha da Nazaré]. É que já em 1506 saíam barcos de Aveiro para os bancos da Terra Nova. E, igualmente, penso que alguns dos marnotos e moços que trabalhavam as salinas, já em 1514, eram naturais e residentes na península da Gafanha. [...]
Com o decorrer dos séculos e com a passagem da barra para o Sul das Gafanhas as salinas do interior foram desaparecendo, substituídas por outras mais próximas da costa. Sabe-se, assim, que no início do século XVI já existiam as da Cale da Vila e Marinha Velha, trabalhadas por «marnoteiros» e moços que se presume habitarem próximo e não virem, diariamente, de Aveiro ou Ílhavo. Além do mais tinham guarnição próxima, no Forte então existente, local de controlo e defesa da Barra assim como posto alfandegário.
É de notar, também, que a primitiva imagem de Nossa Senhora da Nazaré é do século XVI, o que demonstra a existência possível de local de culto, tendo por orago esta invocação à Virgem.
Pescadores de bacalhau, marnotos e moços, servos dos vínculos e pessoal do forte da Barra foram, de certo, os primeiros habitantes a fixar-se no Norte desta Península a partir, pelo menos, do século XVI. A Gafanha da Nazaré, mais propriamente os seus lugares, não teve os seus primeiros habitantes só no século XVII como tem sido escrito. Para mim o início do povoamento é anterior de um ou mais séculos pela necessidade do controlo do porto.”
Assunto e matéria para conversa amena aí está; prometo, se Deus quiser, voltar ao assunto.
Manuel
Caríssimo:
Continuemos no reino da magia e da imaginação, mas incluamos uma forte dose de estudo e de investigação. Que resultará?
Ainda na companhia do padre João Vieira Resende e lendo a sua Monografia, 2.a edição, na página 47, verificamos que tira as seguintes conclusões:
“1.º que o povoamento da Gafanha começou seguramente cerca do ano de 1677, época relativamente muito recente, mas mais remota do que muita gente julgava;
2.º que, embora se não saiba de cultivadores existentes na Gafanha antes de 1677,prova-se no entanto que as suas terras já produziram pão, o que nos indica ter havido cultivadores anteriormente e, portanto, que o seu povoamento provável teria começado antes de 1677;
3.º que esse povoamento foi feito, pode dizer-se, quase exclusivamente pelos povos vindos da freguesia de Vagos e, mais, que eles ainda continuaram a povoar até uma época muito próxima;
4.º que os povos de outras freguesias só muito tarde e muito frouxamente contribuíram para o povoamento;
5.º que a infiltração destes povos na Gafanha, a princípio morosa e depois quase tumultuária, se explica e justifica documentalmente por necessidades de expansão e de cultura;
6.º que só frouxamente se pode dar foros de verdadeira à tradiçaõ de que seriam quatro criminosos os fundadores da Gafanha.”
Pois bem, em 1995, o nosso conterrâneo dr. Manuel C. Fidalgo, no livro «Açores – Ensaios de Sociologia», a páginas 479-480, dá-nos a sua opinião nestes termos:
“...[O]s róis de tripulantes dos barcos de bacalhau, matriculados no Porto de Aveiro, na primeira metade do século XVI, já apontam nomes de pescadores naturais dos lugares que hoje constituem esta freguesia e vila [a cidade da Gafanha da Nazaré]. É que já em 1506 saíam barcos de Aveiro para os bancos da Terra Nova. E, igualmente, penso que alguns dos marnotos e moços que trabalhavam as salinas, já em 1514, eram naturais e residentes na península da Gafanha. [...]
Com o decorrer dos séculos e com a passagem da barra para o Sul das Gafanhas as salinas do interior foram desaparecendo, substituídas por outras mais próximas da costa. Sabe-se, assim, que no início do século XVI já existiam as da Cale da Vila e Marinha Velha, trabalhadas por «marnoteiros» e moços que se presume habitarem próximo e não virem, diariamente, de Aveiro ou Ílhavo. Além do mais tinham guarnição próxima, no Forte então existente, local de controlo e defesa da Barra assim como posto alfandegário.
É de notar, também, que a primitiva imagem de Nossa Senhora da Nazaré é do século XVI, o que demonstra a existência possível de local de culto, tendo por orago esta invocação à Virgem.
Pescadores de bacalhau, marnotos e moços, servos dos vínculos e pessoal do forte da Barra foram, de certo, os primeiros habitantes a fixar-se no Norte desta Península a partir, pelo menos, do século XVI. A Gafanha da Nazaré, mais propriamente os seus lugares, não teve os seus primeiros habitantes só no século XVII como tem sido escrito. Para mim o início do povoamento é anterior de um ou mais séculos pela necessidade do controlo do porto.”
Assunto e matéria para conversa amena aí está; prometo, se Deus quiser, voltar ao assunto.
Manuel