quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

MAIS UM ATAQUE
INJUSTO
À IMPRESNA REGIONAL
Orientações recentes sobre a imprensa regional vão levar ao fim do porte pago dos jornais enviados aos emigrantes, bem como à proibição de se oferecer o jornal a quem quer que seja, mesmo aos que nele colaboram e às instituições abertas a todos. A luta contra a imprensa regional vem de longe e alguns quadrantes políticos se lhe mudaram a forma, não mudaram os objectivos. Porém, é ela que faz com que não aumentem cada dia os analfabetos letrados, mostra o país real e abre as janelas do mundo, que aproxima as pessoas dos objectivos comuns e aperta laços de vida, que denuncia as prepotências dos diversos poderes e lança iniciativas que respondam a necessidades concretas que uns ignoram e outros abafam. O que se anuncia agora, já com data marcada, além de ser um mau passo, dado por um poder que teima, em muitos aspectos, viver à margem da vida dos cidadãos, é, ao mesmo tempo, uma medida inconcebível que entra, talvez sob pretexto orçamental, por um caminho tão injusto, como perigoso. Um dos laços mais fortes dos emigrantes à sua terra é o jornal da região. Quem visita emigrantes por esse mundo fora ou com eles contacta quando por aí passam férias, sabe que assim é. Os deputados pela emigração já se aperceberam desta medida ou foram ouvidos sobre tais decisões do governo? Acabar com o porte pago quer dizer, traduzido em números, que um emigrante, assinante do jornal semanário da sua terra, terá de pagar, além da assinatura, mais umas centenas de euros. Mas quer dizer ainda, e isto é muito grave, que vivam lá eles pelas terras onde trabalham, o importante é que mandem divisas e façam investimentos. Se se forem secando os afectos que ainda os ligam ao país e à terra onde nasceram, isso é de somenos importância… Todos sabemos como se exprime a sensibilidade dos que lutam pela vida em terras estrangeiras, quando se lhes toca na sua pessoa, sentimentos e interesses. Está aí ao rubro este seu sentir pelo facto de se fecharem consulados, obrigando a deslocações impensáveis, para tratar dos seus problemas. E já vem aí outra medida que os agride… Ainda neste contexto de livre opinião, é bom que se saiba que a imprensa regional vive, em grande parte, de colaboradores graciosos. Escrevo regularmente nos jornais há quase cinquenta anos. Nunca recebi, nem pedi, nem aceitei como paga desta colaboração regular, mais do que a oferta do jornal onde escrevo. Pois, daqui em diante, a administração terá de pagar o jornal que me envia, ou então pagá-lo eu, ou deixar de o receber. Assim mesmo. De igual modo, e por igual razão, vão acabar as ofertas de jornais para escolas, hospitais, centros de convívio e por aí adiante. Quem quiser ler terá de pagar. Uma tristeza sem nome, que mata tantas coisas lindas e louváveis. Não descortino razões para estas medidas, que não sejam o propósito de asfixiar, a pouco e pouco, a incómoda imprensa regional. Um propósito que vem do tempo do PREC. Foi então que se lhe chamou reaccionária, um nome sempre à mão de cabeças vazias de ideias e de corações encarquilhados por ódios e preconceitos. Eu compreendo medidas que ajudem a qualificação dos jornais, estimulem a sua leitura, os tornem desejáveis e esperados. Ao Estado cumpre o estar atento ao que se faz de bem e interessa às populações, e empenhar-se para que se faça mais e melhor. Por este caminho não vai lá. Vou-me interrogando, seriamente, se, para quem governa, a almejada democracia afinal ajuda o país a crescer ou é um empecilho ao seu crescimento. Não voltaremos mais ao pensamento dominante e único de uns tantos inteligentes que já nasceram ricos e agora governam e decidem sem apelo, em contraponto com o povo, que, felizmente, já não se resigna a que outros pensem por ele e o queiram calar por incómodo. Matar a imprensa regional é agredir o povo e as iniciativas de quem quer participar e tem direito a fazê-lo.

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