Mais filosofia,
menos (anti)depressivos
1. A forma de viver acelerada deste nosso “tempo ocidental” tem trazido consigo inúmeras consequências para a saúde pessoal (e por isso) social de espírito, saúde esta que se quer sempre fresca, estimulante, criativa, repleta de horizontes que saibam redescobrir continuamente a paz (mesmo no meio da tempestade). Mas a prática é bem diferente; são hoje inúmeras as causas que levam a números dramáticos da recorrência – em excesso – ao antidepressivo como forma de ir (sobre)vivendo na gestão complicada da vida. Será isto “viver”?! E o caso agrava-se ainda mais quando na agenda não há tempo nem sabedoria sobre este olhar para si mesmo na busca de uma “estima” serena; fica mais difícil ainda quando menos se reinventam os tempos de paz, de reequilíbrio, no desporto, numa caminhada, no horizonte do sentido da vida que na dimensão da Religião (re-ligação) promove a dignidade de humana a divina, buscando uma harmonia que assim refresque a própria existência e faça ver na “noite” mais escura dos problemas a luz da “esperança luminosa” que pode brilhar.
2. Ou seja: parece que cada vez mais, e quantas mais “coisas tecnológicas” as mãos tiverem mais será importante este sublinhar, a vida é um imperioso desafio a saber situar-se diante de tudo o que existe e a buscar uma harmonia equilibrada para a própria vida. Lendo a história que nos precede, apercebemo-nos que o viver das sociedades ao longo dos séculos têm os seus percursos que vão criando as formas de estar na vida; e tudo é pensado, premeditado, idealizado, mesmo o próprio “afastamento” das ideias, dos sonhos, dos ideais. É, talvez, este o terreno complexo da sociedade presente; por conjunturas e/ou preconceitos, tendo rejeitado a Religião (esta sempre nostálgica, que também “teima” em não saber acompanhar a contemporaneidade) como ponte suprema de sentido do SER, da vida encontrado no Absoluto de Deus, e tendo afastado também já a Filosofia como procura inquietante da Verdade para a Humanidade, está, a sociedade desta globalização do Século XXI, rendida às coisas e tecnologias, por isso dando ainda mais Valor ao TER, esquecendo o que o essencial continua a ser “invisível aos olhos”. E depois admiramo-nos da crise da Ética! Ou então daquela jovem modelo brasileira anoréxica que, de tão leve pela procura da elegância da moda, falecera há dias. Não nos admiremos, pois é isto que as referências actuais – cada vez menos pensantes - permitem e constroem.
3. Vêm a propósito estas ideias escritas no contexto da oportuna e “irreverente” obra daquele homem que se apercebeu que a filosofia, o habituar a pensar, o trabalhar a mente (coisa que os orientais sabem bem mais que nós) poderá ser um potencial de transformação da própria vida. Felizmente que alguém com esta grandeza aventurou-se a tamanha obra. Ele (que esteve em Portugal há dias) inaugurou o conceito de “Consultas de Filosofia” que dá, procurando seguir a luz da filosofia ao longo dos séculos na sua aplicação às questões do (vazio no) mundo contemporâneo. Lou MARINOFF, professor em Nova York especializado em Filosofia (pioneiro do movimento da prática filosófica e Presidente da APPA – American Philosophical Practitioners Association) é autor da obra de referência, com o título: “MAIS PLATÃO, MENO PROZAC!” Trata-se de um trabalho que não é um fim si mesmo, mas um forte estímulo (de divulgação) a ser revalorizado todo o património da sabedoria que nos conduziu ao presente. É que quanto mais a superficialidade inundar de vazio o ser humano menos qualidade de sentir, estar, pensar e gerir existirá.
4. Por outras palavras, sem “filosofia de vida” não se irá a lado nenhum, sendo o caminho um à deriva sem referências que valham a pena. Quem sabe um dia os estudantes façam uma manifestação pedindo: “Queremos educação filosófica!” Quem sabe se muitas depressões futuras seriam afastadas pela habilidade encontrada em gerir o pensar, a vida, o ser profundo. É importante demais o habituar a pensar para haver tão pouco tempo lectivo dedicado ao SER DA PESSOA. É que por traz de qualquer técnico há sempre uma pessoa, e, sabemos, quanto mais pessoa for melhor profissional será. Também, valerá a pena referir que a própria filosofia é um caminho de busca; esta deverá, na sua maior elevação, criar ponte para o Absoluto (que por sua vez deve procurar a sua personalização mais sublime). Como nos diz Eduardo Lourenço, “as religiões são as tentativas de resposta, as mais subtis e sublimes que os homens foram capazes de imaginar, para converter a necessidade e o destino, a violência e o mal em existência que salva e liberta.” (Eduardo LOURENÇO (1998). Religião – Religiões – Laicidade, in Europa e Cultura, Ed. Fundação Calouste Gublenkian, Lisboa 1998, pág. 13.)
5. Queremos conhecer a PESSOA que há em nós e subir nas nossas possibilidades de ser, pensar e agir (ou basta umas compras com stress, a TV, o telemóvel e a Internet)?! Todo o futuro (especialmente dos mais novos) começa agora; pensá-lo já é transformá-lo! Será mais Natal!