CORAGEM DO PAPA
A visita do Papa à Turquia começou emoldurada por nuvens negras. Os fundamentalistas islâmicos ameaçaram como já se esperava. Com a ajuda, claro, de partidos políticos que patrocinam a violência e incitam ao terrorismo. Mas Bento XVI chegou à Turquia sereno e preparado para enfrentar a situação hostil que o aguardava. Sereno e sem medo.
O Papa disse o que tinha a dizer, alertando para aquilo que muita gente ignora: na maioria dos países islâmicos não há liberdade religiosa para os cristãos de todas as denominações. Nem na Turquia, um Estado laico do mundo muçulmano. Ali, todos os crentes do islão gozam da liberdade plena e possuem todas as regalias. Mas os cristãos, esses, vivem intimidados e sem liberdade para expressarem a sua fé.
Na Europa, os islâmicos podem viver a sua fé em paz, podem construir mesquitas até com ajudas dos Governos e são respeitados. Mas os cristãos, nos países de maioria islâmica, tem que permanecer calados, apenas podendo viver os seus cultos de portas fechadas. Por isso, o Papa disse, com a voz serena mas forte da razão, que "a liberdade religiosa é uma expressão fundamental da liberdade humana". E disse-o na certeza de que a Turquia, se quer entrar na UE, tem de patrocinar e assegurar esse direito a todos os seus cidadãos, sejam eles islâmicos, cristãos ou de outras crenças.
:::::
DISSE O PAPA:
"Após ter acenado à questão da liberdade religiosa no encontro com o presidente para os assuntos religiosos da Turquia, Bento XVI centrou a sua intervenção junto dos diplomatas acreditados neste país na necessidade de “garantir e proteger” o respeito pela liberdade de consciência e de culto.
Começando por sublinhar a dimensão central do “compromisso em favor da paz”, o Papa passou para a esfera dos direitos, defendendo que num país democrático há que garantir “ a liberdade efectiva para todos os crentes e permitir-lhes que organizem livremente toda a vida da sua própria comunidade religiosa”.
“A liberdade religiosa é uma expressão fundamental da liberdade humana”, assinalou, pelo que “a presença activa das religiões na sociedade é um facto de progresso e de enriquecimento para todos”.
As minorias religiosas na Turquia têm dificuldades em afirmar os seus direitos, apesar desta ser um Estado laico. No caso dos católicos, cerca de 0,04% da população (dados oficiais do Vaticano), as dioceses, paróquias e institutos religiosos da minoria não beneficiam, neste momento, de reconhecimento jurídico por parte do Estado e os seus responsáveis — bispos, párocos, superiores religiosos —não são reconhecidos como “ministros de culto”. Os seus direitos de propriedade sobre imóveis (igrejas, conventos, escolas, hospitais) não são reconhecidos como tais, sendo unicamente registados com o nome de privados ou como fundações particulares."
::
Leia mais em Ecclesia