Um guarda-redes
com Fé
1. Não tenhamos dúvidas, Deus não joga por clube contra outro; Deus não é de uma selecção em desrespeito da outra. “Trazer” Deus para o campo de futebol na procura da mágica vitória não se comprometendo cada dia com uma busca de sentido divino para a vida não será outra coisa senão “superstição”. Todavia, tal como dizemos que “Deus não joga”, também deveremos dizer que “Deus ajuda que acredita…”, pois quem acredita fica mais “leve” em situações humanamente difíceis e pesadas em que todos os “nervos” deitariam tudo a perder.
É pretexto destas linhas o já habitual sofrido jogo Portugal – Inglaterra do Mundial de Futebol, em que no final alguém comentava que o guarda-redes “Ricardo é uma pessoa de Fé, ele é uma pessoa de Fé!” Ao acolher este testemunho, rapidamente vale a pena reparar mais a fundo sobre o comportamento dos guarda-redes, o “peso” do momento decisivo com o olhar de todo o mundo, as mil razões lógicas para quem defende e quem marca estar nervoso, a natural e compreensível falta de serenidade diante de um justificado oceano de “nervos”, a noção do “momento histórico” que atrapalharia todo o reflexo necessário para uma defesa que seja.
O certo é que a “calma”, provinda da luz da Fé que da “tempestade da adrenalina ao rubro” gera “a bonança da concentração e leveza interior”, tanto foi incómodo para os rematadores ingleses como reflexo apurado e intuição certeira para o calmíssimo e confiante Ricardo. É por isso que valerá a pena “tirar esta lição”: sem a libertação interior, existencial, as tempestades de nervos atrapalham qualquer jogada, perturbam o ser humano impedindo o acesso ao seu melhor; sem a libertação interior a ansiedade profunda faz o seu caminho perturbando a “saúde” espiritual. Com o sentido da Fé, que gera paz interior, tudo pode ser diferente; claro que não a Fé fanática das frases feitas que aposta no “mágico” que viria substituir a responsabilidade e o empenho, como se “Deus jogasse por nós…” Esta visão de Fé, ainda a precisar de muita purificação, infelizmente existe e tanto será menoridade para quem a vive como naturalmente dificulta o “discurso” partilhado com o mundo contemporâneo. Sim a Fé, a Esperança profunda, projectada até ao infinito e depois em Deus-Pessoa…que vem iluminar divinizando o sentido de Humanidade. Este sentido de Fé, ainda que navegando na fronteira que cria pontes de esperança com o “outro” diferente, libertará, dará a paz, concentração, serenidade em hora determinante…
2. Nesta era de excelentes racionalidades e tecnologias, todavia tempo de pobreza de valores relacionais e de desencantos de sentido, talvez valha mesmo a pena sublinhar que se se pretende dar mais um pouco de cor e luz interior a todas as horas do “jogo da vida”, então será mesmo essencial ir vivendo e semeando poesia, esperança, Fé. Sem esta luz interminável (luz da Fé que estará um patamar acima das codificações interpretativas diversas dos esquemas das religiões – estas são já também a expressão de vivência comunitária com maturidade desejada, sempre crescente), sem essa luz tantas vezes as vidas tornam-se escuras, vazias de sentido, geram-se tempestades num copo de água, o clima fica frio dificultando a vivência saudável com o “outro”.
No meio da baliza, a Fé ajudará a acrescentar “paz” à turbulência da “ansiedade” lógica. Que outra realidade, tantas vezes, não precisamos mais que não seja a sabedoria para acalmar as tempestades? Ou ler nelas o desafio a reconstruir a maturidade desejada? É grande e belo quando as pessoas “confiam”…; é empobrecedora e pobre a vida de quem só confia em si mesmo, esquecendo-se que sem “outros” não vive. Uma vida que procure uma luz sempre presente, ainda que as palavras digam outra coisa é uma vida que assume a humildade capaz de procurar mais e mais, esse é o grandioso caminho da Fé que, com a razoabilidade (fé com inteligência) necessária renova as possibilidades e horizontes da vida.
3. Que bom seria uma sociedade onde cada um, na riqueza da diversidade de suas expressões, tivesse a oportunidade de partilhar de forma plural a sua canção, poesia, esperança! Que seca e culturalmente asfixiante a visão que, espelhada já em sistemas de conceitos e preconceitos, procura afastar a pluralidade de visões e dos sentidos de Vida e de Fé da própria sociedade! Não há nada mais importante que a oportunidade, feita crescimento de aprendizagem comum, de se conversar, debater, conhecer o outro, partilhar a ideia, duvidar como caminho, procurar uma síntese sempre construtiva e inclusiva com as “achegas” de todos os contributos!
Talvez valha a pena sublinhar que, não estando na moda, uma inteligência que humildemente se deixa iluminar pela Fé, voa bem mais alto, aproximando-se a vida pessoal de uma realização mais plena, onde a “sensibilidade inclusiva com o outro” será expressão viva de Fé geradora de grandeza de Humanidade. Estes são os que ficam para a história, pois contra ventos e marés mantêm a serenidade pois vivem a humilde grandeza de confiarem para além de si mesmos… Assim, ficam mais leves, com o mais apurado discernimento agarram todas as bolas!
Esta é a pergunta essencial: que queremos para nós e para os vindouros?... O caminho da felicidade e paz que se procura está para além da fascinante lógica das coisas; se ficamos por aqui, a meio do caminho só pelo “visível”, o peso dos acontecimentos turbulentos “secará” toda a esperança. O rumo da vitória nos jogos da vida, no superar-se a si mesmo e reciclando continuamente “forças” para recomeçar, exige capacidade de abertura, transcendência, Fé! Seja este o caminho da arte de viver com gratidão e esperança. Não dando “lucro” nem nada de extraordinário na “hora”,… o mundo será melhor, pois as pessoas serão interiormente mais saudáveis e mais felizes e solidárias! A sociedade de todos bem precisa!