quinta-feira, 1 de junho de 2006

Um artigo de D. António Marcelino

DOIS CASOS
CURIOSOS
DE PAÍSES
INSUSPEITOS O primeiro passou de raspão pela comunicação social, que depressa se calou. Do segundo, só me dei conta na imprensa estrangeira, pois não seria politicamente correcto ser sequer referenciado entre nós. Ambos são fruto de iniciativas e medidas de governos legítimos da União Europeia, a Inglaterra e a Alemanha, e coincidem com grandes preocupações de um e de outro país, no que se refere à educação escolar e ao resultado da mesma em relação ao presente a o futuro dos alunos que frequentam as escolas. O governo inglês levou ao Parlamento uma proposta de lei que foi aprovada, não obstante alguns votos contrários do partido que o sustenta, abrindo caminho para confiar a instituições particulares, (associações de pais, associações educativas, instituições religiosas, grupos organizados de professores e educadores…) as escolas estatais. A medida baseia-se na convicção de que as escolas particulares ou cooperativas, no conjunto do país, funcionam melhor e com melhores resultados que as oficiais. Certamente que haverá regras e exigências concretas para estas novas escolas. A mentalidade estatizante, partidária ou não, reagiu de imediato à proposta de lei e à aprovação da mesma. Mas o governo de Sua Majestade, consciente do que fazia e mesmo das críticas, manteve a decisão e vai dar-lhe seguimento. A sua preocupação, muito legítima, não é de ordem partidária ou ideológica, mas de serviço ao bem comum, às famílias e às novas gerações. O governo de Angela Merkel, ao apreciar a perda de valores éticos e morais da gente nova e a incapacidade de esta geração ser educada e enriquecida com valores indispensáveis à vida pessoal e em comunidade pelas escolas do Estado, propõe uma “Aliança para a Educação”, com a participação da Igreja Católica e da Igreja Evangélica, dado que estas são as grandes confissões religiosas do país. O argumento é claro: como dificilmente se podem adquirir valores consistentes na educação à margem dos valores religiosos, e se estes no país são, predominantemente, os valores do cristianismo, serão estas instituições que melhor poderão colaborar num processo educativo com futuro. Não se excluem outras confissões religiosas que, pela sua seriedade e consistência, possam também colaborar. A Ministra da Família, que apresentou e promove este projecto governamental, parte da experiência da sua própria família e do que deseja, como mãe, para os seus sete filhos. “As Igreja e suas associações, diz a ministra, são grandes aliados neste esforço comum por estabelecer em todo o país uma forte rede em ordem ao cuidado e à formação dos alunos, que se entrelaça e maneira muito particular com os direitos sociais e morais”. No mesmo contexto, diz ainda que “valores como respeito, fiabilidade, confiança e sinceridade são uma valia protectora que ajuda os nossos filhos a caminhar pelas sendas da sua vida” e explica que, “assim como se deve aprender bem a própria língua para depois poder aprender outras, é conveniente ter conhecimentos claros sobre a religião própria, para dialogar com outras confissões religiosas” e até, acrescento eu, com os que se dizem ateus ou agnósticos. Com uma forte decisão de proporcionar meios educativos válidos “num mundo cada vez mais inseguro e incontrolado, há duas coisas, diz Úrsula von der Leyen, a ministra, em que podemos influir pessoalmente que ganham cada vez mais importância: a família e a religião”. É curioso como alguns políticos e intelectuais, sempre prontos para comparar o que se passa em Portugal e nos países mais evoluídos da Europa, desconheçam ou calem o que, em aspectos fundamentais da vida aberta ao futuro, se procura e tenta nesses países. A destruição da família, o relegar da religião, o marasmo da educação não terão nada a aprender com estes dois casos paradigmáticos, por cá ignorados ou rejeitados?

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