em Auschwitz discutidas
por todo o mundo
Dois dias depois da passagem de Bento XVI pelo campo de concentração nazi de Auschwitz, continuam vivas as discussões sobre as suas palavras no local de morte, onde procurou a reconciliação com todos os que sofreram os horrores do regime de Hitler. A visita do Papa ao antigo campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau foi saudada pelo grande rabino da Polónia, Michael Schudrich, descrevendo-a como “um grande momento no processo de reconciliação” entre cristãos e judeus. Bento XVI denunciou a Shoah (Holocausto), não deixando de confessar que, “para um cristão e para um Papa alemão”, era difícil exprimir-se no cenário central do genocídio dos judeus da Europa.
Mais de um milhão e 100 mil pessoas foram mortas em Auschwitz-Birkenau entre 1940 e 1945. Apesar de, como lembrava o jornal católico francês “La Croix”, Bento XVI ter sido bastante mais explícito na condenação da Shoah do que João Paulo II, jornalistas e analistas esperavam do Papa uma palavra mais forte sobre as responsabilidades dos alemães – tendo atribuído o genocídio a um “grupo de criminosos” que utilizou o povo alemão como “instrumento da sua sede de destruição e de poder”.
Para entender estas palavras, é preciso levar em conta que o Papa falou para muitas pessoas: o povo polaco, os judeus, os ciganos e os próprios alemães. Uma das lições da sua passagem por Auschwitz é que a reconciliação se faz com todos. O Pe. Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia da UCP e responsável pelo Departamento das relações ecuménicas e do diálogo inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, destaca a presença de representantes de várias comunidades, em Auschwitz, lembrando os vários grupos que sofreram os horrores do nazismo. “Ele não reduziu Auschwitz à comunidade judaica, evocou a comunidade dos ciganos, os polacos – um povo que foi dizimado -, os russos e os próprios alemães que morreram ali, considerados como lixo”, lembra.
A referência à comunidade judaica, em especial, ficou marcada pela "dimensão teológica" que esteve presente na perseguição, que tinha em vista "eliminar aquilo que o Judaísmo representa como testemunho de uma revelação, de uma exigência ética que permanece nos nossos tempos". A questão do “silêncio de Deus” durante o genocídio foi particularmente destacada.
O director da FT lembra que esta é “uma questão clássica na discussão teológica”, à qual Bento XVI dá uma resposta particular: “essa interrogação, dirigida a Deus, deve incidir também no nosso coração, para despertar aí essa presença divina no íntimo de cada um”. “A resposta, de certo modo, começou a ser dada, na medida em que tem surgido, sobre as trevas deste horror, a estrela da reconciliação”, acrescenta o Pe. Peter Stilwell. Bento XVI quis deixar, assim, "um desafio à actual Europa, para que não esqueçam que os grandes valores humanos são essenciais à sua construção" e para as consequências dramáticas desse esquecimento, como se pode ver em Auschwitz.
Fonte: Ecclesia