As fracas audiências de alguns reality shows da SIC levaram à saída do director de programas da estação. O novo director já acabou com um deles. Tratando-se de um programa nada dignificante, é uma boa notícia. Mas há mais segundo o DN de 30 de Setembro, vários anunciantes recusaram associar as suas marcas de vestuário, de móveis, de automóveis, etc., a um outro reality show não menos degradante que permanece em antena.
Reacção semelhante tiveram há anos, em França, algumas empresas de prestígio, quando apareceu o Big Brother e congéneres. Já este ano, no Brasil, importantes empresas aderiram à campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania". Uma campanha que pretende banir da televisão brasileira a violência gratuita e o sexo em doses maciças. Justificou o director da cervejeira Kaiser "O mercado de cervejas não é sustentável se as empresas não adoptarem políticas de responsabilidade social" (Público, 27-02-05).
Não sou ingénuo sei que as mudanças na SIC e as recusas dos anunciantes não decorrem de elevadas considerações morais. E que muita porcaria tem grandes audiências. A SIC mudou porque estava a cair nas audiências e é destas que dependem as receitas de publicidade. A relutância de certas empresas em verem a sua imagem associada ao telelixo resulta de estratégias de marketing. Só que tais decisões apontam, em última instância, para a atitude dos telespectadores se uma parte considerável destes rejeita programas degradantes, eles desaparecem do pequeno ecrã. Para combater o telelixo não aceito censuras nem acredito em auto-regulações. A única via está do lado da procura, não da oferta: haver cada vez mais telespectadores que recusem a "baixaria", não se limitando a dizer mal dela. É um caminho longo, que começa a ser percorrido entre nós.