A Água para a Vida
“Não é culpa minha se o corpo humano não pode resistir três dias sem beber. Não me sabia assim tão prisioneiro das fontes. Não suspeitava uma tão curta autonomia. Uma pessoa acredita que o Homem pode ir sempre em frente. Uma pessoa pensa que o Homem é livre... e não vê a corda que o amarra ao poço, que o amarra, como um cordão umbilical, ao ventre da Terra. Se dá um passo mais, morre.”
in Terres des Hommes,
Antoine de Saint-Exupéry
A água... A água, esse bem precioso que nos foi dado/emprestado por Deus como um recurso natural deste Planeta Azul, está, tal como outros bens, a ser utilizado irresponsavelmente pela civilização ocidental. Apesar de 70% da superfície do Planeta Azul ser água, apenas 2,5% desta é doce e menos de 1% está, de facto, disponível. Porém, esta seria suficiente para a vida humana, se não insistíssemos no seu consumo desenfreado — não fosse esta a considerada sociedade de consumo! — e num desenvolvimento não sustentado.
As actividades agrícolas e industriais são as que mais consomem, mas o uso residencial não deve ser esquecido. Cada cidadão europeu gasta, em média, entre 110 a 250 litros de água por dia. No terceiro mundo, esse consumo não ultrapassa os 10 litros por dia. Actualmente, 223 milhões de pessoas de 26 países vivem sem água potável, 400 milhões de pessoas consomem água a um ritmo superior à renovação do recurso e 3,5 milhões de pessoas (sobretudo crianças) deverão morrer, em África e Ásia, com doenças associadas à água. Retratam estes números um Planeta em equilíbrio ou reflectem as assimetrias que todos nós já conhecemos?
No ano 2025, dois terços da população mundial viverá em países com grandes problemas de água, se não mudarem as políticas em relação ao seu consumo e, cada vez mais, se referem potenciais conflitos pelo ouro azul, a água. A União Europeia, como um todo, não apresenta problemas de falta de água, mas alguns estados-membros, incluindo Portugal, revelam algumas fragilidades. A seca prolongada que temos vindo a sofrer ilustra claramente a situação do nosso país, face à necessidade de melhor gerir o recurso água.
Em 15 de Setembro de 2005, todo o território continuava em situação de seca, com intensidade de moderada a extrema, verificando-se o desagravamento da intensidade da seca em parte das regiões do Norte e Centro. Estas regiões estão numa situação de seca de moderada (7%) a severa (34%). No restante território, mantinha-se a situação de seca extrema (59%). As previsões de alteração climática indicam uma diminuição da precipitação em Portugal, nomeadamente no período do Verão. Já pensámos nas consequências da diminuição da precipitação e no que poderemos fazer? Com certeza que sim! Mas, passámos à prática? Provavelmente em Aveiro, apesar da intrusão salina crescente que coloca em risco os nossos aquíferos, nem por isso.
Não tivemos, tal como no sotavento algarvio, racionamento e mesmo escassez de água, pelo que continuamos a falar da seca com um ar preocupado, mas com os mesmos hábitos de consumo. Achamos sempre, numa atitude tão cómoda, que a nossa acção individual não vai alterar nada. Pois bem, é do somatório de várias acções individuais que resulta a mudança, e não devemos, não podemos!, ficar à espera, passivamente, que os outros, o Governo, a Câmara Municipal, o Instituto da Água ou o Instituto do Ambiente, ajam.
São os pequenos gestos que fazem a diferença:
- Se uma torneira estiver a pingar, feche-a bem; se estiver avariada, mande consertá-la logo. Poupará cerca de 25 litros de água por dia;
- Num banho de imersão gasta cerca de 180 litros de água; num duche gasta 60 litros, se demorar apenas 5 minutos;
- Enquanto escova os dentes ou se barbeia, feche a torneira; assim poupará 10, 20 ou mesmo 30 litros de água;
- Em cada descarga de autoclismo gasta 6 a 10 litros de água; utilize-o só quando for necessário;
- Use as máquinas de lavar loiça e roupa só com a carga máxima;
- Há plantas que necessitam de pouca água; evite regá-las sem necessidade; se possível, reutilize água da lavagem de fruta ou legumes; regue de manhã cedo ou à noite;
- Seja cuidadoso com a rega do seu jardim. Há que mudar de atitude e de hábitos; e isso custa. Talvez precisemos, para nos ajudar, de relembrar a água como símbolo purificador e regenerador. Talvez assim, mais conscientes, consigamos interiorizar a importância deste bem comum e sejamos mais responsáveis na sua utilização.
O Dia Mundial da Água — que ocorre a 1 de Outubro próximo — é um bom dia para (re)começar esta mudança e assumir esta responsabilidade.