Completam-se, no próximo mês de Outubro, cinco anos sobre a constituição e declaração por João Paulo II, de S. Tomás Moro como patrono dos governantes e políticos. Qualquer simples biografia nos dá a imagem dum homem culto, sagaz, com capacidades governativas e políticas singulares. Nascido em Londres soube, primeiro, governar a sua própria casa na família que constituiu e na forma como reunia filhos, genros, noras e netos.
Foi chanceler do Reino e, mais tarde, no reinado de Henrique VIII, eleito pela primeira vez para o Parlamento. Construiu uma carreira brilhante em serviços administrativos, missões diplomáticas, como Juiz Presidente dum importante tribunal e Presidente da Câmara dos Comuns. De moral indefectível, era aberto e divertido, de erudição extraordinária. Em momento particularmente difícil empenhou-se na promoção da justiça e travou com vigor os que procuravam os seus interesses em detrimento dos mais débeis. O texto do Papa que o constitui patrono dos políticos salienta a “firmeza inamovível com que recusava qualquer compromisso contra a própria consciência”. É sabido que entrando em conflito com Henrique VIII foi, primeiro, condenado à pobreza e ao abandono e depois, por sentença do tribunal, decapitado. Em 1535.
A chamada de atenção para este homem, canonizado quatrocentos anos após sua morte, reconduz-nos à observação da vida política como acto de nobreza, com todas os valores e energias que merece uma causa pública, um serviço à comunidade, a defesa de princípios, a integridade associada à liberdade interior.Não faz qualquer sentido colocar na primeira linha dos atributos políticos a ausência de escrúpulos, a habilidade para dizer e desdizer, ou mesmo a opacidade em ideias e princípios, por troca duma eficácia imediatista, com fins à vista sem reserva de meios.
Nesta operação complexa é tão importante o empenhamento ético dos políticos como das populações que elegem. Os políticos saem do povo e deles são reflexo. Por isso ambos constroem a cidade a partir da dignidade inalienável da consciência - ”o centro mais secreto e o santuário do homem”, como diz o Concílio. Exactamente para aqui é chamado S. Tomás Moro, como padroeiro dos políticos. E neste momento em que se definem e discutem perfis de elegíveis para diversas áreas do poder.