D. António completa os 75 anos, agora a idade limite para apresentar ao santo Padre a “carta de disponibilidade”. Sente-se em “fim de carreira”?
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Sinto-me sereno e tranquilo ao entrar nesta fase concreta em que os anos contam. Não é um “fim de carreira”, mas a preparação para viver, em igual dedicação a Deus e à Igreja, os meses ou anos que posso estar ainda à frente da Diocese. Um servidor do Evangelho, presbítero ou bispo, está marcado, por força da escolha e do dom de Deus, recebido na ordenação, por uma disponibilidade gratuita, total, sem condições e para toda a vida, à Igreja e aos irmãos. Por isso continua em missão, independentemente do lugar onde está, do cargo que exerce, dos anos e das capacidades que tem.
Em total comunhão com o Papa, nem outra coisa se pode esperar de um bispo, aguardo a expressão da sua vontade, como tradução do querer de Deus em relação à minha vida.
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Setenta e cinco anos de vida, cinquenta anos de Padre e trinta anos de Bispo. Um longo e diversificado percurso. Sente-se como quem deixa pegadas de paz e sementes de crescimento nas pessoas, nos grupos, nas instituições que fizeram estas suas vidas?
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Sempre me norteou uma vontade de conciliação, construção de paz e colaboração, entre as pessoas, as comunidades, as diferenças legítimas, religiosas, políticas, sociais. Não é sempre fácil permanecer neste projecto, mormente quando o campo em que nos situamos é apoiado por critérios antagónicos, porque vêem e julgam com critérios meramente humanos e eu, como não pode deixar de ser, com critérios evangélicos ou iluminados pela fé. Posso dizer que não tenho ressentimentos de ninguém e o meu interior está pacificado em relação a todos quantos passaram pelo meu caminho e, porventura, com momentos de tensão e de divergência.
O crescimento das pessoas esteve sempre em mim, como propósito e projecto de vida. Ainda na Diocese onde fui ordenado padre há 50 anos, empenhei-me em escolas de formação de leigos em Portalegre, Castelo Branco e Abrantes, em levar os documentos conciliares a toda a parte, em dar à formação lugar cimeiro nas actividades que me foram confiadas. Dei colaboração no pós-concílio a muitas diocese do país e dediquei, durante anos, as minhas férias a Moçambique, Angola e Guiné, em cursos de formação. Aproveitei a presidência das comissões episcopais para lançar as Jornadas Nacionais da Pastoral Social, da Pastoral Familiar e do Apostolado Laical, todas elas em vigor.
Na Diocese, todos sabem da minha preocupação nesse sentido. Estão nesta linha a criação do Instituto Superior de Ciências Religiosas (ISCRA), a formação básica, acção regular de formação junto dos agentes pastorais (catequistas, professores, chefes do CNE…) e a insistência “obsessiva” junto dos padres pela sua formação contínua. A semente foi lançada e continua a ser lançada. Da sua fecundidade só Deus sabe e a Igreja receberá os seus frutos. Assim espero.
(Para ler toda a entrevista, clique Correio do Vouga)