Muitos já nem lágrimas
têm para chorar
Portugal continua a arder. Não no sentido metafórico, mas real. O espectáculo dantesco das labaredas que tudo devoram dá-nos imagens terríveis e mostra-nos dramas de gente, muita gente, que sobre. Vidas inteiras de trabalho são consumidas pelas chamas implacáveis num ápice. Muitos já nem lágrimas têm para chorar. E não se vislumbram soluções para esta tragédia que se repete ano após ano.
A maior mancha de pinheiros da Europa, o nosso petróleo verde, pode ficar reduzida a cinzas deixando milhares de compatriotas nossos com a roupa que trazem vestida. Floresta, casas, animais e outros bens queimados pelas chamas, normalmente de pessoas nada abastadas, tornam Portugal mais pobre, exigindo de todos nós, do Governo e das instituições sociais, uma solidariedade sem limites e rápida.
Depois da solidariedade, é chegado o momento de se procurarem soluções que erradiquem de vez estas tragédias, repetidas todos os anos. Os técnicos e os políticos, os especialistas e académicos, todos, enfim, devem dar as mãos para tentarem descobrir, com bases científicas, os melhores e mais rápidos remédios para estes males que nada perdoam.
As despesas dos combates aos fogos florestais, que são enormíssimas, podem muito bem ser aplicadas em sistemas de prevenção e de vigilância. Mas também num maior número de meios de combate e numa ampla mobilização de profissionais que, de alguma forma, possam complementar o trabalho, a coragem e a abnegação dos bombeiros voluntários, a quem todos tanto devemos.
As imagens horríveis do País a arder, as lágrimas de dor do povo que sofre e o cansaço dos bombeiros sem sono e sem fome não podem ser uma fatalidade de todos os verões. É hora de quem sabe nos dizer qual é o caminho que urge seguir. Quanto antes.
Fernando Martins