As inovações tecnológicas têm dado enormes impulsos ao crescimento económico. Recorde-se o papel da máquina a vapor na primeira revolução industrial, no séc. XVIII. Mas a tecnologia, por si só, não leva ao desenvolvimento. Existiu essa ilusão nos anos 60, quando os computadores começaram a ter importância. Nesse tempo de forte crescimento das economias (em Portugal, não houve outro semelhante) não faltou quem pusesse todas as esperanças nas novas tecnologias. As quais, pensava-se, não só iriam trazer a prosperidade e a democracia, como o fariam ultrapassando a querela ideológica entre capitalismo e comunismo. Uma via consensual, evitando a luta de classes e até o combate às corporações imobilistas. Uma solução indolor, sem exigir grandes esforços nem afrontamentos. A tecnologia mudaria o mundo por nós era só deixá-la funcionar.
A ilusão durou pouco. Os choques petrolíferos dos anos 70 abalaram o optimismo do progresso. O mesmo optimismo que acreditava ir o crescimento económico eliminar a pobreza. Viu-se. Mas o fascínio pela tecnologia é persistente. António Guterres esperava da informática e da Internet a reforma da Administração pública que politicamente não conseguia promover.
Pela mão de Sócrates, a tecnologia está de novo na berlinda. Será que voltou o mito de que as novas tecnologias resolverão os nossos problemas? Há esse risco, de facto. Mas o primeiro-ministro moderou o entusiasmo pelo choque tecnológico que manifestara antes das eleições. A sua atitude parece agora mais sensata. O plano tecnológico é um passo indispensável, mas não milagroso, numa economia como a nossa, assente na fraca qualificação das pessoas e nos baixos salários. Algo que não dispensa a política, única maneira de vencer os interesses instalados. Tal como no défice orçamental.