quinta-feira, 5 de maio de 2005

PORTUGAL em maus lençóis

Em artigo publicado no “PÚBLICO”, ontem, Medina Carreira, especialista em assuntos fiscais, garante que, “Com a economia ‘possível’, queremos manter um Estado ‘impossível’. O aumento previsível da riqueza, na próxima década, não suportará o ritmo do agravamento actual das despesas públicas. Continuando ‘tudo’ como no período de 1995 a 2004, precisaríamos de atingir, em 2015, um ‘nível de fiscalidade’ de 50 por cento. Ou de crescer economicamente, durante uma década completa, à taxa real e anual média de 4,5 por cento. Nem os mais optimistas esperam tanto”. Temos de reconhecer que o nosso país está em maus lençóis, na óptica de Medina Carreira, que há anos anda a denunciar os caminhos errados que as políticas têm seguido. O que mais me espanta é que ninguém o oiça, ao que parece, embora todos saibam que o que ele diz está certo. Para a elaboração deste escrito, Medina Carreira baseou-se em “fontes abertas, conhecidas e identificadas”, de economistas de renome e de estudos credíveis, da “esquerda” e da “direita”, de “socialistas” ou “neoliberais”, de “conservadores” ou “progressistas”, de “revolucionários” ou “reaccionários”. Depois de algumas considerações e análises, traça um quadro muito negro, porque, em sua opinião, “a economia portuguesa não crescerá a taxas médias anuais suficientes”, a fiscalidade “não atingirá os níveis indispensáveis” e não são prováveis “novos e felizes acasos, como os da baixa do custo do petróleo”. Assim, as prestações sociais “só poderiam manter o ritmo de expansão da última década, e até 2015, se houvesse o congelamento de todas as demais despesas correntes primárias, no seu montante actual”. Não sei se este estudo de Medina Carreira vai cair em saco roto ou se vai aparecer por aí alguém que faça uma leitura diferente da realidade portuguesa. Ou ainda, se os nossos políticos serão capazes de estudar soluções que contribuam para tirar Portugal da situação delicada em que se encontra, sem “ferir” muita gente, principalmente a que costuma pagar a factura dos erros dos governantes. "Saco de pedras" Entretanto, no Editorial do “PÚBLICO” de hoje, o Director José Manuel Fernandes apresenta imagens interessantes para explicar o défice aos menos esclarecidos. Diz assim: “Três por cento do défice orçamental correspondem, mais ou menos, a três pontes Vasco da Gama. Seis por cento correspondem a seis pontes Vasco da Gama. Por cada ano que o Estado português gastar mais do que recebe acrescentará, por cada ponto percentual de défice, o custo de uma Ponte Vasco da Gama à dívida pública. Há outra forma de apresentar estes números: por cada ponto percentual de défice cada português ficará corresponsável, pelos serviços que o Estado lhe presta ou não presta, por mais 135 euros da dívida pública. Este ano serão mais de 800 euros por que cada um de nós ficará responsável. Isto quando a dívida do Estado, a dividir por cada cidadão, deverá ultrapassar os nove mil euros. O que corresponde a um pouco menos de dois anos de salários mínimos. É carregando este ‘saco de pedras’ às costas que o país enfrenta o futuro ...” Fernando Martins

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