segunda-feira, 25 de abril de 2005

Um artigo de Paulo Rocha, na Ecclesia

 
Foram repetidos os pedidos de oração pelo Papa Bento XVI, pelo seu ministério, pelo serviço que lhe é confiado, à Igreja e ao mundo. Partiram do próprio Papa Ratzinger, em repetidas afirmações de humildade, entre considerações teológicas ímpares. Sem fazer referências muito explícitas ao programa para o seu Pontificado — porque já o fizera na "mensagem de quarta-feira, 20 de Abril" e porque "não faltarão outras ocasiões para fazê-lo" — a homilia do Papa Bento XVI foi uma mensagem teológica bem ao estilo de um académico invulgar: a Liturgia da Palavra e os sinais específicos desta celebração (entrega do anel e do palio) foram a oportunidade para uma comunicação que informou profundamente sobre a natureza do ministério petrino, entre aplausos que, por 37 vezes, interromperam a voz tímida, mas determinada, do Papa Bento XVI. 
O Papa referiu-se aos "desertos" que atravessam a vida dos homens. Os desertos "da fome, da pobreza", "do abandono, da solidão, do amor destruído", "da obscuridade de Deus"... Muitos desertos que tresmalham ovelhas de um rebanho que se quer junto. Porque assim não acontece, porque há "ovelhas tresmalhadas" entre os cristãos, Bento XVI quis que o Palio que lhe foi colocado tivesse esse significado. "A lã do cordeiro pretende representar a ovelha tresmalhada, ou a doente e fraca, que o pastor coloca às suas costas e conduz às águas da vida", referiu na homilia da celebração aonde o Cardeal Protodiácono lhe colocou o Palio que, ao contrário do Papa João Paulo II, prolonga-se com uma espécie de estola no lado esquerdo, símbolo também dessa ovelha tresmalhada. 
O outro grande sinal deste celebração foi a entrega do anel. O Cardeal Sodano, agora Decano do Colégio Cardinalício (até à eleição de Bento XVI era o Cardeal Ratzinger), entregou o anel de pescador, cuja simbologia o próprio Papa quis comunicar ao mundo: em relação profunda com a missão dos apóstolos serem "pescadores de homens", este anel recorda "a rede do Evangelho, que nos salva das águas e da morte e nos leva ao esplendor da luz de Deus, para a verdadeira vida". Hoje é essa "a missão de pescadores de homens", sublinhou Bento XVI. Numa celebração que quase atingiu as três horas de duração, a liturgia revelou grande unidade e dignidade. 
Ladeado pelo Colégio Cardinalício, e dirigindo-se às 141 Delegações Oficiais dos Estados e aos cerca de meio milhão de peregrinos que encheram a Praça de S. Pedro e as ruas que a ela conduzem, Bento XVI não revelou prioridades ou a agenda do seu ministério. Antes sintetizou a natureza da missão para a qual foi eleito a 19 de Abril último, a partir dos sinais e das leituras da Bíblia propostas para uma celebração que não acontecia na História da Igreja Católica há mais de 26 anos.

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