domingo, 17 de junho de 2012

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 295


PITADAS DE SAL – 25



OS PALHEIROS


Caríssima/o: 

Quando dizemos «palheiros», queremos tão só falar daquelas casinhas que se encontravam espalhadas pelas marinhas, esquecendo todos os outros tipos que ainda se podem ver mais ou menos perto de nós (Mira, Aveiro - Canal de S. Roque, Costa Nova, … Logo ali fica o Palheiro de José Estêvão!). 
Uma espreitadela sobre o que se escreveu; e o difícil é escolher… 

«O palheiro das salinas aveirenses era uma casa rudimentar, de planta retangular, edificada com tábuas de pinho, dispostas em escama horizontal. O telhado, inicialmente de bajunça ou estorno, foi substituído por madeira, obedecendo ao mesmo esquema de aplicação das paredes. Posteriormente, passou a ser coberto por telha de canudo ou mesmo telha marselha. Por vezes o palheiro ostenta, por cima da porta, o nome da marinha a que pertence. 
O chão de terra batida era coberto com bajunça ou junco. Atualmente alguns palheiros apresentam revestimento do solo com mosaico cerâmico. Ao longo dos tempos, a função primordial do palheiro foi o armazenamento dos instrumentos de salinagem.» [Rafael Carvalho] 

Por sua vez João Pereira de Lemos acrescenta pormenores curiosos:

«Nos palheiros a porta está quase sempre virada a sul, e o estreito postigo, de 0,60 x 0,20 cm e sem vidro, a norte ou a sudoeste, tapado por vezes por uma tábua que se lhe ajusta. O palheiro é de alvenaria e laje, a servir de cobertura, descaracterizando os palheiros lindos feitos de madeira, que agora só são dois na Ria, quase todos tendo o nome da marinha inscrito por cima da porta, num retângulo de madeira ou azulejo. … 
Alguns palheiros têm da parte de fora um banquinho coberto por uma parreira de cepa teimosa em crescer, uma figueira de figos capados cedo e até uma pequena horta que, à míngua de trazeres, fornece umas couves raquíticas para umas berças oleadas com o mesmo azeite das dobradiças da porta cheias de salmoura. … 
Depois de espalharmos melhor o feno na tarimba e no chão, para pernoitarmos, e pendurarmos espingardas e cartucheiras, assim como os farnelórios no arame pendurado da trave que atravessa o palheiro de parede a parede e que está embrulhado com um trapo embebido em óleo queimado, por causa das formigas não irem ao tacho, lá arranjámos espaço, com todas as alfaias de trabalhar a marinha bem a um canto, assim como a grande jarra de barro de matar sedes de gargantas ressequidas do salgado.» 

Resta aproveitar o abrigo da nortada que sopra rija e, fechando os olhos, deixar correr a imaginação… 

Manuel 





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