sábado, 2 de maio de 2015

"Não ao machismo", diz Francisco

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges
"Pensemos nos excessos negativos da cultura patriarcal 
e nas múltiplas formas de machismo, 
onde a mulher é considerada de segunda classe."

Papa  Francisco

1 Discute-se sobre as razões do facto, mas o facto é que em quase toda a parte as mulheres foram inferiorizadas ao longo da história. Os homens ficaram hierarquicamente com o primeiro lugar.
As razões são muitas. Os homens dominaram por causa da força física, o que não significa que as mulheres não sejam mais resistentes. Por causa da maternidade e dos cuidados com as crianças, as mulheres ficaram mais dependentes. A menstruação e a impureza ritual acabaram por marginalizá-las. Paradoxalmente, a marginalização provinha também de algum ciúme da parte dos homens: afinal, da vida percebem elas, que a vivem no seu interior; como compensação, os homens foram para a exterioridade da guerra e dos grandes "feitos", de que fala a história, ignorando as mulheres. Até há línguas que subordinam as mulheres; no caso da língua portuguesa, o seu funcionamento sexista é claro: para acederem à sua identidade humana, as mulheres fazem-no pelo uso do genérico "homem"; a mulher é ser humano pela mediação do masculino. A socialização religiosa, com todas as suas consequências, faz-se no masculino: uma menina é baptizada em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e será confrontada com uma hierarquia masculina: o padre, o bispo, o cardeal, o papa. Também o desconhecimento científico contribuiu: a descoberta do óvulo feminino deu-se apenas em 1827, o que significou que a mulher era considerada passiva na geração, levando, por exemplo, São Tomás de Aquino a afirmar que a mulher não pode ter poder na Igreja nem pregar. Uma das razões da misogenia é, segundo F. Lenoir, o prazer feminino, "essa grande intriga para o homem": o homem tem "ciúme do gozo feminino, pois é infinito, enquanto que o do homem é finito. Há uma espécie de abismo do gozo sexual da mulher que mete medo ao homem e o contraria".

Dar fruto de qualidade

Uma reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha

Em linguagem simples e poética, familiar aos discípulos, Jesus prossegue os ensinamentos sobre a realidade profunda da sua união a Deus Pai e da relação entre aqueles que acreditam na sua mensagem. Recorre a uma imagem tirada da vida agrícola – a da vinha em que se destaca uma videira por ser única, verdadeira, autêntica. E extrai, de forma singular, as “lições” que ela insinua, desvendando o seu sentido profundo. Jo 15, 1-8

Os discípulos, como homens da Galileia, estavam habituados a ver os campos e as vinhas, os trabalhos dos agricultores e vinhateiros, os cuidados a ter com cada vide. E a aguardar, em paciente espera, o tempo da vindima, a apanha das uvas amadurecidas desejadas. Certamente, não teriam qualquer dificuldade, em entender o que lhes era confidenciado em ambiente tão marcante, como o da “ceia de despedida”, em que Jesus realça o amor como realidade “envolvente” de todos.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Rotas lagunares



As rotas lagunares sempre existiram entre nós. Antigamente, como vias de trabalho e recreio, como ainda hoje, em alguns casos. Novos meios de transporte e vias rodoviárias e ferroviárias substituíram as embarcações da ria em muitos casos.
Eu sou do tempo dos transportes pela ria, Havia moliceiros ou mercantéis que transportavam de Aveiro encomendas para a JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), Estaleiros de S. Jacinto e outras empresas adjacentes à laguna aveirense. As pessoas das Gafanhas despachavam para as feiras de Aveiro e Ílhavo os seus produtos agrícolas para venda. E quem comprava, fosse o que fosse, com algum peso, também recorria a estes meios de transporte. Na Cambeia, lembro-me bem dos barqueiros que descarregavam as mercadorias, com um sinal previamente acordado. Até recos, de patas atadas, aguardavam a chegada dos donos. E por aqui me fico com estas ligeiras considerações, que servem apenas de introdução a umas mensagens documentadas e bem elaboradas por Ana Maria Lopes, no seu blogue Marintimidades, que podem ser lidas aqui e aqui.

Foto do Marintimidades

1.º de Maio



Celebra-se hoje o 1.º de Maio, dia do trabalhador. Há festas por todo o país. Para quem gostar de história ou para quem é curioso, temos à mão, na Net e em muita e diversificada literatura, a mais completa informação sobre esta efeméride, apenas celebrada, com dignidade, nos países democráticos. Nas ditaduras da direita ou esquerda, os trabalhadores livres não têm direito a qualquer tipo de celebração. Em Portugal, só foi possível comemorar o 1.º de Maio depois do 25 de Abril de 1974. Tenho para mim que essa primeira festa que envolveu em todo o país centenas de milhares de trabalhadores, direi mesmo milhões, esteve na génesis das transformações democráticas que ocorreram em Portugal. A liberdade, com essa movimentação de massas que explodiu em euforia, passou a ter a legitimidade da nova vida coletiva por que todos ansiávamos.
Uma saudação para todos os trabalhadores que hoje manifestam a sua alegria pelas conquistas alcançadas, graças à pujança da sua unidade. Apesar da crise a vários níveis que estamos a viver, cuja análise não cabe aqui, permitam-me que sublinhe que a democracia nasceu de um querer determinado pela força do povo e está para durar. Com ela, temos nos nossos votos a chave do futuro de todos nós. 

Fernando Martins



Treze Bandeiras Azuis no Distrito de Aveiro



«Em 2015 haverá 13 bandeiras azuis hasteadas em praias do distrito de Aveiro. S. Jacinto, em Aveiro, volta a merecer o galardão. Barra, Costa Nova (Ílhavo), Vagueira, Areão (Vagos), Torreira, Monte Branco (Murtosa), Furadouro, Esmoriz, Cortegaça (Ovar), Paramos, Silvalde e Baía (Espinho) são as outras áreas balneares contempladas pela Associação Bandeira Azul, que ontem anunciou os resultados.»

Li no DA

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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Estrada da Gafanha ao Forte

30-IV-1861


«Com a conclusão do lanço da Gafanha ao Forte, terminaram neste dia os trabalhos de construção da estrada da Barra, iniciados em 12 de Março de 1860 (Padre João Vieira Resende, Monografia da Gafanha, pg. 181) – A.»

Calendário Histórico de Aveiro 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Seria interessante saber se havia,  antes da construção, qualquer caminho para passagem de pessoas ou gado. Talvez de terra batida. Ou simplesmente areias soltas ainda virgens, sem casas... Quem avança com alguma ideia?


Faleceu o Mário Retinto

O funeral é hoje, 30 de abril, às 16 horas, 
para o cemitério da Gafanha da Nazaré
Mário Cardoso
Seria perto da meia-noite de ontem quando soube do falecimento do Mário Cardoso, mais conhecido por Mário Retinto, que conheci na minha infância, quando esteve doente dos pulmões. Eram bastantes os que na altura padeciam de doenças pulmonares, fatais para muitos. Ele resistiu, tal como eu, uns anos depois. 
Privei mais de perto com o meu amigo Mário na Ação Católica, de que ele chegou a ser presidente da JOC na Gafanha da Nazaré. E a sua postura, pela competência e seriedade que punha em tudo em que se envolvia, marcou-me. Depois, as nossas vidas e profissões, com rumos diferentes, não nos permitiram os contactos que eu gostaria de manter. Mas quando nos encontrávamos, havia normalmente um tempinho para fazermos o ponto da situação, ouvindo dele considerações que tinham o peso do saber de experiência feito, duma memória privilegiada, duma capacidade de síntese notável. Uma palavra, uma frase suspensa a meio, um esgar facial ou um sorriso diziam mais que muita conversa. 
Nas entrevistas que tenho feito ao longo da minha vida, umas publicadas nos meus blogues e outras em jornais, tantas sem cópia original, recordo hoje umas passagens da conversa que mantive com o Mário Retinto há uns cinco anos. Foi uma conversa aberta, franca e muito interessante pela acutilância das considerações, sobretudo quando se referia a injustiças sociais que o incomodavam sobremaneira. Evocou a sua carreira profissional, os seus estudos, a sua família de origem com 16 filhos, sendo ele o primogénito. Lembrou pessoas que apreciou e disse que «A JOC, em tempos de proibição dos sindicatos livres, foi um movimento que, de certa maneira, desenvolveu entre os seus filiados a consciência sindical operária». E como não podia deixar de ser, recordou os anos em que foi presidente da Junta da Freguesia da Gafanha da Nazaré e dos consensos que procurou dia a dia estabelecer, entre outras ideias, nem todas incluídas no texto que publiquei.
Aceitou, naturalmente, o 25 de Abril, na esperança de que a democracia, o desenvolvimento e a justiça social fossem implementados entre nós. E olhando para as realidades actuais, lamenta que não se tenha chegado onde tantos sonharam. E questiona-se: «Se uma pessoa quer trabalhar e não tem onde, nem tem dinheiro para o essencial, acha que isto é democracia?; Uma pessoa quer educar os filhos e não tem meios para isso, acha que isto é desenvolvimento?»
Com estas questões, que traduziam as suas inquietações sociais, políticas e humanas, presto as minhas homenagens a um amigo que nos deixou fisicamente, na certeza de que o seu testemunho deixou raízes entre nós. E apresento as minhas condolência a toda a família.
Que a sua alma descanse em paz. 

Fernando Martins

Ler entrevista aqui