sábado, 19 de janeiro de 2008

O POISAR DA POMBA


É esta a imagem que João Baptista usa para dar forma ao que acontece no baptismo de Jesus. A cena ocorre no rio Jordão. Jesus encontra-se no meio da multidão penitente. Ao vê-lo aproximar-se para receber o seu baptismo, trava-se entre ambos uma curta conversa. O rito da água faz-se. Sinais interpelantes e apelativos são visíveis: uma voz se ouve, uma pomba desce e poisa sobre a cabeça de Jesus, um testemunho eloquente é dado.
A mensagem é interpretada por João evangelista de forma encantadora.
A pomba é a ave portadora de boas notícias. No início da criação, pairava sobre as águas para que surgisse a vida; após o dilúvio, é portadora do ramo de oliveira – sinal de que o dilúvio havia purificado a terra e chegava a era da paz; agora – qual estrela dos Magos que se detém sobre o local onde estava o Menino – poisa volitando sobre Aquele que “vem baptizar no Espírito Santo”.
A mensagem tem um alcance extraordinário e opera uma grande transformação em João: Eu não O conhecia - diz, mas agora sei quem Ele é pois me foi revelado. Eu vim antes, mas Ele está à minha frente. Eu baptizo com água, mas Ele baptiza no Espírito Santo. Eu sou a voz, mas Ele é a Palavra. Eu preparo, mas Ele realiza. Eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus que tira o pecado do mundo.
Também em nós, Senhor Jesus, a mensagem baptismal pretende ser eficaz. Por isso, te oramos, hoje e sempre: Faz-nos sentir que somos criaturas com nova dignidade. Ajuda-nos a descobrir a beleza e o encanto de o Espírito Santo estar connosco e em nós. Orienta os nossos esforços em benefício de todos os que estão “surdos e mudos” aos apelos da humanidade sofrida e amargada. Dá-nos coragem e tenacidade na perseverança da prática da justiça, da sobriedade e da partilha. Abre-nos a horizontes cada vez mais próximos da fraternidade universal onde se espelha, de modo singular, o rosto amigo de Deus, nosso Pai e nossa Mãe.
Senhor que nos enviaste o Espírito Santo, faz-nos apreciar a nossa Igreja reunida em oração para sermos mais sensíveis à urgência da unidade e darmos passos concretos na sua realização. A união dos teus discípulos e apóstolos faz parte do testamento de vida com que quiseste selar a tua missão na terra e ao qual o Pai do Céu atribui valor de eternidade. Ajuda-nos a amá-la, sem reservas, para partilharmos o bem que muitos fazem com generosidade e assumirmos as lacunas que muitos outros, sem vergonha, deixam a claro escandalosamente.
Obrigado, Senhor Jesus, por dares a conhecer “coisas” tão sublimes por sinais tão próximos e sensíveis. Ajuda-nos a viver sob as asas da pomba – o Espírito Santo – o baptismo que nos introduz de modo original no circuito do teu amor e da tua missão.

Georgino Rocha

CAVACO SILVA ATENTO AO PATRIMÓNIO HISTÓRICO


O Presidente da República, Cavaco Silva, vai começar, na segunda-feira, uma visita de dois dias à Beira e Douro Litoral, no âmbito das II Jornadas do "Roteiro para o Património", para defesa, valorização e promoção do património português. Da sua agenda consta a passagem por Coimbra, onde se procurará informar da situação da Sé Velha, a igreja e os respectivos claustros, antes de se deslocar ao Palácio de S. Marcos, para uma reunião com professores e investigadores ligados à área do património.
No mesmo dia, a comitiva presidencial desloca-se depois a Lorvão, em Penacova, onde Cavaco Silva visita a igreja e o mosteiro.
No segundo dia do “Roteiro para o Património”, o Presidente da República desloca-se ao Mosteiro de Arouca e ao Museu de Arte Sacra da real Irmandade da Rainha Santa Mafalda.
Seria interessante que o Presidente da República passasse por Aveiro. Se isso acontecesse, talvez pudesse chamar a atenção para a degradação em que se encontram as Igrejas de S. Francisco e Santo António, junto ao Parque Infante D. Pedro. A ADERAV e outras instituições bem têm lembrado essa triste realidade, mas a verdade é que tudo continua à espera que alguém tenha a coragem de avançar com soluções.

MENTIRA E DIREITO À VERDADE


Quando se reflecte sobre a mentira, é difícil não vir à mente o famoso paradoxo de Epiménides. Diz um cretense: "Todos os cretenses são mentirosos." Sendo cretense, também ele mente. Então, a sua afirmação é verdadeira ou falsa?
Pessoalmente, também lembro uma estória que um jesuíta me contou. Ah! o céu vai ser a coisa mais fabulosa que possamos imaginar. Mas, nos primeiros dois-três dias, no fim do mundo, antes da entrada no céu, quando Deus começar a entregar os filhos aos verdadeiros pais e o dinheiro aos verdadeiros donos, portanto, quando se repuser a verdade, que confusão!...
Afinal, independentemente do paradoxo do cretense, todos mentimos. Mentimos às crianças e ensinamo-las a mentir, com este resultado caricato: "O pai disse para dizer que não está em casa." O miúdo acha que a tia é feia e diz-lho na cara, mas é claro que vai ser repreendido.
Se uma mulher gorda nos pede a opinião - "Estou gorda, não estou?" -, vamos aliviá-la: "Nem pense nisso!"
Imaginemos que uma bela manhã todos se levantavam com a decisão firme de, fossem quais fossem as circunstâncias, dizerem na cara dos colegas, dos amigos, dos vizinhos, dos superiores hierárquicos, dos amantes, dos companheiros de viagem em comboios e autocarros, dos imbecis, dos governantes, fosse de quem fosse, o que verdadeiramente pensam deles. O que seria a vida social sem algumas mentiras ou, pelo menos, sem a omissão da verdade nua e crua?
Os políticos! Desses diz-se que têm como condição de sobrevivência mentir.
Depois, há sempre o que não é conveniente...
E é assim que a verdade raramente se diz, pelo menos toda. Porque realmente não é conveniente: nem na política, nem nos media, nem no sexo, nem aos amigos - Pascal escreveu que, se os amigos soubessem o que os amigos dizem deles na sua ausência, talvez não restassem no mundo mais do que dois ou três. O que pensam e dizem realmente de nós os nossos amigos? Quereríamos saber?
Todos mentimos. Há, porém, mentiras e mentiras. Tomás de Aquino distinguiu entre mendacium - mentira - e falsiloquium - não dizer a verdade a alguém que não precisa de sabê-la ou não tem o direito de sabê-la. No limite, pode acontecer que mentir seja uma obrigação moral. Se um assassino procura um inocente para matá-lo, deve-se mentir quanto à sua localização. O detentor da chave do segredo para desencadear a guerra nuclear deverá mentir ao terrorista que a exige...
A mentira não se refere imediatamente à verdade, mas à veracidade: dizer a alguém o contrário do que se julga ser verdade, com a intenção de enganar. Aprofundando mais, deve-se acrescentar: não dizer a verdade a alguém que tem o direito de sabê-la. M. Onfray escreveu que nunca se deveria mentir, fossem quais fossem as consequências, como exige Kant; mas, se Kant tem razão em princípio, esse princípio é na realidade não vivível, impraticável; por isso, aceita a definição de mentira como "o facto de não dar a verdade, sem dúvida, mas só a quem é devida". Uns têm direito a ela, outros não: por exemplo, um nazi que procurava um judeu para matá-lo não tinha o direito à verdade. Deve-se distinguir "a mentira prejudicial, impura, a que procura um engano destinado a submeter o outro, a limitá-lo, a evitá-lo, a desprezá-lo, e a mentira para ajudar, limpa, chamada por alguns mentira piedosa, a que cometemos, por exemplo, com a finalidade de poupar sofrimento e dor a uma pessoa querida".
Em Portugal, quando se olha para as promessas incumpridas dos políticos, jogos obscuros na banca, subterfúgios à procura da localização de aeroportos, uma política de saúde que fecha maternidades e urgências e descura pobres e velhos, o caos na justiça, um leque salarial gritantemente indecoroso, previsões inverdadeiras da inflação e outras infindas manobras com corrupção activa e passiva à mistura, tem-se a sensação de que se avança em terreno minado pela mentira, com uma democracia perplexa, triste e quase impotente. Quando os portugueses têm direito à verdade.

Anselmo Borges

In
Diário de Notícias

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

REFORMAS DOURADAS

O texto que aqui insiro enquadro-o na linha das reformas douradas, existentes no nosso País. Veio publicado no PÚBLICO de hoje. É certo que se trata de uma empresa privada, com liberdade para fazer o que entender, ao nível salarial. Mas que é um escândalo, aos meus olhos, lá isso é, sabendo-se como são as reformas normais dos trabalhadores portugueses, na sua grande maioria. Vejam:



"O ex-presidente da comissão executiva do Banco Comercial Português (BCP), Paulo Teixeira Pinto, saiu há cinco meses do grupo com uma indemnização de 10 milhões de euros e com o compromisso de receber até ao fim da vida uma pensão anual equivalente a 500 mil euros, 35 mil euros por mês, 14 vezes por ano. Quando o BCP divulgar as contas anuais de 2007, estas deverão incorporar uma verba de 22 milhões de euros, associada à demissão negociada de Teixeira Pinto, que entrou para o banco em 1995, assumindo a presidência em 2005."

Bispo de Aveiro dialoga com a sociedade civil


Na recta final da visita pastoral às paróquias da Torreira e S. Jacinto, diocese de Aveiro, D. António Francisco dos Santos realçou à Agência ECCLESIA que “é fundamental um bispo conhecer os seus cristãos no seu meio ambiente”. De 7 a 20 de Janeiro, o prelado de Aveiro caminhou com aquelas comunidades paroquiais.
Depois da preparação prévia – com os párocos e elementos dos conselhos pastorais – a visita pastoral deve obedecer a três vertentes: “parte celebrativa, encontro com os agentes de pastoral (iniciativas programáticas) e proximidade do bispo com as famílias e instituições (realidade socio-cultural)” – disse D. António Francisco Santos.
Nas paróquias da Torreira e S. Jacinto, o bispo de Aveiro encontrou-se com os agricultores, pescadores, comerciantes e autarcas. “Como são zonas de veraneio e que acolhem pessoas que vêm de fora é fundamental ouvir estas pessoas” – frisou. E acentua: “senti as alegrias e dificuldades deste povo”.
Na visita às escolas e unidade militar, o bispo deixou palavras de ânimo. “A Unidade Militar de S. Jacinto presta um grande serviço na promoção da paz”. Neste contacto promove-se um “diálogo entre a Igreja e a sociedade civil”.

FORTE DA BARRA


A propósito do texto e foto que inseri, hoje, neste meu espaço, recebi esta fotografia, enviada, gentilmente, pelo Ângelo Ribau, com a seguinte nota: "Tenho nos meus arquivos esta foto 'velha' do Forte. Não sei a data em que foi tirada, mas as águas batem contra a muralha do Forte. A barra devia ser a sul daquelo local, dado que não existia 'Triângulo'."
Não sabes, meu caro, mas talvez haja quem saiba. Ficaremos à espera.

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos


TESTEMUNHAR A FÉ É FUNDAMENTAL



Ano após ano, sucedem-se nesta altura, entre 18 e 25 de Janeiro, os encontros e reflexões sobre a unidade dos cristãos. É a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, normalmente animada por várias denominações que aceitam o ecumenismo, em diálogo e em oração. Em Aveiro, também, este ano num templo ortodoxo, em S. Bernardo, como refiro em Informações do meu blogue, haverá uma celebração ecuménica.
Penso que todas as iniciativas levadas a cabo nesta altura são importantes, pese embora a necessidade de se não ficar apenas por uma semana. É certo que os teólogos lá vão fazendo o seu trabalho, mas julgo que a nossa intervenção, ao nível do dia-a-dia, também necessita de ser uma realidade constante, e não esporádica, ao jeito de quem cumpre um ritual por obrigação.
Todos os anos costumo dizer que há muito o hábito de pensar que o ecumenismo mais não é do que o esforço que todos temos de desenvolver para que as Igrejas cristãs se acolham na Igreja católica, tornando-se numa só. Penso que o caminho não será esse, pois acredito que as Igrejas cristãs não católicas têm uma parte significativa da verdade, já que a totalidade dela está em Cristo e na unidade que Ele efectivamente representa e é.
Se todos os cristãos, os que aceitam Jesus Cristo como único Salvador e Redentor da humanidade, se congregarem em torno desta verdade essencial e fundamental, estou em crer, salvo o devido respeito pelos teólogos, que estaremos na rota certa d’Aquele que é o caminho, a verdade e a vida. Ora isto, que precisa das nossas orações, também não prescinde dos nossos contributos diários, como testemunhos autênticos da fé em Jesus Cristo.
Em ECUMENISMO, à margem, no meu Blogue, há textos cuja leitura recomendo.

Fernando Martins