Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias
1. Quando a Igreja aparece nos meios de comunicação social e mesmo no linguajar habitual, a referência é a Igreja enquanto instituição de poder e a hierarquia: Papa, cardeais, bispos, monsenhores, cónegos, padres... O que pensa a Igreja sobre isto ou aquilo? Esta pergunta está, em princípio, referida à hierarquia: o que pensam a Cúria Romana, os cardeais, os bispos, os padres?...
No entanto, a palavra Igreja/Igrejas apareceu no início do cristianismo para designar a comunidade/comunidades de cristãos e cristãs, baptizados, discípulos de Jesus, que acreditavam no Evangelho, notícia boa e felicitante: Deus é bom, Pai e Mãe, nunca, nem na morte, nos abandona, e todos os homens e mulheres são seus filhos, devendo, por isso, ser tratados como irmãos.
Evidentemente, aumentando o número, teve de haver coordenadores das comunidades - bispos, presbíteros, diáconos. Mas eram servidores - Jesus tinha dito que Ele veio "para servir, não para ser servido" - e não senhores. Foi numa história longa e complexa que foi surgindo a Igreja como instituição de poder, luxo e esplendor, com a hierarquia de um lado e os fiéis do outro, aqueles com todo o poder, os que mandam, e estes como os que obedecem. Uma observação: Não se viu no fim de semana passado, televisões, por exemplo, a exultar com o esplendor de barretes cardinalícios e mitras? Jesus, porém, tinha apelado à simplicidade e disse: "sois todos irmãos".