quarta-feira, 7 de abril de 2021

Gafanha do Carmo - Praça Padre João Gonçalves


No dia em que o Padre João Gonçalves celebraria 77 anos, 28 de março, a Câmara Municipal de Ílhavo, a Assembleia e o Executivo da Junta de Freguesia da Gafanha do Carmo homenagearam aquele sacerdote, natural da freguesia e falecido a 8 de dezembro de 2020. O Jardim Central, junto à Igreja Matriz e ao Jardim de Infância da Gafanha do Carmo, passa a ser a Praça Padre  João Gonçalves, que irá integrar também, brevemente, o futuro Centro Cívico da freguesia.
Na cerimónia, o presidente da CMI, Fernando Caçoilo, sublinhou que, «num momento tão complexo da vida em sociedade, da relação entre as pessoas e da forma como se olha para o outro, o Padre João Gonçalves foi um exemplo de excelência no que significa ser solidário e cuidar do próximo». Foi uma cerimónia simples, em conformidade com as regras da pandemia. Em nome da família, esteve presente a irmã do Padre João, Amélia Gonçalves.

Fernando Pessoa - Aniversário


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Fernando Pessoa 

terça-feira, 6 de abril de 2021

O Vocábulo Gafanhão - 4






Daniel Faria - Do livro das meditações I


No celeste orvalho e no vital refresco se mitigam os ardores
Apagam-se as chamas e cessam os trabalhos.
Reclino-me um pouco desconjuntado na estrutura do seu corpo
Como quem caminha nos amenos bosques da escritura.
Devagar
Corro notando e colhendo as saudáveis, as vigorosas ervas das sentenças.
Mastigo-as como quem lê repetindo
E torno a devorá-las na memória.
Celeste sumo do livro que é fonte
Represa aonde vou beber seguro.

Daniel Faria
Do livro POESIA

Verde que a noite esconde


O verde e a beleza que a noite esconde e que a luz do sol não deixa ver.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Segunda-feira da Páscoa

Uma curta evocação da Feira de Março 

Feira de Março - década de 50 do século passado 

A segunda-feira de Páscoa foi sempre dedicada pelo povo da Gafanha à Feira de Março. Quando eu era miúdo, os autocarros da Auto Viação Aveirense não paravam, sobretudo depois do almoço. O pessoal não tinha carro, como hoje. O meio de transporte mais usual era a "camioneta da carreira", como então se dizia. A festa da Feira de Março tinha lugar marcado no Rossio de Aveiro, a sala de visitas da cidade.
Na altura da Feira, por volta do dia 25 de Março, havia o ajustamento dos moços (também ouvi chamar feira dos moços) pelos marnotos, para o serviço nas marinhas ou salinas.  Assisti a essa cena nas pontes, atual rotunda. O valor de cada moço dependia da experiência e da capacidade física de cada um. 
Nas paragens, os amigos da Feira apareciam em massa. Depois, era a compra de pequenas coisas que faziam falta ao dia a dia: a colher de pau, o tacho de barro, os brinquedos para a criançada, as farturas que sempre ali tiveram espaço, o saca-rolhas, os sapatos e a roupa feita, etc. Eu comprava livros numa barraca. As edições eram tão fraquinhas que há muitos anos tive de atirar a livralhada para o lixo.  Compras feitas, uma voltinha nos carrocéis, uma visita ao Poço da Morte, onde o Dias, do Stand Dias, mostrou como um jovem normal também lá sabia andar de mota, era o regresso com a tralha às costas. 
E as camionetas, com o tejadilho cheio, lá faziam o transporte de regresso a casa. Era um dia de alegria.

FM

domingo, 4 de abril de 2021

Folar de Vale de Ílhavo

 
Ingredientes:

1 kg de farinha
15 g de sal
20 g de fermento padeiro
400 g de açúcar
5 gemas de ovo
4 ou 3 ovos (cozidos em casca de cebola)
50 g de manteiga derretida
200 ml de água morna
Canela a gosto (ou raspa de limão, opcional)


Preparação:

Junta-se a farinha (cerca de 500 g), o sal, o fermento e a água morna, amassando tudo muito bem e deixando levedar, pelo período de aproximadamente uma hora. Depois de a massa estar levedada, juntam-se o açúcar, os ovos e a manteiga previamente derretida, misturando tudo muito bem. Acrescenta-se a restante farinha (500 g) e a canela (ou a raspa de limão), envolvendo bem. Deixa-se levedar novamente.
Quando tiver levedado (aproximadamente para o dobro), tende-se a massa em forma de bolo do tamanho que se pretende, decorando com os ovos (previamente cozidos em água com casca de cebola), e pequenas tiras formadas com uma parte da massa que se entrelaçam com os ovos. 
Vai ao forno de lenha, previamente aquecido. Dica: um kilo de farinha dá para fazer um folar médio, que se enfeita com 4 ovos, ou 3 pequenos que se enfeitam com um ovo cada.

Bom apetite 

Fonte: Agenda "Viver em... Abril" da CMI