quarta-feira, 15 de abril de 2020

GAFANHA DA NAZARÉ NA CAPA DO CORREIO DO VOUGA



A capa do "Correio do Vouga", órgão oficial da Diocese de Aveiro, ofereceu aos seus leitores um conjunto de fotografias tiradas nas ruas da Gafanha da Nazaré, dando a informação de que «as famílias foram convidadas a pôr uma cruz nas suas casas a partir do Domingo de Ramos.» Há gestos que merecem ser sublinhados, como foi o caso. E o responsável pela edição do semanário diocesano mostra que é um jornalista atento e sensível.
Como é notório, o meu digitalizador não foi capaz de apanhar toda a capa. 

DEUS JÁ ACOLHEU EDUARDO RODRIGUES

O diácono permanente Eduardo Rodrigues foi ordenado em 15 de Agosto de 1993, com 68 anos, por D. António Marcelino, juntamente com mais sete colegas. Era o mais idoso dos ordenados nesse dia. 
Natural e residente em Tamengos, dedicou toda a sua vida de diácono a servir as paróquias do Arciprestado de Anadia. Foi colaborador do Padre Rei na paróquia da Moita, além de ser o grande timoneiro das paróquias confiadas ao Padre Vilarinho, durante a prolongada doença deste, que o obrigou a ausentar-se para a Gafanha da Nazaré, onde faleceu. 
Colaborador incansável do Pároco de Arcos, Tamengos e Aguim — Padre Torrão —, tinha ainda a responsabilidade do cartório destas paróquias, além de ser o responsável da pastoral sócio-caritativa do Arciprestado. 
Até ao momento em que a falta de vista e de equilíbrio o obrigou a deixar as funções pastorais, por volta de 2012, era um dos diáconos mais assíduos à formação permanente, sendo apreciado pela partilha das suas reflexões escritas, bem elaboradas, pois tinha muito gosto em escrever numa prosa bastante erudita. 
Confinado à sua residência até que, há mais ou menos cinco anos, teve de ir para o Lar da Moita com a esposa. O seu estado de saúde foi-se agravando com Alzheimer, mas quis voltar para a sua residência, onde foi assistido pelo Lar cerca de dois anos. 
Faleceu na sua casa com 95 anos no dia 13 de Abril e o seu funeral, com a presença do nosso Bispo, D. António Moiteiro, realizou-se no dia 15 para o cemitério de Tamengos. 
Que o Senhor o recompense com a Sua glória, por tudo o que fez pelas gentes das terras de Anadia, onde era muito considerado.

Manuel Carvalhais, 
Diácono Permanente

terça-feira, 14 de abril de 2020

TRANQUILIDADE



Às vezes imagino-me a gozar uma tranquilidade como a que este meu registo sugere. Tranquilidade, em dias agitados, deve ser assim, longe do bulício dos nossos quotidianos. Envolvido pelo silêncio, embalado pelo arvoredo, um bom livro para enriquecer o espírito com uma história bem urdida, o chilrear da passarada que por ali ciranda e que mais precisaria eu?

AS MÁSCARAS



Está decidido: Temos todos de usar máscaras. Só falta o decreto para regulamentar o seu uso. Quando e onde ou sempre. Sem ela, pelo que ouço, jamais. Mais vale prevenir que remediar. E se é certo que o Covid-19 continua por aí, então todo o cuidado é pouco. Realmente, temos que nos habituar à ideia de que a vida tem de prosseguir a marcha, pois parados não chegaremos a lado nenhum. Com a pandemia o mundo parou. Comeu-se e bebeu-se o que se poupou... e se não arrepiarmos caminho teremos como meta um fim sem honra nem glória. Todos precisamos de trabalhar. As indústrias e comércios têm de abrir portas.Têm de produzir. E nós necessitamos de comprar. As escolas têm de preparar para a vida os que estão com idade para isso. O futuro do mundo está nos que as frequentam hoje. E se a máscara nos pode defender de alguns perigos, por que razão as havemos de rejeitar? Perigoso é andar sem ela... Quem me dá umas dicas para fazer as minhas máscaras?

domingo, 12 de abril de 2020

A MORTE NÃO PODE SER A ÚLTIMA PALAVRA

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

"Não vale a pena repetir que o ser humano não tem conserto. Estamos sempre a tempo, em qualquer idade, de nascer de novo."

1. Não há liturgia cristã que suspenda as leituras do Antigo e do Novo Testamentos, por vezes acompanhadas pela grande música e integradas numa celebração ritual. Na Semana Santa são, por regra, muito mais abundantes. Exigem o auxílio de uma boa cultura bíblica, bastante ausente da maioria das assembleias. Não se deve confundir uma celebração litúrgica com uma imaginária reconstituição do passado, do mundo que já não existe. É certo que algumas homilias tentam situá-las no presente mediante considerações e aplicações, muitas vezes de pendor pietista e moralizante que amortecem a imaginação em vez de a incendiar. Existem e sempre existiram belas excepções.
O mundo desses textos, a história turbulenta e dilacerada da Cristandade em que foram acolhidos, pensados, celebrados, traídos e retomados como fonte de luz, não fazem do Cristianismo uma religião do Livro como acontece, por exemplo, com o Islão.
Não pode haver culto da Sagrada Escritura. Sagrado é Aquele de quem elas testemunham, Aquele que se fez “carne”, isto é, fragilidade humana. O Verbo de Deus não se fez Livro.

O CALVÁRIO DO MUNDO E A SANTA ESPERANÇA

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

1. Pascal, um dos maiores matemáticos e cristãos de sempre, tinha prevenido nos Pensamentos: "Jesus estará em agonia até ao fim dos tempos. É preciso não dormir."
Na Paixão de Jesus, estamos todos, pois os figurantes são exactamente os mesmos: Judas que não percebeu Jesus (esperava um messianismo de poder político) e o entregou; os sacerdotes do Templo, Herodes, Pilatos, que o condenaram à morte e morte de cruz; Pedro, o homem generoso, mas que, por cobardia, o negou; os discípulos que, apavorados, fugiram; os soldados que o torturaram, cumprindo ordens; o Cireneu que, embora um pouco forçado, o ajudou; os dois, talvez "terroristas", que o ladearam na cruz: um continuou a blasfemar, o outro compreendeu e Jesus prometeu-lhe o Paraíso com ele naquele próprio dia; o centurião reconheceu:"Verdadeiramente este homem era Filho de Deus"; as mulheres nunca o abandonaram e ali estiveram em pé. E Jesus, que, no Getsêmani sentiu pavor e pediu, em lágrimas e suando sangue, a Deus, seu Pai, que, se fosse possível, o libertasse daquele horror, talvez, transportando a cruz, o tenha assaltado a dúvida: valeu a pena?; morreu, perdoando a todos; sentindo-se abandonado e só, gritou aquela oração que ecoa através dos séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?", mas continuando a confiar: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito".

A HUMANIDADE RESSUSCITARÁ PARA UM ESTILO DE VIDA RENOVADOR

O grupo com a Cruz que nos visitou em 2017 (foto dos meus arquivos)

Neste Domingo de Páscoa, que hoje se celebra no recolhimento interior e no confinamento por força do COVID-19, levantei-me mais cedo. Quis aproveitar o dia todo para o saborear em plenitude, evocando pessoas, familiares e não só, que foram e ainda são, algumas, companheiras de jornada, nos caminhos de oito décadas. Como num filme a cores, ouço as suas vozes e os seus cantares, recordo conversas com histórias que perduram na minha já cansada memória e revivo tradições que se foram alterando no tempo até caírem em desuso. 
No Domingo de Páscoa, logo de manhã, era preciso assinalar que em nossa casa morava gente cristã do rito católico à espera da visita pascal. Uns verdes na porta de entrada que dá para a rua assinalava o desejo de receber a Cruz com o Cristo enfeitado com flores. Já não era o Cristo do Calvário. A Ressurreição, que a Páscoa celebra festivamente, era sinal de alegria e de fé para quem acredita que o Mestre se tornara no Salvador. Este ano, porém, o coronavírus veio ditar leis impensáveis há umas semanas. A visita das Boas Festas anunciadas pela campainha não terá lugar. As famílias não se reúnem, as inquietações abafam convívios tão enriquecedores, os temores fecham portas à alegria, os afilhados não podem visitar os padrinhos, o almoço festivo passa a almoço sem risos e sem expressão. Nuvens negras ameaçam o futuro de todos. Resta-nos a certeza de que a humanidade ressuscitará para um estilo de vida renovador. 

Fernando Martins