sexta-feira, 8 de março de 2019

Georgino Rocha: Jesus, tentado, defende a humanidade

"A tentação do pão fácil e abundante acompanha a história da humanidade. E dá origem aos mais diversos conflitos e calamidades, deixando em aberto a urgência gritante de cuidar da terra, de organizar o trabalho, de promover políticas adequadas."

“Tu és o Meu Filho Amado”, proclama a voz vinda do Céu, enquanto Jesus estava a rezar após o baptismo. Simultaneamente, outros sinais se manifestam a anunciar a identidade do recém-baptizado. Humano, entre os humanos, é-lhe reconhecida a sua realidade divina, a de Filho Amado em Quem o Pai se revê e compraz. Integralmente humano é simultaneamente integralmente divino e totalmente possuído pelo Espírito Santo. Vive em si esta união, sem renunciar a nada que lhe é singular. Por isso, vai enfrentar duras provações ao longo a vida, que São Lucas condensa no relato que, hoje, proclamamos (Lc 4, 1-13) e narra de forma bela e simbólica.
A tentação de Jesus tem várias faces, mas é sempre a mesma: Realizar a sua missão, fugindo da normalidade da vida, recorrendo a meios diferentes dos que assume por opção livre. Faces que o deserto da vida manifesta em oportunidades provocatórias, que o evangelista relator, designa por Diabo ou seja por aquele que divide e separa.

João de Deus nasceu neste dia


Primeiro Amor

Ó Mãe... de minha mãe!
Explica-me o segredo
Que eu mesmo a Deus sem medo
Não ia confessar:
Aquele seu olhar
Persegue-me, e receio,
Pressinto no meu seio
Ergue-se-me outro altar!

Eu em o vendo aspiro
Um ar mais puro, e tremo...
Não sei que abismo temo
Ou que inefável bem...
Oh! e como eu suspiro
Em êxtase o seu nome!...
Que enigma me consome,
Ó Mãe de minha mãe!

João de Deus, 
in 'Campo de Flores'

quarta-feira, 6 de março de 2019

Câmara de Ílhavo apoia o Grupo Desportivo da Gafanha

Assim começam os craques
A Câmara Municipal de Ílhavo atribuiu um subsídio de 109 mil euros ao Grupo Desportivo da Gafanha para a época de 2018-2019, considerando que o clube acolhe 650 atletas em todas as suas modalidades, em especial no Atletismo, Basquetebol, Futebol e Futsal. O subsídio ainda se destina à recuperação da imagem e reestruturação da agremiação, bem como à formação de atletas das diversas faixas etárias.
Tenho para mim que poucos gafanhões terão conhecimento da dimensão do GDG, presentemente com 650 atletas nas diversas secções, o que significa um número elevado de famílias apoiadas na educação dos seus filhos. São atletas que necessitam de treinadores, professores de educação física, massagistas e demais colaboradores, bem como de espaços, campos, sanitários, balneários e equipamentos.  Por  tudo isso, o GDG merece o nosso apoio e aplauso pelo que faz, independentemente dos êxitos ou alguns deslizes, que perder e ganhar é tudo desporto.
Uma saudação para os dirigentes que, voluntariamente, dão o melhor de si ao clube.

FM 

Frutuosa Quaresma para todos


São 10 horas de uma manhã fria e chuvosa. Vai ser assim, mais ou menos, uns dias seguidos. Acabei de chegar ao meu sótão, espaço de tantas cumplicidades com o silêncio que tanto aprecio. É certo que não posso viver no silêncio toda a vida, que o convívio é fundamental na existência. Porém, em cada dia descortino sempre um tempinho para o encontro pessoal com Deus, que nos dá o privilégio da liberdade e das opções. 
A Quaresma tem sido, desde que me conheço como ser pensante e atuante, um mistério que me envolve e embala até à chegada da ressurreição de Jesus, ponto alto e único da nossa fé. Sem essa caminhada de busca,  dificilmente chegaria ao cimo da montanha, de onde se desfrutam horizontes de redenção tornada fraternidade universal. 
Que nesta Quaresma eu consiga fugir um pouco do barulho ensurdecedor das futilidades e ambições desmedidas e tantas vezes mesquinhas. O mesmo desejo aos meus amigos... 
Frutuosa Quaresma para todos. 

Fernando Martins

segunda-feira, 4 de março de 2019

Anselmo Borges: Revolução copernicana na Igreja

Anselmo Borges
1. Foi uma verdadeira revolução copernicana. Com Copérnico, ficámos a saber que não é o Sol que gira à volta da Terra, é a Terra que gira à volta do Sol. Com a Cimeira no Vaticano, de 21 a 24 de Fevereiro passado, para se tomar consciência da monstruosidade da pedofilia na Igreja e pôr-lhe termo, convocada, num gesto inédito, corajoso e histórico, que se impunha, do Papa Francisco, ficámos a saber que, de agora em diante, o centro não continuará a ser ocupado pela Igreja enquanto instituição, mas pelas vítimas, que serão defendidas com toda a seriedade. 
No encerramento, perante os 190 participantes, entre os quais 114 Presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, membros da Cúria, superiores e superioras gerais de ordens e congregações religiosas, peritos e alguns leigos, Francisco, num discurso histórico, muito bem elaborado e com dados arrepiantes sobre o abuso físico e psicológico de menores e adultos vulneráveis não só dentro da Igreja mas transversalmente na sociedade global, incluindo as famílias e outras instituições (nesta abrangência, as vítimas são muitos milhões), comprometeu-se a que a Igreja “não se cansará de fazer tudo o que é necessário para levar à justiça seja quem for que tenha cometido abusos de tipo sexual” e que nunca “tentará encobrir ou subestimar nenhum caso”. 
Perante o horror da pedofilia, afirmou que ela lhe fazia lembrar “a prática religiosa cruel, difundida no passado em algumas culturas, de oferecer seres humanos (muitas vezes crianças) como sacrifício às divindades nos ritos pagãos”. Perante a “monstruosidade da pedofilia” na Igreja, assegurou: “Quero reafirmar com clareza: se na Igreja se descobrir nem que seja um único caso (que representa em si mesmo uma monstruosidade), esse caso será enfrentado com a máxima seriedade”. Prova inequívoca disso foi, ainda antes da Cimeira, a redução ao estado laical do ex-cardeal norte-americano Theodore McCarrick, e, depois, no passado dia 26, a sanção imposta ao cardeal australiano George Pell, a terceira figura do topo da Igreja, ex-superministro das finanças do Vaticano, condenado por abuso sexual de menores: enquanto decorre o recurso nos tribunais, está suspenso e impedido de contactar, seja de que modo for, com menores. 

Engenharia do povo na ria de Aveiro



No século XXI, o que estamos a viver, a Ria de Aveiro tem marinas e clubes náuticos capazes de dar guarida às mais diversas embarcações de trabalho e de recreio das gentes das Gafanhas, Ílhavo, Aveiro e demais vilas e aldeias da zona lagunar, de encantos por vezes paradisíacos. Sublinhamos o vocábulo paradisíaco para que se medite sobre a beleza deste recanto que atrai turistas dos mais variados quadrantes, sem que nos demos conta da riqueza paisagística que nos envolve e nos embala. 
Hoje, porém, vamos fixar-nos num pormenor que nunca deixou de nos fascinar. Referimo-nos, concretamente, aos ancoradouros feitos pela povo que se diverte ou trabalha na ria e que necessita de condições adequadas para dar descanso aos seus barcos durante o dia ou à noite. Ancoradouros que foram e são resposta à falta de estruturas suficientes com esse objetivo. 
O povo, com a sua ancestral habilidade, contorna dificuldades e resolve problemas que, frequentemente,  se perpetuam no tempo à falta de melhor. Foi sempre assim e assim há de continuar, até que as entidades competentes criem melhores condições para ajudar os pescadores, e não só. 
Nós sabemos, todos sabemos, que as autoridades não terão capacidade nem meios para construir ancoradouros à medida ou à porta de cada um, mas também é verdade que os pescadores e proprietários de barcos não podem guardar os barcos longe das suas casas ou nas marinas que, julgamos nós, cobram preços nem sempre acessíveis. Daí, esta determinação dos povos lagunares em resolver os problemas à sua maneira. 

Fernando Martins

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