segunda-feira, 4 de março de 2019

Engenharia do povo na ria de Aveiro



No século XXI, o que estamos a viver, a Ria de Aveiro tem marinas e clubes náuticos capazes de dar guarida às mais diversas embarcações de trabalho e de recreio das gentes das Gafanhas, Ílhavo, Aveiro e demais vilas e aldeias da zona lagunar, de encantos por vezes paradisíacos. Sublinhamos o vocábulo paradisíaco para que se medite sobre a beleza deste recanto que atrai turistas dos mais variados quadrantes, sem que nos demos conta da riqueza paisagística que nos envolve e nos embala. 
Hoje, porém, vamos fixar-nos num pormenor que nunca deixou de nos fascinar. Referimo-nos, concretamente, aos ancoradouros feitos pela povo que se diverte ou trabalha na ria e que necessita de condições adequadas para dar descanso aos seus barcos durante o dia ou à noite. Ancoradouros que foram e são resposta à falta de estruturas suficientes com esse objetivo. 
O povo, com a sua ancestral habilidade, contorna dificuldades e resolve problemas que, frequentemente,  se perpetuam no tempo à falta de melhor. Foi sempre assim e assim há de continuar, até que as entidades competentes criem melhores condições para ajudar os pescadores, e não só. 
Nós sabemos, todos sabemos, que as autoridades não terão capacidade nem meios para construir ancoradouros à medida ou à porta de cada um, mas também é verdade que os pescadores e proprietários de barcos não podem guardar os barcos longe das suas casas ou nas marinas que, julgamos nós, cobram preços nem sempre acessíveis. Daí, esta determinação dos povos lagunares em resolver os problemas à sua maneira. 

Fernando Martins

domingo, 3 de março de 2019

Bento Domingues: Vita Mutatur Non Tollitur (1)

Frei Bento Domingues

"O importante não é saber se o Papa vai vencer ou vai ser derrotado, mas se vamos ter ou não quem se apaixone pela paixão do Nazareno"


1. Para o filósofo L. Wittgenstein, acreditar em Deus significa reconhecer que a vida tem sentido. Hoje, vivemos obcecados pelo futuro que a ascensão da inteligência artificial e a biotecnologia nos desenham. O filósofo tem uma observação que, segundo me parece, conserva toda a pertinência: "sentimos que, mesmo que todas as possíveis questões científicas obtivessem resposta, os nossos problemas vitais não teriam ainda sido sequer tocados".
Concelebro, muitas vezes, a Eucaristia. Para mim, não é uma rotina devocional nem uma obrigação. Implica uma comunidade agradecida por acreditar que a morte não é a última palavra sobre o itinerário de uma existência humana. Essa convicção não é da ordem da razão, não é a conclusão de qualquer elaboração científica. Muitos chamam-lhe “fé na ressurreição”. São tantos os equívocos acerca do uso dessa palavra que não insisto muito nela.
Jesus Cristo teve um percurso breve, atribulado e que terminou cravado numa cruz, a morte mais cruel da antiguidade. Não morreu, foi assassinado mediante um julgamento iníquo. Sentiu-se abandonado pelo céu e pela terra e, sobretudo, sentiu o fracasso da sua luta. No entanto, teve folgo para perdoar aos autores da sua morte e para prometer o paraíso a um companheiro de infortúnio. Foi morto, mas, se estivermos atentos às narrativas da Paixão, a sua morte ia carregada com a vida de todos, com esperança para os próprios inimigos. Queixando-se do abandono de Deus, foi nas Suas mãos que lhe entregou o seu destino. A esperança contra toda a esperança foi o seu último suspiro.
Depois, as mulheres vieram dizer, não apenas que ele não estava no sepulcro, onde fora colocado, mas que as convocou para anunciar aos discípulos que estava vivo e era preciso continuar o caminho por ele aberto. As mulheres estão na origem do movimento cristão. São elas as pregadoras do Evangelho na sua novidade contra a morte.
Frei José Augusto Mourão escreveu um belo poema para uma música do Convento de La Tourette, o célebre convento de Corbusier. É cantado muitas vezes na minha comunidade dominicana: "…Ao pé de Deus hei-de sempre viver/ com Deus cheguei e com ele vou partir" (2.

sábado, 2 de março de 2019

Património: São Jorge



Nota: Da Agenda "Viver em..." da CMI

Tolentino Mendonça: "É possível que o cheiro de Deus nos leve a Deus?"

Tolentino Mendonça

Cheirar a Deus, tocar Deus, olhar para Deus, ouvir Deus, saborear a Deus. " É possível que o cheiro de Deus nos leve a Deus?", Perguntou-se o poeta português José Tolentino esta tarde . O bibliotecário da Santa Sé fechou o primeiro dia do 75º aniversário da revista Vida Religiosa', pelo mapeamento das emoções e sentimentos do crente, o homem e a mulher espiritual ' não se esqueça dos cinco sentidos.'
Em um belo discurso sobre os sentidos e sensibilidade, em que ele misturou parágrafos bíblicos com tratados sobre biologia, engenharia ou versos de Sofía de Mello ou pensamentos de Pessoa ou Susan Sontag. Música, aromas, proximidade ... Porque para "sentir Deus" é necessário "sentir com Deus" e com o que nos rodeia. "Nós nos tornamos analfabetos emocionais", disse o autor de "O Hipopótamo de Deus" (Narcea) e "Para uma espiritualidade dos sentidos" (Fragmenta).

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sexta-feira, 1 de março de 2019

Georgino Rocha: Ser bom discípulo de Jesus

Georgino Rocha

”As redes sociais favorecem uma comunicação rápida e múltipla com pessoas que estão longe, mas prejudicam a comunicação face-a-face, as conversas serenas que entram nos temas sem pressas. Somos cegos que se deixam guiar por outros cegos” 


Jesus, o mestre da lucidez, continua a instrução dos discípulos na planície da Montanha das Bem-Aventuranças. Prossegue os ensinamentos e as propostas de felicidade, citando exemplos da vida concreta, pois é na realidade do quotidiano que se encontram as sementes do ideal a que todos estamos chamados. Recorre a três breves parábolas bem conhecidas dos ouvintes a que dá um sentido novo: A do cego que guia outro cego; a da trave e do argueiro da vista; e a da árvore e seus frutos. E conclui, centrando o alcance das parábolas no homem bom, “que do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal”, e lembrando que “a boca fala do que transborda do coração”.
O sentido novo faz-nos ver a “cegueira” de quem se reduz ao limite do imediato e do egoísmo; da educação para as aparências e o êxito fácil. A trave e o argueiro indicam medidas que distorcem totalmente a realidade e pretendem definir regras de vida. A árvore, tantas vezes usada nos textos bíblicos, comporta um símbolo de sabedoria, de que se destaca o processo de elaboração do bom fruto.
“Vivemos tempos de incerteza e confusão, afirma a Homilética 2019/1, pag. 79, e em vez de pararmos para ver ou escutar a alguém que nos possa orientar, vamos todos sem saber aonde, nem para onde; sem sabermos onde estão os precipícios. Somos cegos guiados por outros cegos. Aonde vai a sociedade? A economia, a política, a educação, a ecologia…? Aonde vai esta Europa cada vez com mais envelhecidos, sem crianças a nascerem e a negar a entrada a outros povos que nos procuram?” Não faltam sintomas de mal-estar generalizado que reclama outra visão da realidade e mais audácia nas propostas de transformação. A começar pela família e avançando por todos os espaços de convivência e organização social e religiosa.
As novas tecnologias, a par dos enormes benefícios, quantos problemas levantam! Basta lembrar a autodependência “obsessiva” e hipersensível e a comunicação simplificada que despersonaliza.”As redes sociais favorecem uma comunicação rápida e múltipla com pessoas que estão longe, mas prejudicam a comunicação face-a-face, as conversas serenas que entram nos temas sem pressas. Somos cegos que se deixam guiar por outros cegos”. E o articulista conclui: “Hoje há necessidade que os instrumentos técnicos se submetam à sabedoria da experiência”.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Seniores cuidam da Natureza na Praia da Barra


A preservação e defesa do ambiente não olha a idades e a sociedade, no seu todo, deve assumir as suas responsabilidades. Com base neste princípio, a Câmara de Ílhavo promoveu uma tarefa importante, envolvendo a população sénior na plantação de estorno nas dunas da Praia da Barra. O estorno é uma planta apropriada à estabilização do cordão dunar, sendo esta iniciativa uma resposta fundamental à defesa do Ambiente e da Natureza.

A paixão de Jazzinta em novo disco e novo livro

Jazzinta:  momento de uma interpretação

Jazzinta  e Maria Joana Pereira

Maria Manuel e Rui Grácio
No dia 23 de fevereiro, no Hotel Moliceiro, em Aveiro, Jacinta Bola, docente universitária e cantora de Jazz, apresentou o seu mais recente disco e um livro, “Práticas Performativas no Jazz Vocal” – Uma auto etnografia crítico-analítica”. O disco, que afinal não é o tradicional disco, mas uma pen, bem ao gosto dos apreciadores das novas tecnologias, foi produzido por Maria Joana Pereira, manager da artista, e nele se refletem as artes de Jacinta e do músico Paulo Dantas. E o livro, da responsabilidade editorial da Grácio Editor, oferece aos seus leitores a tese de doutoramento da Jacinta, defendida na Universidade do Minho. 
Maria Manuel Baptista, Catedrática da Universidade de Aveiro, no âmbito de Estudos Culturais, apresenta, na Introdução, “reflexões, interrogações e perplexidades de um percurso artístico”, a propósito da paixão de Jazzinta, sua identificação no mundo do jazz. 
No lançamento do disco e do livro, Maria Manuel afirma que assumiu, perante a artista, apenas a tarefa de a ajudar a descobrir a sua paixão, já que, de música, não percebe “rigorosamente nada”. Nessa linha, levou a Jacinta a refletir, no sentido de encontrar o fio condutor de sua motivação, que começou a ganhar corpo e força. 
Depois de se interrogar sobre se o improvisar, fundamental no jazz, “será coisa que se aprende”, Maria Manuel frisou que o trabalho da artista “não é uma tese seca; tem vida”. O livro, adiantou, “é muito interessante”, porque reflete “muita paixão”. “A Jacinta enfrentou um júri muito exigente, que fez muitas perguntas”, às quais “respondeu brilhantemente”. 
Na referida Introdução, Maria Manuel Baptista afirma que a Jazzinta nos conta “uma história de paixão pela arte e pela música em particular”, mas também nos revela “a luta em busca do seu ser artista” e, ainda, “a desilusão e o confronto com a realidade do mercado cultural”. 
No lançamento do livro e do disco, a artista brindou os convidados com algumas interpretações do seu rico reportório, sobressaindo a técnica vocal poderosa que domina com expressão e paixão, enquanto Maria Joana deu conta de projetos e desafios, da seleção das músicas e dos concertos. 
Jacinta Bola confessou no livro que, quando retomou, em 2013, o ensino a tempo integral, a sua técnica vocal “melhorou exponencialmente”, para seu “grande espanto”, concluindo que, “dar aulas, ainda por cima, de canto”, fazia-lhe “bem à voz”. 
Presentemente, Jacinta Bola é professora no curso de música da Universidade Federal do Piauí, Brasil, e faz pesquisas na área de performance e improvisação do jazz vocal. Os seus alunos são, maioritariamente, cantores profissionais. 
O disco contém 12 interpretações de outras tantas composições, de que destacamos Nascente, de Flávio Venturini; Sinhá, de Buarque & Bosco; Bahia, de Ary Barroso; Sonho Mau (Ask me Now), de Tiago Torres da Silva / Monk; Chega de Saudade, de Moraes / Jobim; Chant / Think of One, de Jacinta; Roger Hall / Monk, e Aquele Abraço de Gilberto Gil, entre outras. A produção é de Maria Joana Pereira. Este álbum, denominado Semhora, é dedicado a todas as mulheres que são senhoras, sem hora. 

Fernando Martins 

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