terça-feira, 6 de junho de 2017

A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS



Jean-Pierre Andrieux

A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS é um livro de Jean-Pierre Andrieux, com edição da Âncora Editora. Os patrocínios vieram da Câmara Municipal de Ílhavo e do Museu Marítimo de Ílhavo. 
Jean-Pierre Andrieux é um «Escritor de afetos e colecionador de imagens» que se deixou «arrebatar pela secular presença portuguesa nos grandes bancos, recolhendo fotografias, documentos e testemunhos de viva voz. A sua coleção de fotografias sobre a frota portuguesa e outras que competiram pela pescaria nos grandes bancos da Terra Nova é seguramente a mais extensa e completa que se conhece», garante no Prefácio Álvaro Garrido, Professor da Universidade de Coimbra e Consultor do Museu Marítimo de Ílhavo.  E adianta que o autor é «amigo pessoal de muitos capitães de navios portuguesas», visitando «regularmente Portugal para conviver com eles e para tirar partido da cultura portuguesa cuja gastronomia muito admira».
O livro é essencialmente uma mostra expressiva de fotografias de navios e homens do mar ligados à pesca do bacalhau nos grandes bancos, a preto e branco e legendadas a preceito. O texto, de apenas 22 páginas, está carregado de memórias elucidativas, oferecendo ao leitor uma panorâmica do que foi a Faina Maior e para além dela, com pormenores que deixam o pó do esquecimento para se tornarem vivos no dia a dia dos nossos contemporâneos e dos vindouros. 
Jean-Pierre Andrieux lembra que «Em grande parte do sul da Europa, o bacalhau passou a simbolizar a diferença entre a abundância ou escassez alimentar», mas também conhece e divulga legislação, armadores, navios da pesca à linha e arrastões, cujas características, a traços largos, nos mostram o essencial da frota portuguesa.
Debruçando-me sobre as imagens, constato que traduzem o quotidiano de oficiais e pescadores, cozinheiros e pessoal das máquinas, homens do leme, chegadas e partidas, icebergues, festas e religiosidade, momentos de lazer e de descanso, convívios à mesa e as homenagens aos que faleceram.
A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS é um livro que se apresenta em boa edição,  integrando a "Colecção Novos Mares", dirigida por Álvaro Garrido. Merece, sem dúvida, ser apreciado por toda a gente que transporta na alma o mar, as pescas e as nossas tradições pesqueiras. 

Fernando Martins

É PRECISO DENUNCIAR IDEOLOGIA QUE EXPULSA A ARTE DA ESCOLA


«É "perverso", "merece atenção e denúncia" a "ideologia que se está a querer pôr na escola privada e pública de que a verdadeira educação é ensinar as disciplinas duras", como ciência, tecnologia, inglês e matemática, considera Manuel Pinto, professor catedrático da Universidade do Minho.
Como resultado, "há políticas públicas que procuram escorraçar do centro do ato educativo as dimensões das expressões das artes, da música, da dança", entre outras, bem como "outras componentes da educação que não são necessariamente aulas, e que são campo de expressão dos jovens, em tempos mais livres e menos formatados".»
(...)
«"Mas mais grave do que isto é que os próprios pais estão já marcados por esta ideologia e estão a fazer pressão sobre professores para não darem espaço e não valorizarem esse tipo de coisas", declarou o investigador na 13.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que este sábado debateu, em Fátima, o tema "'Out of the box': A relação dos jovens com a Cultura".»

Fonte: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

segunda-feira, 5 de junho de 2017

PRISÃO DE LUÍS GOMES DE CARVALHO

1823 – 5 de junho


«Por motivos de ordem política, a Câmara Municipal cometeu a iniquidade de prender e mandar sob custódia para o Porto o Engenheiro Luís Gomes de Carvalho, a quem Aveiro ficou a dever os mais assinalados serviços. Presidia então à Câmara o barão de Vila Pouca, Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado, do partido absolutista, o qual nesta cidade possuía um vínculo importante, herdado de sua avó D. Maria José de Carvalho e Nápoles (Marques Gomes, Aveiro – Berço da Liberdade, pgs. 26 e 33 e ss.; Revista de Obras Públicas e Minas, Tomo II, Abril de 1875) – A.»

In "Calendário Histórico de Aveiro"
de António Christo e João Gonçalves Gaspar


Nota: Luís Gomes de Carvalho, genro do Eng. Oudinot, foi um dos principais obreiros da abertura da Barra de Aveiro, no local em que ainda se encontra. Depois de outras tentativas, levadas a cabo por outros tantos engenheiros, foi Luís Gomes de Carvalho quem, no dia 3 de abril de 1808, abriu a porta ao progresso da nossa região. Contudo, as guerras políticas, ontem como hoje, foram capazes de humilhar um homem que tanto deu ao nosso país. 

CRÓNICA DA ILHA TERCEIRA I — JARDIM DUQUE DA TERCEIRA





Crónica de Júlio Cirino

A ilha Terceira, descoberta entre 1444 a 1449, é uma das mais belas regiões de Portugal. A riqueza da sua cultura e tradições é quase desconhecida no resto do país. Por essa razão, faço o convite para que me acompanhe na visita aos locais mais belos que por aqui podemos encontrar. Comecemos a nossa viagem pelo Jardim Duque da Terceira, um dos ex-líbris da cidade de Angra do Heroísmo.
Para além de muita paz, de pombas e alguns melros à espera de comida (quantas vezes dada pela mão inocente de uma criança), de flores multi-cores, de árvores de origem tropical, de pequenos lagos com pimpões e um coreto, existe um telheiro-biblioteca com um armário destinado à leitura de obras editadas em várias línguas que podem ser consultadas, gratuitamente, por quem estiver interessado. Uma curiosidade: os livros são oferecidos pelos leitores. Próximo de um local conhecido por “canto dos gatos”, existe um busto erigido em honra de Almeida Garrett, com a seguinte inscrição:


“Não tive a fortuna de nascer naquele torrão; 
mas a minha pátria; 
mas a de meus pais; 
mas o meu património;
mas tudo quanto constitui a pátria de um homem, 
é a minha saudosa Ilha Terceira, 
um dos mais nobres padrões da glória portuguesa.”

Almeida Garrett

NOTA: 

1. O meu amigo Júlio Cirino aceitou enviar crónicas para o meu blogue, um gesto de partilha que muito agradeço. Sei que todos ficaremos mais ricos pela oportunidade que teremos de apreciar belezas que descobre no seu dia a dia. 
2. Fotos da Wikipédia

domingo, 4 de junho de 2017

PAPA ALERTA PARA DIVISÕES E PEDE UNIDADE NA IGREJA



O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que a Igreja deve rejeitar “coligações e partidos” no seu seio, apelando à unidade dos católicos, sem “posições excludentes”.
“Inflexíveis guardiães do passado ou vanguardistas do futuro, em vez de filhos humildes e agradecidos da Igreja: assim temos a diversidade sem a unidade”, assinalou, na homilia da Missa da Solenidade de Pentecostes, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, que ali acorreram desde as primeiras horas da 
O Papa Francisco alertou ainda para as “maledicências que semeiam cizânia” e “as invejas que envenenam”, defendendo que os homens e mulheres de Igreja devem ser “homens e mulheres 

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Foto da Ecclesia 

O Espírito sopra onde quer

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. O Vaticano II, que foi o Pentecostes do século XX, tentou renovar, descentrar a Igreja e levar os cristãos a serem agentes da transformação da sociedade, segundo critérios de desenvolvimento, de liberdade, de justiça e de paz, em colaboração com todos os seres humanos preocupados em tornar melhor este nosso mundo. Foi a conclusão de muitos movimentos que o precederam, catalisados pela leitura que João XXIII fez dos sinais dos tempos.
~Para as novas gerações isto pode parecer mais antigo do que o Antigo Testamento (AT). Se não tivermos em conta que a sensibilidade eclesial e social muda rapidamente, também não compreenderemos a urgência do Papa Francisco em reinterpretar o Vaticano II no mundo actual, muito diferente dos anos 60 do século passado.
Não podemos esquecer que o movimento cristão começou por se enxertar no mundo judaico, mas também na perspectiva de se enxertar em todos os povos e culturas. É verdade que, nas suas primeiras manifestações, este movimento pensava que o fim estava para breve. Não valia a pena influenciar os destinos das sociedades humanas. Cada pessoa que esperasse o fim, segundo a situação em que se encontrava, casada ou solteira. Era mais importante salvar-se deste mundo do que salvar este mundo.
S. Paulo, na primeira carta aos tessalonicenses, preocupava-se mais em organizar o fim próximo do que em programar o futuro. Foi sol de pouca dura. Ele próprio, na segunda carta, apercebeu-se que se tinha enganado e não tenta elaborar uma nova concepção. Opta por medidas pragmáticas: “Quando estava entre vós já vos tinha dado a seguinte ordem: quem não quiser trabalhar, também não coma. Ora, ouvi dizer que alguns de entre vós levam a vida à toa, muito atarefados a não fazer nada. A estas pessoas, ordeno e exorto, no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem na tranquilidade, para ganhar o pão com o próprio esforço.” [1]
Quando os Actos dos Apóstolos (Act) são escritos, o autor apresenta Jesus Cristo bastante decepcionado: “Estando reunidos, os discípulos interrogaram-no: Senhor, é agora que ides restaurar a casa de Israel? Resposta: Não vos compete conhecer os tempos e os momentos que o Pai reservou em seu poder. Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” [2]
S. Lucas era um artista em compor cenários dinâmicos. Era como se Jesus tivesse dito: Eu acabei, mas a tarefa não. Pelo contrário, alargou o horizonte, mas seria uma energia nova, o Espírito Santo, que levaria os discípulos a realizá-la.

2. No Domingo passado, celebramos uma despedida que o não era. Ocultou-se dos seus olhos numa nuvem. Foi a Festa da Ascensão. Interpretada em termos espaciais, poderia sugerir o que um miúdo me perguntou: foi visitar os extraterrestres? Outros escritos do NT insistem em que Cristo, longe da nossa vista, continua connosco até ao fim dos tempos em toda a nossa vida, mas como um clandestino.
A habilidade de S. Lucas consiste em não querer discípulos pasmados a olhar para o céu, como se a sua missão não fosse a transformação da Terra. Representa, por isso, a diferença que existe entre a Igreja presa do medo e a Igreja sacudida, abalada pelo Espírito. “Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval e encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíam e foram posar sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os impelia.” [3]
Havia uma festa judaica para celebrar o dom da Lei com gente piedosa que vinha de todas as nações. Confusão geral. Como é que cada pessoa ouvia falar aqueles galileus, na sua própria língua? Estão com os copos. Aí, Pedro, em nome do grupo não aguentou. Ainda não é hora para bebedeiras. Está a cumprir-se a profecia de Joel: “Acontecerá, nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar, os vossos jovens terão visões e os vossos velhos hão-de ter sonhos. Em verdade sobre os meus servos e as minhas servas derramarei o meu Espírito.” [4]

3. Se, como vimos, os primeiros cristãos pensavam que o mundo estava a chegar ao fim, os Actos dizem-nos que está tudo a começar. Esta obra deveria chamar-se o Livro das Aventuras do Espírito Santo. Faz tudo às avessas do previsto no judaísmo. O próprio S. Pedro levou tempo a compreender a liberdade de Deus. Quando teve de justificar, perante os circuncisos, o seu comportamento de acolhimento dos gentios, confessa: “Apenas eu começara a falar o Espírito Santo caiu sobre eles, como sobre nós ao princípio. Lembrei-me, então, desta palavra de Senhor: João, dizia ele, baptizou com água, mas vós sereis baptizados com o Espírito Santo. Se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós, que acreditamos no Senhor Jesus Cristo, quem sou eu para me opor a Deus?” [5]
Os sarilhos vão ser mais que muitos e vai ser preciso reunir um Concílio, o primeiro da Igreja cristã, para reconhecer que o Espírito de Deus não faz acepção de pessoas, nem de povos, nem de culturas. É o Espírito da liberdade, do amor universal.
Não é para aqui a leitura de dois mil anos de história das Igrejas cristãs no mundo. No entanto, algo ficou testemunhado nos textos do NT. O caminho do poder de dominação económica, política e religiosa foi o ambicionado pelos discípulos e sempre recusado pelo Mestre. Disse-lhes, expressamente: quem quiser ser o primeiro, ponha-se ao serviço de todos; aqui, reinar é servir. Isto significa que a Igreja não anda para trás quando se confronta com este espelho. O que o Espírito de Cristo lembra a todos os cristãos é simples: o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro só é garantido pela contínua criatividade
Quiseram fazer do Vaticano e das suas Cúrias o lugar do depósito da Fé. Esta não é um depósito, é o caminho do mundo, como Evangelho da Alegria. É sintomático que o Papa Francisco surja, simultaneamente, com um programa de reforma da Cúria e com um programa de Igreja de saída, para todas as periferias. Talvez seja o mesmo.
Perante as novas experiências e expressões do Evangelho, Bergoglio poderá dizer como Pedro: estava eu no meio desses pobres e abandonados e o Espírito Santo caiu sobre eles como um novo Pentecostes. Quem sou eu para dizer que Deus é só para os que têm assento nos lugares de poder da Igreja?

[1] Cf. 2 Ts 3, 10-12
[2] Cf Act 1, 6-8
[3] Act 2, 1-4
[4] Act 4, 16-19
[5] Act 10-11

NASCER TODAS AS MANHÃS


«Apesar da idade, não me acostumar à vida. Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. Esquecer em cada poente o do dia anterior. Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória. Nascer todas as manhãs.» 

Miguel Torga, 
in "Diário (1982)"

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