Crónica de Frei Bento Domingues
no PÚBLICO
1. O dia 25 de Dezembro não celebra o aniversário histórico do nascimento de Jesus de Nazaré. A Igreja de Roma fixou esta data como réplica pastoral à festa solar pagã do Natalis Invicti, festa de inverno no hemisfério norte. Foi uma bela astúcia. Procurava destronar a heliolatria, o culto do sol, pela celebração do nascimento de Jesus Cristo, o verdadeiro Sol Invencível, a luz da justiça e da graça. Se o Natal é decisão romana, a Epifania, a 6 de Janeiro, é de origem oriental: celebram ambas a mesma realidade, a manifestação do Deus humanado.
A linguagem das Escrituras e da Liturgia não caiu do Céu. Para fazer entender a novidade cristã foram transpostas, muitas vezes, imagens e festas pagãs para o universo católico. Onde hoje alguns podem julgar que houve uma paganização do Cristianismo, outros vêem, nesse esforço, a sua cristianização. A este propósito, as descrições que Epifânio de Salamina[i] fez da festa pagã, de tipo solar, ajudam-nos a perceber os discernimentos que foram necessários para entender a nossa festa de 6 de Janeiro.