Crónica de Anselmo Borges
«Estou convencido
de que o desconhecimento da Bíblia
de que o desconhecimento da Bíblia
e a proibição da sua leitura
foram uma das causas
do atraso cultural de Portugal.»
do atraso cultural de Portugal.»
1 "A Bíblia é o poema colectivo mais longo criado até agora pela humanidade. Nele se espelham as várias batalhas que os homens engendram na sua demanda pelo amor absoluto. Não admira que a literatura ocidental nele tenha encontrado os seus modelos de narração amorosa mais fortes e que os seus mitos continuem a servir de moldura para o pensamento em torno da liberdade e da paz" (Lídia Jorge).
Ernst Bloch, marxista heterodoxo e ateu religioso, ainda na antiga República Democrática Alemã, dizia nas suas aulas, para escândalo do governo comunista, que os nazis, ao recusarem a Bíblia, já "não puderam compreender a cultura alemã". De facto, sem a Bíblia, não podemos compreender os cânticos de Natal, da Páscoa, costumes populares..., não conseguimos entender o gótico, a Idade Média, Dante, Rembrandt, Händel, Bach... "Sim, sem a Bíblia, o que é que ainda podemos compreender?" Sem a Bíblia, não entendemos a Missa Solemnis de Beethoven, um requiem, "garnichts" (nada mesmo).
Como entender os ideais da Revolução Francesa? Karl Marx, exilado, levou consigo a Bíblia. Bertolt Brecht encontrava inspiração na Bíblia. No século XIX, não havia analfabetos na Noruega e a razão é que as mães liam a Bíblia e uma mãe que sabe ler não permite que os filhos fiquem analfabetos...
Entretanto, a gente pasma, quando lê que, em 1713, o papa Clemente XI, na Constituição "Unigenitus Dei Filius", declarou serem falsas afirmações como: "A leitura da Sagrada Escritura é para todos", "é útil e necessário" todos terem acesso ao estudo e conhecimento da Bíblia.
Estou convencido de que o desconhecimento da Bíblia e a proibição da sua leitura foram uma das causas do atraso cultural de Portugal.